O presidente da França, Emmanuel Macron em transmissão ao vivo (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 17 de junho de 2024 às 10h45.
Última atualização em 17 de junho de 2024 às 10h47.
A França iniciou nesta segunda-feira, 17, a campanha das eleições legislativas antecipadas pelo presidente Emmanuel Macron, com o objetivo de travar a extrema-direita em posição de força, mas que pode resultar em um desastre para sua aliança de centro.
Macron surpreendeu o país com a antecipação das eleições, apenas uma hora após o fechamento dos locais de votação, em 9 de junho, das eleições para o Parlamento Europeu, nas quais o partido de ultradireita Reagrupamento Nacional (RN) recebeu 31,37% dos votos na França.
As primeiras pesquisas sobre as legislativas de 30 de junho e 7 de julho mostram o RN com quase 30% das intenções de voto, seguido pela coalizão de esquerda Nova Frente Popular (25%) e pela aliança centrista de Macron (20%).
As pesquisas apontam um cenário incerto, com um reequilíbrio dos três blocos que surgiram nas eleições de 2022, o que poderá levar o presidente, cujo mandato termina em 2027, a ser obrigado a dividir o poder com um governo de outra tendência política.
Diante da perspectiva de chegada ao poder do RN, que apresenta o popular Jordan Bardella como seu candidato ao cargo de primeiro-ministro, dezenas de milhares de pessoas falaram sobre as eleições no fim de semana e estrelas do esporte fizeram um apelo aos jovens para que votem.
"Apelo aos jovens para que vão votar. Vemos que os extremismos estão às portas do poder, temos a oportunidade de decidir o futuro do nosso país", declarou no domingo o astro Kylian Mbappé na Alemanha, onde a seleção francesa disputa a Eurocopa.
Com a possibilidade de vitória cada vez mais próxima, o RN tenta tranquilizar os eleitores. "Não é necessário ter medo. Nosso partido é como qualquer outro (...) As pessoas não devem acreditar que tudo vai desmoronar", declarou o vice-presidente da legenda, Sébastien Chenu.
A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, conseguiu moderar a imagem do partido anti-imigração aos olhos do eleitorado, afastando o RN de sua versão inicial, a Frente Nacional, fundada em 1972 por seu pai, Jean-Marie Le Pen, conhecido pelos comentários racistas e antissemitas.
Para as eleições legislativas antecipadas, ela conseguiu o apoio do presidente do partido Os Republicanos (LR), Éric Ciotti, cuja proposta de "aliança" com o RN provocou um racha no partido que já governou o país com Charles de Gaulle, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.
O medo de um governo de extrema-direita obrigou a oposição de esquerda a superar as divergências e voltar a estabelecer uma aliança com a Nova Frente Popular, que reúne de social-democratas como o ex-presidente François Hollande até candidatos anticapitalistas.
Mas o seu principal desafio é superar a crise aberta com a decisão do partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) de destituir cinco deputados críticos ao líder da legenda, Jean-Luc Mélenchon, e reintegrar um candidato condenado por violência conjugal.
Este último, Adrien Quatennens, renunciou à candidatura, enquanto quatro dos cinco afastados pelo partido decidiram manter suas aspirações contra os novos candidatos da LFI e receberam apoio de aliados socialistas, comunistas e ecologistas.
A aliança centrista de Macron procura posicionar-se como a alternativa contra os "extremos" – em referência ao RN e à LFI – que, segundo o primeiro-ministro Gabriel Attal, representariam um risco de "catástrofe para a economia e os empregos".
Para evitar um colapso eleitoral, a aliança governista "Juntos pela República" apresentou candidaturas em 489 das 577 circunscrições uninominais francesas e alcançaram acordos pontuais de não agressão com candidatos do LR anti-Ciotti.
Os acordos aumentam a incerteza do resultado a duas semanas do primeiro turno das eleições, que também contarão com candidaturas dissidentes na esquerda e 62 candidatos "conjuntos" do RN com o LR pró-Ciotti.