Com vantagem apertada de Biden, Geórgia ordena recontagem dos votos
Com 99% das cédulas apuradas, o democrata Joe Biden tem cerca de 14 mil votos de vantagem. A Geórgia não elege um democrata há quase 30 anos
Carolina Riveira
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 14h04.
Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 14h45.
O resultado oficial das eleições americanas na Geórgia ainda não saiu, mas uma autoridade já determinou nesta quarta-feira, 11, que os votos comecem a ser recontados. O estado tem mais de 99% das cédulas apuradas, com vantagem de cerca de 14.000 votos do democrata Joe Biden contra o presidente Donald Trump.
A vitória nacional de Biden foi consagrada no sábado depois de o democrata vencer na Pensilvânia, e ampliada com o resultado em Nevada. Ainda que a recontagem mude a liderança na Geórgia, que tem 16 votos no colégio eleitoral, Biden segue eleito.
A campanha de Trump entrou com ações para que os votos sejam recontados em outros estados, mesmo em lugares onde Biden teve vantagem mais larga. Trump ainda não reconheceu a derrota, porque considera que houve fraude, embora não tenha apresentado provas.
Raffensperger, que é secretário de Estado na Geórgia, é republicano e apoiou Trump no pleito, mas foi acusado por apoiadores do presidente de ter sido leniente com supostas irregularidades.
Os candidatos republicanos ao Senado, David Perdue e Kelly Loeffler, também afirmaram que o secretário deveria renunciar ao cargo.
Além da disputa presidencial, a Geórgia terá em janeiro um decisivo segundo turno para duas cadeiras no Senado. O resultado definirá se democratas ou republicanos terão maioria. Atualmente, os republicanos têm maioria no Senado e os democratas, na Câmara.
Reviravolta nos votos do Sul republicano
Se confirmado o resultado na Geórgia após a recontagem, Joe Biden se torna o primeiro candidato democrata à Presidência desde Bill Clinton em 1992 a vencer na Geórgia. O estado é tradicionalmente republicano e Donald Trump venceu com folga em 2016 contra Hillary Clinton.
Neste ano, Biden teve vantagem sobretudo entre eleitores negros (que são um terço do eleitorado do estado e que compareçam em grandes números para votar) e nas regiões metropolitanas, como nos condados próximos a Atlanta.
O estado teve um esforço grande dos democratas para registrar eleitores negros e garantir que eles tivessem condições de votar. Eleitores negros na Geórgia e em outros estados do Sul vêm apontando há anos práticas que classificam como "supressão dos votos".
Um dos nomes que ganharam mais notoriedade foi a ativista Stacey Abrams, que é fundadora de organizações para garantir direito ao voto de eleitores negros e minorias.
Na eleição para o governo da Geórgia em 2018, Abrams perdeu para o republicano Brian Kemp por cerca de 55.000 votos. Naquele pleito, mais de 53.000 inscrições de eleitores, a maioria negros, ficaram em suspenso por diferenças entre os nomes em seus documentos e o dos registros eleitorais (às vezes por uma abreviação ou pela falta de um hífen).
Nesta eleição, Abrams e correligionários democratas no estado foram responsáveis por ajudar a registrar mais de 500.000 eleitores negros na Geórgia que, do contrário, não votariam, e são vistos como grandes responsáveis pela vitória de Biden.
Se confirmada, a vitória na Geórgia pode ser símbolo de uma mudança dramática nos resultados de importantes estados do Sul dos Estados Unidos, tradicionalmente republicano.
Além da Geórgia, o democrata teve o melhor resultado do partido no Arizona em duas décadas e caminha para vencer no estado — onde alguns veículos, como a Associated Press, já lhe confirmam vitória.
Estado do falecido senador republicano e "desafeto" de Trump, John McCain, o Arizona não vota em um democrata desde 1996, também com Bill Clinton, e, antes disso, desde Truman em 1948 e Roosevelt antes dele, nos incomuns tempos da Segunda Guerra Mundial.
Trump seguiu vencendo nos estados fortemente republicanos do Sul, como o Texas, e em estados que estavam em disputa, como a Flórida, que os democratas esperavam ganhar e foi uma das maiores vitórias republicanas nesta eleição.
Ainda assim, mesmo que ganhe com alguma recontagem na Geórgia ou no Arizona, a vitória será por margens muito pequenas para quem um dia já dominou esses estados. Prova de um grande contingente de novos votos democratas.
(Com Estadão Conteúdo)