Abrigados: crianças são 19 mil dos 31.500 civis que fugiram (Omar Sanadiki/Reuters)
EFE
Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 10h40.
Última atualização em 2 de dezembro de 2016 às 10h40.
Genebra - Em torno de 60% dos 31.500 civis que abandonaram seus lares na zona leste de Aleppo, no norte da Síria, nos últimos dias por causa da ofensiva militar do regime de Bashar al Assad são crianças, denunciou nesta sexta-feira o Unicef.
"O Unicef estima que 19 mil dos 31.500 civis que fugiram de Aleppo oriental nos últimos dias são crianças", afirmou em entrevista coletiva o porta-voz do Unicef, Christoph Boulierac.
O pessoal do Unicef na cidade conseguiu conversar com algumas das crianças deslocadas, que lhes transmitiram o horror vivido nos últimos anos sob cerco das forças governamentais.
Aleppo está dividida em duas zonas, a oriental controlada pelos rebeldes da oposição armada e por milicianos do grupo jihadista Frente da Conquista do Levante (antiga Frente al Nusra, ex-braço sírio da Al Qaeda), e a ocidental, sob domínio do regime de Bashar al Assad.
Jens Laerke, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU, informou por sua vez que, desde que começou a última campanha de constantes bombardeios contra a zona leste da cidade, cerca de 31.500 pessoas fugiram de seus lares.
Destes 31.500 foragidos nos últimos dias, 18 mil se refugiaram em Jibreen, uma área controlada pelo regime ao leste da parte oriental sitiada; outros 8.500 em Sheik Maqsud, uma área ao norte controlada pelos curdos; e outros 5 mil são deslocados dentro da área sob sítio.
"É preciso entender que Aleppo oriental está sitiada e rodeada de zonas controladas pelo governo. É por isso que, a grande maioria, se movimentou geograficamente rumo ao leste, para áreas controladas pelo regime", especificou o funcionário da OCHA.
Laerke não deu detalhes de quantos tinham chegado a Aleppo ocidental nos últimos dias, se é que alguém o fez, mas especificou que, de forma acumulada, essa área da cidade abriga 400 mil deslocados.
Além disso, o porta-voz disse que o pessoal da ONU na cidade está conseguindo atender às pessoas refugiadas em Jibreen, mas não na região sob controle curdo, "aparentemente por problemas de segurança".
O representante da OCHA denunciou que há relatos de funcionários no terreno de que alguns jovens e homens que teriam chegado a áreas sob controle governamental, vindos da zona sitiada, teriam sido detidos sob suspeita de colaboração com os rebeldes, enquanto outros tiveram seus documentos apreendidos.
Ontem, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, denunciou esses mesmos fatos e assegurou que uma das tarefas do pessoal da ONU no terreno seria tentar evitar que isto ocorresse.
Laerke também reiterou as denúncias de que algumas pessoas que tentavam deixar as áreas rebeldes teriam sido assassinadas para evitar que o fizessem.
Ao ser perguntado sobre a proposta russa de estabelecer quatro corredores humanitários pelos quais seria possível evacuar doentes e feridos da zona oriental, e entregar assistência vital, Laerke disse que isto "estava sendo discutido".
"Qualquer uso de um corredor humanitário deve ser feito com as garantias de segurança de todas as partes. Estamos trabalhando nisso", disse o porta-voz, que se recusou a fazer mais comentários a respeito.