Mundo

Desempenho de Biden em debate com Trump divide democratas: 'doloroso', 'desastre' e 'ótimo trabalho'

Campanha do presidente reagiu ao encontro com o candidato republicano com otimismo, enquanto dirigentes e assessores do partido propuseram até mesmo uma troca de candidato

Joe Biden e Jill Biden em evento pós-debate, organizado pela campanha democrata em Atlanta  (Mandel Ngan/AFP)

Joe Biden e Jill Biden em evento pós-debate, organizado pela campanha democrata em Atlanta (Mandel Ngan/AFP)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 28 de junho de 2024 às 13h51.

Tudo sobreEleições EUA 2024
Saiba mais

O presidente dos EUA, Joe Biden, foi recebido com empolgação por apoiadores em um evento pós-debate organizado pelo Partido Democrata em Atlanta, na madrugada desta sexta-feira. Apesar da fragilidade e fraqueza demonstrada por Biden diante das câmeras no primeiro confronto direto com Donald Trump, os eleitores reunidos no evento democrata agiram como se o desempenho de Biden tivesse sido um sucesso — um sentimento oposto ao dos democratas em outras partes do país, que apelam até mesmo para a substituição do candidato.

Biden foi recebido com música alta, aplausos e cânticos. Antes de sua chegada, um DJ animava os apoiadores do partido. As TVs que transmitiram o debate foram desligadas, sem reverberar os muitos questionamentos de analistas sobre o desempenho do candidato.

O clima de otimismo era avesso ao encontrado entre os democratas de outras partes do país. Em Washington e em outros centros, alguns democratas poderosos levantaram preocupações sobre o desempenho hesitante de Biden. Van Jones, ex-assessor de Barack Obama e comentarista político da CNN, afirmou assim que encerrado o debate que o desempenho do presidente foi "doloroso" e sugeriu a troca de sua candidatura.

— Eu amo Joe Biden. Trabalhei para Joe Biden. Ele não se saiu nada bem. (...) Ele está fazendo o melhor que pode. Mas ele tinha um teste para realizar esta noite para restaurar a confiança do país e da base. E ele falhou em fazer isso — disse Jones. — Acho que muitas pessoas vão querer vê-lo considerar um curso diferente agora. Ainda estamos longe de nossa convenção e há tempo para este partido descobrir um caminho diferente a seguir, se ele nos permitir fazer isso.

O comentário de Jones estava mais alinhado à reação pós-debate do que a euforia do evento promovido pela campanha de Biden em Atlanta. Entre os colunistas do jornal americano New York Times, a opinião quase unânime é de que o atual presidente em exercício deve se retirar da disputa e abrir espaço para um novo candidato — ou ao menos que enfrentará uma forte pressão do partido para tal.

Thomas L. Friedman, um dos analistas políticos mais influentes e com acessos ao Partido Democrata no país, escreveu um artigo com uma mensagem clara desde o título: "Joe Biden é um bom homem e um bom presidente. Ele deve sair da disputa". Friedman classificou o debate como "o momento mais doloroso da campanha presidencial americana" em seu tempo de vida, declarando que Biden não tem "nada a ver" com a reeleição.

"A família Biden e a equipe política devem se reunir rapidamente e ter as conversas mais difíceis com o presidente, uma conversa de amor, clareza e determinação. Para dar à América a maior oportunidade possível de dissuadir a ameaça de Trump em Novembro, o presidente tem de se apresentar e declarar que não irá concorrer à reeleição e que irá libertar todos os seus delegados para a Convenção Nacional Democrata", argumentou.

Levando em consideração o que se passou em Atlanta, a família Biden e seu staff imediato não demonstraram estar abertos a uma desistência. Biden foi recebido no palco pela esposa, Jill Biden, que o parabenizou pelo "ótimo trabalho", afirmando que ele "respondeu a todas as perguntas" e "sabia todos os fatos".

Ainda durante a repercussão do debate, na rede americana CNN, a vice-presidente Kamala Harris também se apresentou para defender o aliado. Ela admitiu que o Biden teve um "começo lento", mas destacou o "final forte" do presidente.

— As pessoas podem debater sobre pontos de estilo, mas, no final das contas, esta eleição e quem será o presidente dos EUA tem que ser sobre o desempenho e o contraste é claro — disse Kamala.

falar sobre a atuação de Trump, que aproveitou-se do formato do debate para apresentar sua narrativa sobre uma série de temas, nem sempre baseados em fatos.

— Não consigo pensar em nada que ele tenha dito que fosse verdade — disse Biden. — Vamos vencer esse cara. Precisamos vencer esse cara e preciso de você para vencê-lo.

Frank Bruni, professor de jornalismo e políticas públicas na Universidade Duke, afirmou que apesar de Trump mentir "de forma incessante, extravagante e descarada", o desempenho de Biden foi tão abaixo que fez com que as ações do republicano ficaram em segundo plano.

"Essa deveria ter sido a principal, talvez até a única, história do debate, e deveria tê-lo tornado uma presa fácil para o seu oponente. Mas o presidente Biden não conseguiu tirar vantagem disso. Ele parecia – não há como evitar isso – incapaz de fazê-lo. E essa é a sua grande história, que só crescerá nas próximas horas e dias", escreveu Bruni, em texto opinativo para o New York Times.

Para a mesma publicação americana, Patrick Healy, vice-chefe da seção de opinião, revelou ter ouvido de três democratas veteranos de campanhas presidenciais que o desempenho de Biden foi "um desastre".

"No final do debate, ouvi um nível de ansiedade e alarme daqueles democratas e de vários outros líderes e agentes partidários que nunca tinha visto em 20 anos de cobertura da política presidencial. A discussão voltou-se diretamente para a necessidade de o Partido Democrata substituir Biden como candidato para 2024, faltando quatro meses para as eleições, e como fazer isso acontecer", escreveu Healy.

Por hora, as insatisfações não têm efeito prático. A considerar pelo evento de campanha pós-debate, Biden não tem intenção de deixar o páreo e liberar a candidatura de alguém mais jovem. Além do compromisso com os doadores da campanha democrata, o presidente conta também com o respaldo de líderes importantes dentro do partido.

Logo após o debate, o governador da Califórnia, Garvin Newsom, rejeitou as críticas a Biden e rejeitou apelos para substituí-lo na disputa presidencial.

— Nunca darei as costas ao presidente Biden. Nunca darei as costas ao presidente Biden. Não conheço um democrata no meu partido que o fizesse — disse ele quando questionado sobre um clamor de democratas possivelmente abertos a substituir Biden como o candidato do partido.

Acompanhe tudo sobre:Joe BidenEstados Unidos (EUA)Eleições EUA 2024Eleições americanas

Mais de Mundo

Número de detidos por golpe de Estado fracassado na Bolívia sobe para 21

Após debate contra Trump, apostas em site crescem pelo governador da Califórnia

Museu em Amsterdã devolverá pintura de Matisse a família judia perseguida na Segunda Guerra Mundial

Bruce Ackerman: A eleição do Irã pode trazer paz duradoura no Oriente Médio

Mais na Exame