Benjamin Netanyahu: Primeiro-ministro de Israel critica Unesco de ser anti-israelense (Ronen Zvulun/Reuters)
AFP
Publicado em 12 de outubro de 2017 às 15h20.
Os Estados Unidos e Israel anunciaram, nesta quinta-feira (12), a sua decisão de retirar-se da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), acusando-a de ser anti-israelense, o que provocou críticas na instituição.
Após vários anos de tensões com esta agência da ONU com sede em Paris e atualmente em processo de eleição de um novo diretor-geral, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert anunciou que Washington prevê deixar a organização.
"Essa decisão não foi tomada rapidamente e reflete a preocupação dos Estados Unidos com os crescentes atrasos nos pagamentos (das contribuições) à Unesco, a necessidade de uma reforma fundamental na organização e o contínuo preconceito contra Israel", disse Nauert.
A saída dos EUA será efetivada em 31 de dezembro de 2018, de acordo com as normas constitutivas da Unesco, completa o texto.
Pouco depois de Washington, Israel indicou que também vai abandonar a instituição, que qualificou de "teatro do absurdo, onde se deforma a história, em vez de preservá-la".
"Entramos em uma nova era das Nações Unidas: a que, quando se discriminar Israel, terá que assumir as consequências", afirmou o embaixador israelense na ONU, Danny Danon.
No início de julho, os Estados Unidos haviam advertido que analisavam seus vínculos com a Unesco, chamando de "uma afronta à história" a sua decisão de declarar a antiga cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, uma "zona protegida" do patrimônio mundial.
Na ocasião, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que esta iniciativa "desacreditava ainda mais uma agência da ONU já altamente discutível".
Os Estados Unidos já deixaram a Unesco entre 1984 e 2003 e suspenderam sua contribuição financeira em 2011, após a admissão da Palestina como um Estado-membro.
A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, afirmou nesta quinta "lamentar profundamente" a decisão dos Estados Unidos.
"Lamento profundamente a decisão dos Estados Unidos, cuja notificação oficial foi enviada pelo secretário de Estado Rex Tillerson", escreveu em um comunicado.
"A universalidade é essencial para a missão da Unesco de construir a paz e a segurança internacionais em face do ódio e da violência, através da defesa dos direitos humanos e da dignidade humana", afirmou Bokova.
"É uma perda para a família das Nações Unidas. É uma perda para o multilateralismo", ressaltou a diretora.
Em sua declaração, Bokova lista uma série de medidas adotadas pela Unesco em parceria com os Estados Unidos contra o antissemitismo.
"Juntos, trabalhamos com o falecido Samuel Pisar, embaixador honorário e enviado especial para a educação do Holocausto, a fim de compartilhar a história do Holocausto para lutar contra o antissemitismo e na prevenção dos genocídios, com o Canal Unesco para a educação sobre o genocídio na Universidade da Califórnia e com programas de alfabetização na Universidade da Pensilvânia".
A essas reprovações, somaram-se a França - onde está a sede da Unesco - e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que lembrou "o destacado papel dos Estados Unidos na Unesco desde sua fundação", em 1946.
Os anúncios de Estados Unidos e Israel chegam em meio à decisiva eleição do sucessor de Irina Bokova.
Os 58 países-membros do conselho executivo vão decidir nesta noite dois finalistas, ou até memso o próximo dirigente da organização.
O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco inscreveu, em julho, a Cidade Velha de Hebron como um sítio "de valor universal excepcional". Também colocou esta cidade, localizada nos territórios palestinos, na lista de patrimônios em perigo.
Hebron é o lar de 200 mil palestinos e centenas de colonos israelenses, que estão entrincheirados em um enclave protegido por soldados israelenses perto do local sagrado que os judeus chamam de o túmulo dos Patriarcas e os muçulmanos de Mesquita de Ibrahim.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descreveu a decisão da Unesco como "delirante".
Poucos meses antes, a Unesco havia identificado Israel como uma força de ocupação em Jerusalém.