Delegações sírias chegam a Genebra para tentar novas negociações
Diferente das 3 sessões realizadas em fevereiro, março e abril de 2016, a expectativa é que desta vez os rivais e os governamentais entrem em acordo
AFP
Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 13h25.
As delegações dos dois grupos rivais na Síria chegaram nesta quarta-feira a Genebra, onde deve ser realizada uma nova rodada de negociações mediadas pela ONU para tentar acabar com seis anos de conflito.
O embaixador da Síria nas Nações Unidas, Bashar al-Jaafari, liderará a delegação governamental, enquanto o cardiologista Nasr al-Hariri e o advogado Mohamed Sabra representam o Alto Comitê de Negociações (ACN), que reúne grupos chave da oposição.
O coordenador das negociações que começam nesta quinta-feira será o emissário especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, diplomata com grande experiência em missões difíceis.
Diferentemente das três sessões anteriores, realizadas em fevereiro, março e abril de 2016, De Mistura espera que desta vez os dois grupos aceitem negociar frente a frente.
A situação em terra na Síria, no entanto, mudou em relação à última vez em que as duas delegações se encontraram: o regime de Damasco, apoiado por seus aliados russo e iraniano, retomou Aleppo, reduto da insurreição no norte do país, e a oposição controla neste momento apenas 13% do território, segundo várias estimativas.
Inclusive a Turquia, apoio durante um longo tempo da oposição, parece ter moderado sua posição e se aproximou de Moscou.
Os Estados Unidos, outro apoio da rebelião, parecem hesitar sobre a política a seguir na Síria desde a chegada de Donald Trump.
Transição política
Apesar de comparecer debilitada, a oposição mantém, no entanto, suas exigências sobre uma suspensão efetiva das hostilidades e uma "transição política" que implique a saída do presidente Bashar al-Assad.
"Os obstáculos são claros, especialmente no fato de que não há nenhuma consolidação do cessar-fogo", declarou Yahya Aridi, um dos assessores do ACN.
Rússia, Turquia e Irã conseguiram no fim de dezembro impor uma trégua que, apesar das violações reiteradas do cessar-fogo, permitiu reduzir a intensidade dos combates na Síria.
Apesar disso, há vários dias as forças governamentais bombardeiam as posições rebeldes perto de Damasco e na província de Homs (centro).
A oposição denuncia uma "mensagem sangrenta" destinada a sabotar as negociações.
A saída do poder de Assad continua sendo o principal obstáculo para o acordo entre os dois grupos. O regime está disposto a aceitar eleições quando a paz voltar, mas descarta a retirada do chefe de Estado, cuja permanência à frente do governo está fora de discussão.
Para o governo, "é Assad ou ninguém", insiste Aridi. "Esta regra de 'tudo ou nada' impede qualquer vislumbre de solução pacífica".
A Turquia, apoio inabalável da oposição, declarou no mês passado que buscar uma solução excluindo o presidente sírio não era realista.
E a oposição tem a impressão de estar pisando em ovos com a nova administração americana.
"A posição do presidente (Donald) Trump sobre a Síria e o Oriente Médio ainda não é muito clara", lamentou o porta-voz do ACN, Ahmed Ramadan.
Uma fonte diplomática americana reiterou nesta quarta-feira que "os Estados Unidos seguem comprometidos na busca de uma solução política para o conflito na Síria".
Ramadan quer acreditar que ainda é possível que o chefe de Estado sírio saia antes da realização de eleições sob os auspícios da ONU.
"Esta sessão estará centrada unicamente no processo político. Existe uma possibilidade de avançar se houver uma verdadeira interação entre a ONU e os países envolvidos no processo", afirma Ramadan aos jornalistas em Genebra.
"Inclusive os russos nos garantiram nas últimas negociações que não estão preocupados com o futuro de Bashar al-Assad, mas pelo da Síria e do futuro Estado Sírio", conclui.