Da Rússia à Europa: conflito entre turcos e curdos escala
Apoio da Rússia e da Síria a tropas curdas e novas sanções impostas pela Europa isolam ainda mais presidente turco Recep Erdogan
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2019 às 06h19.
Última atualização em 14 de outubro de 2019 às 06h59.
As atenções da política internacional tendem a se voltar da guerra comercial entre China e Estados Unidos para a ofensiva turca na Síria esta semana. Na interminável guerra comercial, o maior evento dos próximos dias é a não entrada em vigor de uma nova leva de tarifas prometida por Donald Trump sobre os chineses.
Como parte de um acordo temporário anunciado na sexta-feira, que impulsionou as bolsas mundo afora, a China vai comprar entre 40 e 50 bilhões de dólares em commodities agrícolas e produtos americanos. Concordou ainda em concessões em propriedade intelectual e serviços financeiros.
A expectativa é que os dois países assinem um cessar-fogo em novembro. Seria um alívio, mas não impediria a economia internacional de fechar 2019 com um crescimento decepcionante abaixo dos 3%, como devem deixar claro dados de PIB global a serem divulgados esta semana pelo Fundo Monetário Internacional.
A nova leva de impactos sobre a economia global deve vir de outra guerra, desta vez para valer, entre a Turquia e as tropas curdas na Síria. O confronto começou semana passada, depois que Donald Trump anunciou uma intempestiva retirada das tropas americanas da Síria. Foi a deixa para uma invasão unilateral da Turquia — e o início de uma nova onda de discussões político-econômicas na Europa e no Oriente Médio.
O conflito pode desalojar centenas de milhares de pessoas em direção ao Iraque e interferir no preço internacional do petróleo. O conflito pode ainda escalar após a assinatura, neste domingo, de um acordo entre as forças curdas, o exército sírio e a Rússia para retomar as áreas invadidas. É mais um capítulo de uma disputa antiga: o presidente russo, Vladimir Putin, e o turco, Recep Erdogan, vêm há dois anos usando a síria como palco de uma disputa maior por ego e influência no Oriente Médio.
Nesta segunda-feira, ministros da União Europeia devem debater uma proposta da Suécia de um embargo à venda de armas para a Turquia, seguindo medidas unilaterais de países como Alemanha, França ou Itália. Os Estados Unidos podem ainda impor sanções econômicas nos próximos dias. Aconteça o que acontecer, dois estragos são irremediáveis: há relatos de liberação às pressas de dezenas de terroristas do Isis pelas tropas americanas, além da volta do massacre de civis.