Crise de Arábia Saudita e Irã ameaça processo de paz sírio
O reino do Bahrein, um fiel aliado do vizinho saudita, e o Sudão, também romperam relações com o Irã
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2016 às 16h52.
A crise entre a Arábia Saudita e o Irã, dois dos protagonistas do conflito sírio, ameaça a continuidade do frágil processo iniciado trabalhosamente pela comunidade internacional para tentar encontrar uma solução política para esta guerra.
"O conflito árabe-israelense terá, sem dúvida, um impacto negativo" no processo, lamentou nesta segunda-feira Samir Nashar, membro da oposição síria no exílio. As conversações entre representantes do regime e da oposição síria, sob os auspícios da ONU, previstas para o final de janeiro em Genebra, já eram por si só hipotéticas.
"Já se anunciavam difíceis, quase impossíveis, e o conflito entre a Arábia Saudita e o Irã endurecerá as posições", acrescentou, em declarações à AFP, este encarregado da Coalizão Nacional Síria.
A crise entre a monarquia sunita e a República Islâmica xiita eclodiu neste fim de semana, após a execução na Arábia Saudita de Nimr el Nimr, um clérigo xiita, crítico do regime saudita.
Sua morte gerou indignação na comunidade xiita e no Irã, a embaixada saudita foi atacada por manifestantes.
Em resposta, Riad anunciou a ruptura das relações diplomáticas com Teerã.
O reino do Bahrein, um fiel aliado do vizinho saudita, e o Sudão, também romperam relações com o Irã.
Esta escalada é o ponto culminante de uma crise entre os dois grandes rivais persa e árabe, que competem pela liderança regional há anos, intervindo em guerras, como a do Iraque, do Líbano e do Iêmen - onde Riad está diretamente envolvido militarmente contra os rebeldes xiitas huthis apoiados por Teerã - e, obviamente, na Síria.
Neste país, Teerã apoia o regime de Bashar al Assad e deslocou milhares de "conselheiros militares" no terreno, enquanto Riad prometeu a queda do presidente sírio e apoia financeira e militarmente grupos rebeldes, principalmente salafistas.
Crise complexa
Nesta crise por si só complexa, tanto pelo número de atores envolvidos quanto pelos diferentes interesses de cada um, "a rivalidade iraniana-saudita foi um dos motores desde o princípio" e sua intensificação pode afetar os esforços na busca de uma solução política, avalia Yezid Sayigh, do centro de reflexão Carnegie Middle East Center.
A crise entre Riad e Teerã "apaga alguns dos progressos feitos durante as últimas semanas para conseguir que Arábia Saudita, Irã e seus parceiros mantenham diálogos diretos", avalia o centro nova-iorquino de reflexão, Soufan Group.
Todos os atores envolvidos no conflito sírio - apoios árabes e ocidentais da oposição de um lado, aliados russos e iranianos de Damasco do outro - se sentaram pela primeira vez em torno de uma mesma mesa de negociações durante as duas reuniões internacionais em outubro e novembro do ano passado em Viena.
Nos dois encontros, os diplomatas ocidentais puderam constatar como é profunda a desconfiança entre sauditas e iranianos.
Eles evocam, por exemplo, uma discussão intensa entre o chefe da diplomacia iraniana, Mohamad Javad Zarif, e seu colega saudita, Adel al Jubeir, sobre a definição do termo "terroristas".
"Mas pelo menos se falam!", disse, otimista, uma destas fontes. Mas isto foi antes do rompimento das relações diplomáticas.
As negociações em Viena desembocaram, pela primeira vez em quase cinco anos de um conflito que deixou mais de 250.000 mortos, na redação de um mapa do caminho internacional para a Síria, adotado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU em 19 de dezembro.
Este mapa do caminho prevê negociações inter-sírias em janeiro, um governo de transição nos próximos seis meses e eleições em 18 meses.
"Tínhamos feito progressos com este retorno à mesa (de negociações) de todos os protagonistas e a resolução da ONU marcava o compromisso da comunidade internacional. É crucial que as negociações se mantenham, mas o processo se fragilizou", avaliou, preocupada, uma fonte ligada ao dossiê.
Para o pesquisador Karim Bitar, que trabalha em Paris, "esta escalada complicará ainda mais qualquer perspectiva de avanço na Síria, duas semanas depois da morte de Zahran Allush", um poderoso líder rebelde, apoiado por Riad, que tinha aceito o princípio de negociações inter-sírias, morto em um bombardeio reivindicado pelo regime sírio.
Tanto Washington, quanto Paris, Roma e Berlim têm pedido calma ao Irã e à Arábia Saudita.
"Não há dúvida de que as crises (na Síria e no Iêmen), assim como outras, só podem ser resolvidas se a Arábia Saudita, potência sunita, e o Irã, xiita, estiverem dispostas a dar um passo uma em direção à outra", resumiu Berlim na terça-feira.
A crise entre a Arábia Saudita e o Irã, dois dos protagonistas do conflito sírio, ameaça a continuidade do frágil processo iniciado trabalhosamente pela comunidade internacional para tentar encontrar uma solução política para esta guerra.
"O conflito árabe-israelense terá, sem dúvida, um impacto negativo" no processo, lamentou nesta segunda-feira Samir Nashar, membro da oposição síria no exílio. As conversações entre representantes do regime e da oposição síria, sob os auspícios da ONU, previstas para o final de janeiro em Genebra, já eram por si só hipotéticas.
"Já se anunciavam difíceis, quase impossíveis, e o conflito entre a Arábia Saudita e o Irã endurecerá as posições", acrescentou, em declarações à AFP, este encarregado da Coalizão Nacional Síria.
A crise entre a monarquia sunita e a República Islâmica xiita eclodiu neste fim de semana, após a execução na Arábia Saudita de Nimr el Nimr, um clérigo xiita, crítico do regime saudita.
Sua morte gerou indignação na comunidade xiita e no Irã, a embaixada saudita foi atacada por manifestantes.
Em resposta, Riad anunciou a ruptura das relações diplomáticas com Teerã.
O reino do Bahrein, um fiel aliado do vizinho saudita, e o Sudão, também romperam relações com o Irã.
Esta escalada é o ponto culminante de uma crise entre os dois grandes rivais persa e árabe, que competem pela liderança regional há anos, intervindo em guerras, como a do Iraque, do Líbano e do Iêmen - onde Riad está diretamente envolvido militarmente contra os rebeldes xiitas huthis apoiados por Teerã - e, obviamente, na Síria.
Neste país, Teerã apoia o regime de Bashar al Assad e deslocou milhares de "conselheiros militares" no terreno, enquanto Riad prometeu a queda do presidente sírio e apoia financeira e militarmente grupos rebeldes, principalmente salafistas.
Crise complexa
Nesta crise por si só complexa, tanto pelo número de atores envolvidos quanto pelos diferentes interesses de cada um, "a rivalidade iraniana-saudita foi um dos motores desde o princípio" e sua intensificação pode afetar os esforços na busca de uma solução política, avalia Yezid Sayigh, do centro de reflexão Carnegie Middle East Center.
A crise entre Riad e Teerã "apaga alguns dos progressos feitos durante as últimas semanas para conseguir que Arábia Saudita, Irã e seus parceiros mantenham diálogos diretos", avalia o centro nova-iorquino de reflexão, Soufan Group.
Todos os atores envolvidos no conflito sírio - apoios árabes e ocidentais da oposição de um lado, aliados russos e iranianos de Damasco do outro - se sentaram pela primeira vez em torno de uma mesma mesa de negociações durante as duas reuniões internacionais em outubro e novembro do ano passado em Viena.
Nos dois encontros, os diplomatas ocidentais puderam constatar como é profunda a desconfiança entre sauditas e iranianos.
Eles evocam, por exemplo, uma discussão intensa entre o chefe da diplomacia iraniana, Mohamad Javad Zarif, e seu colega saudita, Adel al Jubeir, sobre a definição do termo "terroristas".
"Mas pelo menos se falam!", disse, otimista, uma destas fontes. Mas isto foi antes do rompimento das relações diplomáticas.
As negociações em Viena desembocaram, pela primeira vez em quase cinco anos de um conflito que deixou mais de 250.000 mortos, na redação de um mapa do caminho internacional para a Síria, adotado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU em 19 de dezembro.
Este mapa do caminho prevê negociações inter-sírias em janeiro, um governo de transição nos próximos seis meses e eleições em 18 meses.
"Tínhamos feito progressos com este retorno à mesa (de negociações) de todos os protagonistas e a resolução da ONU marcava o compromisso da comunidade internacional. É crucial que as negociações se mantenham, mas o processo se fragilizou", avaliou, preocupada, uma fonte ligada ao dossiê.
Para o pesquisador Karim Bitar, que trabalha em Paris, "esta escalada complicará ainda mais qualquer perspectiva de avanço na Síria, duas semanas depois da morte de Zahran Allush", um poderoso líder rebelde, apoiado por Riad, que tinha aceito o princípio de negociações inter-sírias, morto em um bombardeio reivindicado pelo regime sírio.
Tanto Washington, quanto Paris, Roma e Berlim têm pedido calma ao Irã e à Arábia Saudita.
"Não há dúvida de que as crises (na Síria e no Iêmen), assim como outras, só podem ser resolvidas se a Arábia Saudita, potência sunita, e o Irã, xiita, estiverem dispostas a dar um passo uma em direção à outra", resumiu Berlim na terça-feira.