Crescem as fazendas verticais nos EUA
A fazenda de Dan Albert não tem nada de tradicional: não há campos pitorescos e amplos, nem tratores revolvendo o solo; não há uma sede branquinha, nem celeiro de paredes vermelhas. Na verdade, não há terra, nem sol. A Farmbox Greens fica dentro de uma garagem para dois carros atrás da casa dele, em Seattle, e […]
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2016 às 12h26.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h59.
A fazenda de Dan Albert não tem nada de tradicional: não há campos pitorescos e amplos, nem tratores revolvendo o solo; não há uma sede branquinha, nem celeiro de paredes vermelhas. Na verdade, não há terra, nem sol. A Farmbox Greens fica dentro de uma garagem para dois carros atrás da casa dele, em Seattle, e consiste em 56 m² de micro plantas cultivadas em bandejas empilhadas verticalmente, sob lâmpadas de LED.
A possibilidade de cultura em espaços tão pequenos é resultado da hidroponia, sistema em que as raízes da planta se desenvolvem em uma água rica em nutrientes, e não no solo. E as micro plantas – versões minúsculas de legumes, verduras e ervas aromáticas – podem cumprir o ciclo de semente à colheita em menos de duas semanas, o que permite à Farmbox Greens concorrer em preço com produtos que vêm de longe.
“Oferecemos opções mais frescas e de vinte a trinta por cento mais duráveis do que as que vêm de fora”, explica Albert, que é sócio da mulher, Lindsay Sidlauskas, na empreitada. Sua receita fica abaixo dos 500.000 dólares, mas o negócio é rentável o bastante para fazer, em 2014, com que Albert desistisse da profissão de paisagista para se dedicar à lavoura em tempo integral. Hoje tem três funcionários e vende para quase 50 restaurantes na área metropolitana de Seattle, uma cadeia local de mercearias e quatro feiras semanais.
“A demanda do consumidor por alimentos cultivados localmente, a queda do preço e a maior eficiência da iluminação de LED estão estimulando a criação de mais fazendas verticais”, afirma Chris Higgins, editor da Urban Ag News, que acompanha esse segmento da agricultura.
O custo da energia ainda é um dos maiores empecilhos ao sucesso, fazendo com que poucas startups nos EUA deem lucro; as que conseguem, são geralmente as menores. E incluem a City-Hydro, montada em um quarto vago no segundo andar da casa de Larry e Zhanna Hountz, em Baltimore. Ele apelou para a agricultura urbana por necessidade: depois de um grave acidente de carro, ficou sem poder sair de casa durante dois anos e passou a ter dificuldade de concentração, ou seja, voltar ao antigo emprego como consultor de segurança digital estava fora de cogitação.
“Zhanna tinha ido ao mercadinho e comprou uns tomates, daqueles de horta caseira, só que custavam tipo 12,60 dólares o quilo. Pensei, ‘Até eu planto tomate assim’.”E transformou o cômodo de 3 m x 4,5 m da casa em uma fazenda vertical, onde cultiva 80 variedades vendidas para mais de dez restaurantes das redondezas. Hountz conta que a operação gera uma renda de 120.000 dólares/ano, mas não tem planos de expansão. “Queremos manter uma coisa pequena mesmo.”
Esse tipo de cultivo não exige pesticidas e usa bem menos água que as fazendas comuns, mas o custo com energia pode ser alto. “Mesmo as melhores lâmpadas de LED têm uma eficiência de apenas 50 por cento”, explica Bruce Bugbee, professor de Fisiologia de Colheita da Universidade Estadual de Utah, que estuda a agricultura em ambientes controlados. Isso significa que metade da eletricidade se converte em calor, e não luz.
“O custo do transporte responde por quatro por cento da energia no sistema alimentar, mas a energia das lâmpadas representa muito mais”, informa.
“A vantagem é que o cultivo em ambiente interno chega a produzir vinte vezes o volume por unidade de área que a versão convencional. Acontece que, conforme essas fazendas vão crescendo, precisam de mais eletricidade, não só para a iluminação, mas para equipamentos como bombas e ventiladores”, revela Gene Giacomelli, diretor do Centro de Agricultura em Ambiente Controlado e professor de Engenharia Agrícola e de Biossistemas na Universidade do Arizona em Tucson.
Um mercado de 11,7 bilhões
Os investimentos em startups de alimentos e tecnologia agrícola foram de 4,6 bilhões de dólares em 2015, quase o dobro do valor do ano anterior, segundo a AgFunder, plataforma de investimento on-line do setor. E de acordo com a empresa de pesquisa de mercado de consumo Packaged Facts, os alimentos plantados localmente geraram 11,7 bilhões de dólares em vendas em 2014, número que deve chegar a 20,2 bilhões de dólares em 2019.
A Edenworks, em Nova York, usa o sistema aquapônico, que permite o cultivo de plantas e peixes ao mesmo tempo, criando um sistema de ambiente interno autorregulador. A tilápia é criada em tanques cuja água é bombeada através de um biorreator, onde as bactérias de compostagem transformam os dejetos em fertilizante. As plantas usam a água fertilizada para se desenvolver e ela volta, pura, para os tanques dos peixes.
“Quando o custo da iluminação de LED caiu, a empresa transformou a estufa em um sistema vertical interno, usando tecido para bloquear a luz, imitando o ambiente do galpão”, conta Jason Green, um dos fundadores e CEO da empresa.
A Edenworks, que não visa lucros, recebeu 1,5 milhão de dólares de verba e pretende montar uma fazenda vertical de 929 m² em um galpão em Nova York, que deve ficar vazio até o final do ano. Green espera produzir 59.000 kg de verduras e 22.680 kg de peixe/ano.
Apesar dos números, o lucro do cultivo aquapônico pode enganar; segundo um estudo de 2015 do Departamento de Agricultura sobre a economia do setor, a criação de peixes em ambiente interno pode ser o dobro ou até o triplo do custo equivalente em lagos ao ar livre.
O esquema também exige trabalho intenso, pois envolve diversos sistemas que exigem constante monitoramento, além da colheita e embalagem. Uma pesquisa entre as operações aquapônicas comerciais de 2013 revelou que menos de trinta por cento tinham dado lucro no ano anterior.
Apesar disso, Green e seus concorrentes estão otimistas em relação ao futuro. David Rosenberg, um dos fundadores e CEO da AeroFarms em Newark, Nova Jersey, diz que, embora seu negócio não dê lucro no momento, aposta que isso vai mudar quando começar a expandir. “É preciso ter economia de escala para dar certo porque assim você pode lidar com uma série de complexidades que fazem parte do sistema”, atesta.
A AeroFarms pretende montar fazendas verticais ao redor do mundo; para tanto, já angariou mais de 70 milhões de dólares. A empresa cultiva verduras pelo sistema aeropônico, umectando as raízes com uma mistura de água, nutrientes e oxigênio. Rosenberg garante que sua fazenda é 75 vezes mais produtiva por metro quadrado que as propriedades convencionais.
E já está montando a próxima operação e sede em uma antiga fundição de 6.500 m² em Newark. “Será a maior fazenda vertical de ambiente interno do mundo”, vibra Rosenberg.
(Eilene Zimmerman/ © 2016 New York Times News Service)