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COP15 chega ao fim com jogada dos EUA

Mesmo com proposta do "bolsa clima" dos países ricos, documento da ONU diz que a temperatura do planeta chegará a três graus Celsius nas próximas décadas, mais do que o limite de segurança

Países mais pobres rezam para que acordo climático seja realizado no último dia de negociações (.)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

A um dia do término das negociações da conferência climática de Copenhague, os Estados Unidos mostraram o seu lado mais talentoso da reunião: o marketing. Logo quando desembarcou na Dinamarca, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, anunciou a proposta de criar um fundo climático com 100 bilhões de dólares anuais destinado aos países mais pobres. À primeira vista, a ideia parecia interessante. Mas, aos poucos, a notícia foi dividindo opiniões de líderes mundiais.

Quem vai financiar esse "bolsa clima"? Quanto será a contribuição de quem sugeriu o fundo? Como ficam os emergentes nessa história? Muitos detalhes do plano ainda continuam encobertos - pelo menos até amanhã, quando o presidente Barack Obama fará um discurso oficial. De qualquer forma, o anúncio de Hillary Clinton atropelou o Senado, responsável por aprovar as decisões do governo norte-americano.

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Essa atitude deixou o deputado republicano Joe Barton furioso, para não citar outra palavra indelicada. Em uma declaração escrita, ele questionou se nos 100 bilhões de dólares do fundo estavam incluídas as taxas que os contribuintes dos Estados Unidos terão de pagar. "Eu acho que quando você está perto do Pólo Norte nesta época do ano, o espírito de caridade influencia", escreveu. "Os diplomatas do Terceiro Mundo poderiam ficar felizes em Copenhague", acrescentou Barton, defensor de que as atividades humanas não são as principais causas das alterações climáticas.

A crítica à proposta do fundo foi endossada pela China, um dos jogadores mais poderosos da cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU). "Entendemos que os Estados Unidos não têm feito muito progresso em seus compromissos", disse o porta-voz da delegação chinesa. Além disso, como medida protecionista, o país rejeitou se submeter à fiscalização internacional de redução de emissão dos gases poluentes. Caso abra as barreiras geopolíticas para a análise de dados públicos, a China terá de explicar algumas incoerências de informações divulgadas por seu governo. Entre elas, a misteriosa diferença entre o volume de produção de carros e o número de consumo de combustíveis.


Para empatar ainda mais as negociações, um documento que vazou da cúpula da ONU revela a insuficiência dos compromissos assumidos até o penúltimo dia de negociações. Caso fosse feito um tratado nas condições atuais, o planeta enfrentaria um aquecimento de cerca de três graus Celsius, bem acima do limite de segurança. "A menos que as partes se comprometam a uma forte ação antes e depois de 2020, as emissões globais permanecerão em um caminho insustentável", diz o texto.

Caso as negociações não avancem nesta sexta-feira, o documento que vazou municiará a revolta dos grupos que pressionam por metas mais ousadas de redução de gases poluentes. Se houver um acordo na situação atual, não importa o quão consistente ele seja, será alvo de críticas de todos os lados. A culpa de um resultado negativo em COP15 nunca será dos países que ficaram duas semanas com o pé atrás e com as mãos atadas. Será do Senado norte-americano, do protecionismo chinês, da revolta dos emergentes...Afinal, nesse jogo de quem pode mais, o que vale mesmo não é morder, mas latir bem alto.

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