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Como numa loteria, paramédicos mexicanos batalham para encontrar leitos

O México já soma 1,5 milhão de casos e cerca de 133.000 mortes. Um novo recorde diário de 14.362 casos confirmados foi registrado na sexta-feira

A Cidade do México, com nove milhões de habitantes e cerca de 18.000 mortes, registra uma ocupação hospitalar de 86% dos leitos gerais e 82% com respiradores (ALFREDO ESTRELLA / AFP/AFP)

A Cidade do México, com nove milhões de habitantes e cerca de 18.000 mortes, registra uma ocupação hospitalar de 86% dos leitos gerais e 82% com respiradores (ALFREDO ESTRELLA / AFP/AFP)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 10 de janeiro de 2021 às 14h35.

O trabalho dos paramédicos mexicanos Humberto Xoyatla e Jesús Carmona se tornou uma loteria: encontrar um leito para os pacientes que recolhem em meio à saturação hospitalar devido à covid-19.

Hoje foi um dia de sorte, pois o homem de 60 anos socorrido com baixíssima oxigenação na cidade de Toluca, 40 km a sudoeste da Cidade do México, já tem uma vaga garantida.

Com roupa de proteção branca, máscara e óculos, os socorristas transportam o paciente, que permanece com o olhar vazio e um pequeno tanque de oxigênio.

Mas nem sempre é assim. Os centros médicos do país estão lotados devido ao aumento de contágios. O México já soma 1,5 milhão de casos e cerca de 133.000 mortes.

Um novo recorde diário de 14.362 casos confirmados foi registrado na sexta-feira.

“Para haver capacidade de resposta [nos hospitais] é preciso ter altas ou mortes. É difícil, mas é a verdade”, diz Ángel Zúñiga, coordenador de socorro da Cruz Vermelha de Toluca, que compara a situação com o videogame Tetris, que consiste em encaixar as peças.

“Um entra e outro sai”, acrescenta Zúñiga, de 45 anos. A busca por leitos é coordenada por meio de um centro de emergências.

Na região metropolitana do Vale do México -que inclui a capital e 18 municípios vizinhos-, 64 dos 78 hospitais estavam em estado "crítico" até a última sexta-feira e apenas seis com disponibilidade de leitos, segundo as autoridades.

A Cidade do México, com nove milhões de habitantes e cerca de 18.000 mortes, registra uma ocupação hospitalar de 86% dos leitos gerais e 82% com respiradores.

Alguns paramédicos dizem que vivem na incerteza de não saber se poderão transferir pacientes.

O problema não é exclusivo do setor público; as clínicas privadas, onde muitos esperam encontrar um lugar, também estão superlotadas e não estão ao alcance para todos.

Alguns desses centros médicos rejeitam pacientes se não deixarem um depósito de 170.000 pesos (cerca de 8.400 dólares), segundo Zúñiga.

Mesmo quando há disponibilidade, a internação de pacientes em hospitais públicos nem sempre é ágil. Às vezes, leva horas, causando desespero entre os paramédicos.

“Chega um ponto em que você sente o desespero de”, afirma Miguel Ángel Moreno, socorrista de 33 anos de Naucalpan, município de Vale do México onde estão 9.200 hospitalizados.

Somando-se ao estresse emocional, está o cansaço e o desconforto de ter que usar uma roupa de proteção por horas.

 Festas de final de ano

Os paramédicos, como outros profissionais da saúde, geralmente fazem um cálculo informal entre quando as pessoas que atendem foram infectadas e o tempo que leva para o vírus incubar. 

Um deles estima que atualmente as pessoas que se reuniram para celebrar o Natal estão adoecendo e que em breve começarão a chegar quem o fez no Ano Novo.

“E essa é uma festa muito mais social!”, adverte antes de receber um paciente com covid-19 que recebeu alta de um hospital próximo que parece lotado.

Zúñiga confia que, superados esses casos, a pandemia cederá um pouco, para o bem dos próprios paramédicos, que, diante do risco contínuo de contágio, mantêm protocolos rígidos.

Quando seus colegas voltam da rua, ele mesmo desinfeta a ambulância e repete o processo passo a passo para retirar o equipamento de proteção.

Comovido, reconhece que toda a sua confiança está na vacina que o governo passou a aplicar aos trabalhadores da saúde no dia 24 de dezembro.

“É uma esperança, acredito que todos nós temos uma esperança muito grande na vacina”, diz ele.

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