Com violência na pauta, centro-direita é favorita no Uruguai
Todas as pesquisas dão vantagem a Luis Lacalle Pou, do partido Nacional, na disputa contra Daniel Martínez, da Frente Ampla, partido há 15 anos no poder
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2019 às 06h06.
Última atualização em 22 de novembro de 2019 às 06h35.
O Uruguai vai às urnas neste domingo num processo que marca a diferença de momento vivida pelo país na comparação com alguns de seus vizinhos sul-americanos.
O Chile anunciou ontem uma revisão de até 50% nas aposentadorias para conter uma onda de protestos que já dura um mês. Na Bolívia, o partido do ex-presidente Evo Morales reconheceu o governo interino de Jeanine Añez, num gesto que abre caminho para novas eleições em janeiro, mas com impacto incerto sobre manifestações que já deixaram mais de 30 mortos. A nova frente de conflitos na região vem da Colômbia, onda uma greve convocada por sindicatos paralisa as principais cidades contra reformas trabalhista e previdenciária.
Posto frente a este ambiente de alta octanagem, o Uruguai é um bálsamo. Mas o país de 3 milhões de habitantes também pode estar às portas de uma guinada política. Após 15 anos de governo da esquerdista Frente Ampla, a centro-direita pode voltar ao poder com Luis Lacalle Pou.
Candidato do partido Nacional e filho de ex-presidente, ele fez 28% dos votos no primeiro turno, mas ganhou o apoio de Ernesto Talvi (Colorado) e Manini Rios (Cabildo Aberto), que juntos fizeram mais de 20% dos votos. Virou, assim, favorito diante do frente-amplista Daniel Martínez, ex-prefeito de Montevidéu, escolhido por 38% dos eleitores no primeiro turno.
Todas as pesquisas eleitorais dão vantagem a Lacalle Pou. Segundo o instituto Radar, ele tem 49,9% das intenções de voto, ante 44,3% de seu adversário. Sua vantagem foi construída, como se esperava, com os votos de 75% dos eleitores colorados e de 88% daqueles que votaram pelo Cabildo Aberto no primeiro turno. A Frente Ampla conta uma virada de última com um comparecimento em massa de seus eleitores — está, até, bancando passagens de cerca de 4.000 frente-amplistas que vivem na Argentina.
Nos últimos 15 anos o Uruguai cresceu acima da média do continente e aprovou pautas progressistas, como a liberação da maconha com controle governamental, que o levaram a ser escolhido o país do ano pela revista Economist, em 2013. Mas, nos últimos anos, uma crescente insatisfação com o aumento da violência e denúncias de corrupção levaram a quedas na aprovação do governo.
Apesar de ter uma taxa de 12 assassinatos por 100 mil habitantes, metade da brasileira, o Uruguai tem visto um crescente aumento da criminalidade puxado pelo tráfico de drogas. Seis em cada dez assassinatos no país estão ligados a acertos de contas entre narcotraficantes, segundo o governo. Lacalle Pou, ex-senador, propõe a revisão no código penal aprovado em 2017 pelo governo e aumento do policiamento. Nada muito específico — mas pode ser o suficiente no domingo.