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Clãs tradicionais marcam formação de nova Somália

A convocação de eleições foi substituída por um sistema tradicional: a vontade de 135 anciãos representativos

País que vive uma guerra quase ininterrupta desde 1991 (John Moore/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2012 às 20h57.

Mogadíscio - A nova Somália que nascerá do final do processo de transição - cuja conclusão está prevista para os próximos dias com a escolha de um novo presidente - deverá combinar a tradição somali com pinceladas das sociedades ocidentais para reunir grande parte de sua numerosa diáspora.

Em um país que vive uma guerra quase ininterrupta desde 1991, somado aos confrontos armados entre os radicais islâmicos do Al Shabab e as tropas multinacionais favoráveis ao Governo, a convocação de eleições foi substituída por um sistema tradicional: a vontade de 135 anciãos representativos.

''Os anciãos não foram escolhidos'', afirmou sem rodeios o vice-representante especial da ONU para a Somália, Peter de Clercq, em uma entrevista na capital Mogadíscio.

''Quando o tema veio à tona, os somalis nos disseram: ''todo mundo sabe quem são os anciãos''. Depois, acabou sendo um pouco mais complicado. Basicamente, chegamos ao número de 135 ao multiplicar por 30 os representantes da fórmula 4,5'', acrescentou Clercq.

A controversa ''fórmula 4,5'' reúne os quatro clãs majoritários da Somália (Darod, Dir, Hawiye e Rahanweyn) e o ''coma cinco'', que serve para dar representatividade aos clãs minoritários. Segundo Clercq, a fórmula é capaz de dar voz a todos os clãs do país, que estão representados nesse ''conselho de anciãos''.

Embora muitos somalis integrados em sociedades ocidentais negam a importância do clã na Somália, o jornalista somali Abukar Albadri assegura que essa estrutura continua sendo a base do país africano.

''Se queres aceder a um cargo, tens que recorrer ao seu clã e contar com seu apoio e aprovação. Sem isso, não chegarás a lugar algum'', comentou Albadri à Agência Efe.


Mas, para os somalis, esse fato não parece ser um problema: ''Agora as pessoas estão mais informadas. Dentro de dois anos, os partidos apresentarão seus programas e propostas, e o povo terá condição de votar em seus candidatos e não nos clãs. Porém, ainda temos que respeitar o equilíbrio do povo, que se baseia nos clãs'', indica o presidente da Somália, Sharif Sheik Ahmed.

Os anciãos tradicionais foram os encarregados de nomear à Assembleia Nacional Constituinte, que aprovou a nova Constituição no início do mês. Essa nova Constituição, por sua vez, deverá ser ratificada pelo novo Parlamento somali, cuja eleição também depende dos representantes dos clãs.

Para essa tarefa, os anciãos manejam uma série de critérios aceitos pela ONU para escolher os 275 novos deputados.

Entre os critérios, os principais são não contar com histórico criminal, ter completado os estudos do ensino médio e que, pelo menos, 30% da câmara seja composta por mulheres.

Sultan Aliyoow Ibrow, de 42 anos e um dos 135 anciãos escolhidos, pôde observar o papel relevante das mulheres durante os 18 anos em que viveu nos EUA e, por isso, defende um maior protagonismo das mulheres na Somália moderna.

''Acredito que 30% (do Parlamento) seja uma boa proporção. Outros anciãos e eu estamos em campanha pelas mulheres. No entanto, alguns dos líderes dizem que são muçulmanos e que não querem mulheres no âmbito político'', afirmou Ibrown há poucos dias.

Desta forma, atingir os 30% estipulados não é uma tarefa das mais simples, já que o Escritório Político da ONU para a Somália aponta que 259 dos 275 deputados da nova Câmara já foram designados e o número de mulheres representa apenas 14%.


O processo para firmar a transição na Somália, iniciado em 2004, já apresenta oito dias de atraso, sendo que ainda falta completar o novo Parlamento, que, por sua vez, elegerá o presidente da Câmara e o chefe de Estado, algo que deve ser realizado em breve.

Estas novas autoridades terão um mandato de quatro anos e substituirão o Governo Federal de Transição.

A partir dessa troca, o povo acredita que a Somália voltará a ser unida novamente, já que atualmente o país é dividido entre a Somalilândia - uma região relativamente estável e autoproclamada independente em 1991 -, a região semiautônoma de Puntlandia e o centro-sul da Somália, onde se encontra a capital Mogadíscio.

''Se a segurança for garantida, Somália será um único país sob uma única liderança'', assinala o presidente somali.

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Mogadíscio - A nova Somália que nascerá do final do processo de transição - cuja conclusão está prevista para os próximos dias com a escolha de um novo presidente - deverá combinar a tradição somali com pinceladas das sociedades ocidentais para reunir grande parte de sua numerosa diáspora.

Em um país que vive uma guerra quase ininterrupta desde 1991, somado aos confrontos armados entre os radicais islâmicos do Al Shabab e as tropas multinacionais favoráveis ao Governo, a convocação de eleições foi substituída por um sistema tradicional: a vontade de 135 anciãos representativos.

''Os anciãos não foram escolhidos'', afirmou sem rodeios o vice-representante especial da ONU para a Somália, Peter de Clercq, em uma entrevista na capital Mogadíscio.

''Quando o tema veio à tona, os somalis nos disseram: ''todo mundo sabe quem são os anciãos''. Depois, acabou sendo um pouco mais complicado. Basicamente, chegamos ao número de 135 ao multiplicar por 30 os representantes da fórmula 4,5'', acrescentou Clercq.

A controversa ''fórmula 4,5'' reúne os quatro clãs majoritários da Somália (Darod, Dir, Hawiye e Rahanweyn) e o ''coma cinco'', que serve para dar representatividade aos clãs minoritários. Segundo Clercq, a fórmula é capaz de dar voz a todos os clãs do país, que estão representados nesse ''conselho de anciãos''.

Embora muitos somalis integrados em sociedades ocidentais negam a importância do clã na Somália, o jornalista somali Abukar Albadri assegura que essa estrutura continua sendo a base do país africano.

''Se queres aceder a um cargo, tens que recorrer ao seu clã e contar com seu apoio e aprovação. Sem isso, não chegarás a lugar algum'', comentou Albadri à Agência Efe.


Mas, para os somalis, esse fato não parece ser um problema: ''Agora as pessoas estão mais informadas. Dentro de dois anos, os partidos apresentarão seus programas e propostas, e o povo terá condição de votar em seus candidatos e não nos clãs. Porém, ainda temos que respeitar o equilíbrio do povo, que se baseia nos clãs'', indica o presidente da Somália, Sharif Sheik Ahmed.

Os anciãos tradicionais foram os encarregados de nomear à Assembleia Nacional Constituinte, que aprovou a nova Constituição no início do mês. Essa nova Constituição, por sua vez, deverá ser ratificada pelo novo Parlamento somali, cuja eleição também depende dos representantes dos clãs.

Para essa tarefa, os anciãos manejam uma série de critérios aceitos pela ONU para escolher os 275 novos deputados.

Entre os critérios, os principais são não contar com histórico criminal, ter completado os estudos do ensino médio e que, pelo menos, 30% da câmara seja composta por mulheres.

Sultan Aliyoow Ibrow, de 42 anos e um dos 135 anciãos escolhidos, pôde observar o papel relevante das mulheres durante os 18 anos em que viveu nos EUA e, por isso, defende um maior protagonismo das mulheres na Somália moderna.

''Acredito que 30% (do Parlamento) seja uma boa proporção. Outros anciãos e eu estamos em campanha pelas mulheres. No entanto, alguns dos líderes dizem que são muçulmanos e que não querem mulheres no âmbito político'', afirmou Ibrown há poucos dias.

Desta forma, atingir os 30% estipulados não é uma tarefa das mais simples, já que o Escritório Político da ONU para a Somália aponta que 259 dos 275 deputados da nova Câmara já foram designados e o número de mulheres representa apenas 14%.


O processo para firmar a transição na Somália, iniciado em 2004, já apresenta oito dias de atraso, sendo que ainda falta completar o novo Parlamento, que, por sua vez, elegerá o presidente da Câmara e o chefe de Estado, algo que deve ser realizado em breve.

Estas novas autoridades terão um mandato de quatro anos e substituirão o Governo Federal de Transição.

A partir dessa troca, o povo acredita que a Somália voltará a ser unida novamente, já que atualmente o país é dividido entre a Somalilândia - uma região relativamente estável e autoproclamada independente em 1991 -, a região semiautônoma de Puntlandia e o centro-sul da Somália, onde se encontra a capital Mogadíscio.

''Se a segurança for garantida, Somália será um único país sob uma única liderança'', assinala o presidente somali.

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