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China e Índia têm relações estremecidas 50 anos após guerra

Surgimento do bloco dos Brics na última década melhorou uma relação difícil, mas ainda meio século depois os exércitos chinês e indiano se acusam, esporadicamente

Xangai: Guerra acabou com o sonho dos primeiros anos dos jovens regimes de Mao e Nehru (Pudong/Creative Commons)
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Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2012 às 12h47.

Pequim - Neste sábado serão completados 50 anos do começo de uma guerra breve mas violenta entre os dois países mais populosos do mundo, China e Índia , com dois problemas de fundo - as disputas fronteiriças e a relação de Nova Délhi com o Tibete - que meio século depois continuam sem solução.

Enquanto as grandes potências da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética, estavam 'distraídas' há 50 anos com a Crise dos Mísseis de Cuba (16-28 de outubro de 1962), o Exército de Libertação Popular da China invadiu no dia 20 de outubro o território indiano nos extremos oriental e ocidental entre ambos os países, que compartilham uma das maiores fronteiras do mundo.

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Após semanas de enfrentamentos, nos quais morreram cerca de 2 mil soldados (1.300 indianos e 700 chineses), e embora a superioridade das tropas chinesas fosse evidente, no dia 21 de novembro o primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, ditava o cessar-fogo pondo fim à guerra, mas iniciando uma inimizade que ainda permanece.

A China saiu da disputa relativamente vitoriosa, alcançando entre outras coisas confirmar seu controle sobre a área Aksai Chin, no extremo ocidental da fronteira e situada na conflituosa região da Caxemira, mas neste país se tenta esquecer o conflito, ou disfarçá-lo como um ato de 'boa vontade'.

'A China lutou contra Índia em 1962 para conseguir um acordo de paz com seu vizinho' após anos de disputas fronteiriças, diz um artigo do historiador Hong Iuane, da Academia Chinesa de Ciências, um dos poucos que foi publicado neste ano no país.

'O objetivo real não era Nehru (primeiro-ministro da Índia naquela época), mas os Estados Unidos e a União Soviética, que tinham conspirado contra a China', afirma Hong em seu artigo, publicado no jornal 'Global Times'.

Na Índia, paradoxalmente, o conflito perdido e que representou uma humilhação é visto como um passo importante na sua história, pois ajudou a reconsiderar sua força militar, duplicar os efetivos nos anos seguintes e com isso conseguir vitórias decisivas contra outro rival continental, o Paquistão, em 1965 e 1971. No entanto, no caso da China, costuma se dizer que o país não aprendeu com o enfrentamento.


'A China deveria usar o aniversário para se perguntar por que aconteceu uma guerra que poderia ter evitado', afirmou nesta semana em um documento o Instituto de Análise e Estudos de Defesa da Índia, país que se lembra de um conflito que 'a China não quer falar em público'.

Com exceção da Guerra da Coreia (1950-53), na qual conteve os EUA, a China costuma considerar os conflitos com seus vizinhos (como o corrido com o Vietnã em 1975) como um tabu que não é lembrado em seus meios de comunicação oficiais.

Ainda mais no atual momento de crescentes tensões com outros países próximos, como o Japão, as Filipinas e o próprio Vietnã pelas ilhas dos mares comuns.

A guerra de 1962 foi interpretada também pelos estudiosos como uma represália da China ao fato da Índia ter acolhido Dalai Lama três anos antes, após sua fuga do Tibete, uma situação que continua na atualidade: o líder espiritual continua refugiado em Dharamsala, no norte indiano.

A China considerava então que as tropas indianas estavam tentando, com apoio ou aquiescência dos EUA e da URSS (países com relações conflituosas com Pequim), avançar rumo ao território tibetano, e um dos cenários do conflito foi a célebre 'linha MacMahon', uma fronteira que no início do século 20 tinha sido traçada pela então Índia Britânica com o Tibete, sem a participação da China.

A guerra acabou com o sonho dos primeiros anos dos jovens regimes de Mao e Nehru, que chegaram a imaginar uma aliança entre as duas milenárias civilizações, que tinham se libertado de séculos de colonialismo.

O receio criado no conflito persiste, levando em conta que as duas potências emergentes têm relações políticas, comerciais e culturais muito inferiores às que mantêm com outros vizinhos, apesar da história compartilhada e do tamanho de suas economias.

O surgimento do bloco dos Brics (ambos os países junto com Rússia, África do Sul e Brasil) na última década melhorou uma relação difícil, mas ainda meio século depois os exércitos chinês e indiano se acusam esporadicamente de incursões em território vizinho.

E as supostas negociações para resolver o conflito fronteiriço, iniciadas em 1981, costumam ser vistas como o esforço diplomático mais longo e inútil da história contemporânea. EFE

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