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Brian Dougherty e o designer como agente de mudanças

Em encontro, o americano Brian Dougherty destacou que o bom designer deve levar em conta o ciclo de vida do produto

O segredo está no abacate: fruto inspirou o especialista na busca pela criação de produtos que sejam interessantes esteticamente e agreguem valor à sociedade   (Stock.XCHNG)
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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2012 às 16h57.

 São Paulo - Quando pensamos em <a href="https://exame.com/noticias-sobre/design" target="_blank"><strong>design</strong></a>, logo o relacionamos à aparência dos produtos. Ou seja, à sua casca. Mas a atividade vai muito além disso: atuar com design é criar, desenvolver, trabalhar em cima de uma ideia que, inevitavelmente, transmitirá uma mensagem àqueles que têm acesso ao produto final. Então, por que não utilizá-lo para comunicar tudo que envolve a sustentabilidade?</p> 

Essa é a ideia que o designer americano Brian Dougherty dissemina há 15 anos pelo mundo e está colocando em prática (de forma bem-sucedida) em seu estúdio de design na Califórnia, o Celery. Junto com sua equipe, o autor do livro Design Gráfico Sustentável (lançado no Brasil pela Editora Rosari) trabalha diariamente para criar produtos interessantes do ponto de vista estético que, de quebra, ainda levam mensagens de sustentabilidade aos consumidores.

"O design é uma ótima ferramenta de mudança de realidade. Já está mais do que na hora de os designers enxergarem essa função como parte da profissão", disse Dougherty durante o encontro O Designer como Agente de Mudanças, promovido nesta quarta-feira (26) pelo Planeta Sustentável, em parceria com o Clube de Diretores de Arte da Editora Abril, em São Paulo.

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Para aproveitar todo esse potencial de comunicação - e, consequentemente, de transformação - do design, Dougherty tem um grande aliado: o abacate. O fruto - que, não por acaso, ilustra a capa do livro do americano - inspirou o especialista na busca pela criação de produtos que sejam interessantes esteticamente e agreguem valor à sociedade. "Para mim, o abacate é uma metáfora perfeita de como as coisas podem ser bonitas e profundas ao mesmo tempo", contou Dougherty, que, para explicar sua teoria, divide o fruto em três partes:


"A casca seria, portanto, a parte mais óbvia do design. Se penso em um produto sustentável, a primeira coisa que me vem à cabeça é usar materiais alternativos que aumentem a eficiência e reduzam o desperdício. Mas o objeto transmite uma mensagem, que está na polpa, por trás do produto (casca), e que pode ser usada para contar histórias, conscientizar as pessoas, mostrar uma visão mais positiva do mundo", explicou Dougherty.

Tendo essa ideia em mente, a proposta do especialista é simples de entender: "Os designers devem enxergar o produto como um abacate e começar sua criação de dentro pra fora. Primeiro, você constrói uma ideia clara a respeito do tipo de mensagem que quer passar, ou seja, da mudança que quer ver no mundo, e depois se preocupa com o material. Assim é muito mais fácil fazer coisas criativas com bons materiais", disse Dougherty, que batizou a ideia de NGISED (a palavra "design" ao contrário).

Ele completou: "Se fazemos o processo de criação inverso, de fora pra dentro, e focamos a atividade do design sustentável em materiais menos impactantes, temos produtos mais caros e rasos, que não atingem o consumidor". Faz sentido, não?

Como exemplo, o designer citou um dos trabalhos desenvolvidos por seu estúdio: os Rakafuki Friends. Trata-se de uma série de embalagens colecionáveis de bichinhos que foram criadas para um cliente que lançava uma nova lâmpada LED no mercado.

"Tínhamos nas mãos um produto verde que seria vendido por 30 dólares. Mas como convencer o consumidor a pagar esse valor por uma lâmpada - mesmo com apelo ecológico -, quando existem outras muito mais baratas no mercado? A embalagem com formato de bichos, feita com material reciclável e que pode ser colecionada, foi a sacada. Criamos algo que proporciona alegria às pessoas, conquistamos as crianças e tratamos a sustentabilidade de um jeito positivo. De repente, a ideia de pagar 30 dólares deixa de ser absurda e as pessoas acabam pensando em logo prazo", afirmou Dougherty.


O Poder da Mensagem

Para inspirar os designers, Dougherty citou cinco consequências que uma mensagem bem transmitida, por um produto esteticamente atraente, pode provocar:

A vez do consumidor

Repensar o processo de criação do design é papel dos profissionais dessa área, mas o consumidor também pode fazer sua parte, informando-se melhor a respeito daquilo que está comprando. "A maioria de nós já tem bagagem para tomar boas decisões. Tendo em mente que todo material possui vantagens e problemas, basta se perguntar de onde ele vem. Se sua fonte for boa, ok", explicou Dougherty.

"Por exemplo, sabemos que o papel reciclado vem de uma boa fonte e que demanda menos energia em sua produção. Logo, é mais vantajoso do ponto de vista ambiental do que folhas virgens de papel", exemplificou o especialista, que ainda lembrou que a avaliação do produto pode ir além e levar em conta outros quesitos, como preço e respeito ao trabalhador envolvido no processo de confecção.

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