Bolívia inaugura sede de governo faraônica – e polêmica
O novo edifício foi construído atrás do antigo Palácio de Governo, com seus 119 metros de altura, 29 andares e vidros espelhados
EXAME Hoje
Publicado em 10 de agosto de 2018 às 06h25.
Última atualização em 10 de agosto de 2018 às 07h02.
O governo da Bolívia está de cara nova. Ou melhor, de fachada nova. Nesta sexta-feira o gabinete presidencial se reúne pela primeira vez na Grande Casa do Povo, nova sede do governo boliviano, que funcionou por 165 anos em um prédio colonial na principal praça de La Paz.
O novo edifício, inaugurado nesta quinta, foi construído atrás do antigo Palácio de Governo, mas, com seus 119 metros de altura, 29 andares e vidros espelhados, destoa completamente das outras construções da praça –um dos pontos criticados por aqueles contra a mudança.
“Deixamos para trás o Palácio colonialista, de onde tantos governos deram as costas ao povo. A nova Bolívia avança livre, digna e soberana”, escreveu em seu perfil no Twitter Evo Morales, que já afirmou que a antiga sede estava “cheia de símbolos europeus”. O governo afirma que o prédio anterior já havia ficado pequeno para a administração.
Depois de Morales ter sido interrompido por manifestantes durante seu discurso pelo Dia da Independência nesta terça-feira e da medalha e faixa presidenciais terem sido roubadas no início da semana, o governo esperava capitular em cima de uma notícia positiva – como a inauguração da sede. Mas a obra é criticada pela oposição pelo custo, considerado elevado, de aproximadamente 34 milhões de dólares (cerca de 1.000 dólares por metro quadrado, segundo a administração).
As dependências do prédio também são alvo de críticas. Circularam boatos em jornais locais de que a suíte presidencial contaria com uma jacuzzi e outros luxos. Membros do governo sustentam que “não há luxo nenhum” no prédio. O local abrigará cinco ministérios e o gabinete presidencial.
Na terça, Morales cortou seu discurso em homenagem à independência do país de duas horas e meia para pouco mais de 30 minutos ao ser continuamente interrompido por gritos de “Bolívia disse não”. A frase lembra um referendo popular, realizado em 2016, no qual a maioria da população votou contra mudanças na Constituição que permitiriam a Morales concorrer ao quarto mandato consecutivo. No final do ano passado, o tribunal constitucional do país reverteu a decisão e permitiu que o presidente dispute as eleições do ano que vem.
O governo de Evo Morales é responsável por um crescimento econômico de, em média, 5% ao ano na última década. Para este ano, a previsão do Fundo Monetário Internacional, é de expansão de 4% do PIB. O número, se comparado aos 1,8% que o FMI estima para o Brasil, é de dar inveja.
Ainda assim, a Bolívia tem um PIB per capita de 3.000 dólares, um terço do brasileiro. Os 30 milhões de dólares gastos na nova “Casa do Povo” certamente farão falta em outras áreas.