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Bolívia deixa de vender gás para a Argentina e destina excedente de produção para o Brasil

País interrompeu as entregas obrigatórias neste mês; petroleira disse repassar insumo a preços "igualmente competitivos"

Gás natural responde por apenas 9,3% da matriz energética brasileira (Noah Friedman-Rudovsky/Getty Images)
EFE

Agência de Notícias

Publicado em 27 de setembro de 2024 às 11h15.

A petroleira estatal da Bolívia, Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), confirmou na quinta-feira, 26, que o país deixou de enviar gás natural para a Argentina e pretende repassar qualquer excedente de sua produção para o Brasil a preços “igualmente competitivos”.

“Qualquer volume que deixemos de enviar ao mercado argentino já tem mercado garantido no Brasil. Portanto, para nós, como YPFB, não há diferença”, disse à Agência EFE o gerente de Contratos e Exportações da YPFB, Óscar Claros.

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A Bolívia interrompeu as entregas obrigatórias de gás em meados deste mês, depois de quase 20 anos.

Claros explicou que a entrega de volumes de gás deveria ser estendida por contrato até agosto e setembro, com remessas de até 4 milhões de metros cúbicos por dia (mmcd), mas que, desde o dia 20 deste mês, “as indicações (de gás para a Argentina) foram praticamente nulas”.

O gerente da YPFB destacou que “era lógico” que a Argentina buscaria “autossuficiência e autoabastecimento” quando, há uma década, anunciou descobertas de gás na região de Vaca Muerta.

Claros disse que dos 33 mmcd de gás que a Bolívia produz, quatro mmcd foram para a Argentina, e 15 mmcd para o Brasil, de modo que agora entre 18 e 19 mmcd serão enviados para o mercado brasileiro, e o restante será mantido para o mercado interno.

“Em termos de receita não haverá diferença, porque toda a produção exportável ainda será destinada ao mercado externo”, disse.

Ele alegou que a interrupção das vendas de gás boliviano à Argentina “está abrindo uma nova oportunidade” para que o país gere novas receitas “por agregação e transporte” do hidrocarboneto.

“Todo o gás que a Argentina tem como excedente de exportação no norte nós vamos pegar, vamos transportá-lo através dos sistemas de gasodutos bolivianos e também vamos levá-lo para o Brasil”, explicou Claros.

De acordo com ele, a Bolívia usará os gasodutos “ociosos” para captar o gás argentino para “complementar a produção boliviana” para o Brasil.

“É algo que não tínhamos antes. Nunca cobramos pelo transporte ou agregação de gás de terceiros países, e agora faremos isso”, acrescentou.

Por outro lado, o ex-presidente boliviano Carlos Mesa (2003-2005) disse que a interrupção das vendas de gás para a Argentina é um fracasso e um produto da “ociosidade e inépcia dos governos de Evo Morales (2006-2019) e Luis Arce ”.

“Raramente um partido político (o Movimento para o Socialismo) foi tão negativo para nossa economia e desperdiçou tanto da riqueza nacional que administrava”, escreveu Mesa na rede social X (ex-Twitter).

O contrato de venda de gás boliviano para a Argentina foi assinado em 2006 por 20 anos.

Entre 2006 e 2017, os volumes de gás para a Argentina aumentaram de 2 para 17 mmcd, seguidos por um declínio progressivo nas remessas do hidrocarboneto, que atingiu 6 mmcd entre janeiro e julho de 2024, e 4 mmcd nos últimos dois meses.

A Bolívia obteve US$ 875 milhões com a venda de gás em 2023 para a Argentina, que, junto com o Brasil, tem sido o principal destino nas últimas décadas.

Há vários anos, o país vem sofrendo um declínio na produção de seus principais poços, e vários setores sociais apontam a queda nas exportações de gás como a causa da falta de dólares e da crise econômica no país.

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