Áustria nega asilo político a homossexual por postura "muito afeminada"
Autoridades rejeitaram a solicitação de asilo de um refugiado iraquiano por considerar seu comportamento "não autêntico"
EFE
Publicado em 23 de agosto de 2018 às 20h58.
Viena - As autoridades da Áustria rejeitaram a solicitação de asilo de um refugiado iraquiano por considerar que seu comportamento é "muito afeminado" e "não autêntico", informou nesta quinta-feira a agência austríaca "APA".
O caso veio à tona pouco depois da polêmica relacionada com outra negativa oficial de conceder asilo a um refugiado homossexual com base na estimativa de sua aparência e forma de agir, claramente determinada por estereótipos.
Os funcionários do Escritório Federal para Estrangeiros e Asilo (BFA, na sigla em alemão) da Áustria que interrogaram Firas, de 27, anos, consideraram que o solicitante de asilo tinha um "comportamento excessivamente afeminado", segundo o documento ao qual o jornal vienense "Kurier" teve acesso.
Por isso, os agentes concluíram que a sua homossexualidade "não é autêntica" nem "crível".
De acordo com a publicação vienense, Firas fugiu em 2015 do Iraque e solicitou asilo na Áustria. O iraquiano afirma ser homossexual desde os 16 anos e lembrou que este fato, que teve que inclusive esconder de sua família, é um motivo pelo qual ele pode ser assassinado em seu país de origem.
Se para algum funcionário ser "muito" afeminado é prova de que o refugiado mente, e razão suficiente para rejeitar sua solicitação, outros fazem o mesmo se a aparência da pessoa lhes parece muito masculina.
"A maneira de caminhar do senhor, sua atitude e sua forma de se vestir não deixam entrever em absoluto que o senhor possa ser homossexual. Ao não sê-lo, o senhor não tem nada que temer se retornar ao Afeganistão", argumentou um agente austríaco em um documento para um jovem afegão.
Há poucos dias, as descrições detalhadas de um comportamento "não suficientemente gay" do afegão de 18 anos, que chegou sozinho à Áustria quando era menor de idade, causaram surpresa e manchetes irônicas tanto na imprensa austríaca como na alemã.
Entre os "indícios" apontados pelas autoridades para desacreditar seu comportamento homossexual estavam que o jovem afegão tinha entrado em luta corporal com outros rapazes, ou seja, que ele "tem um potencial de agressão que não é esperado em um homossexual".
Depois da polêmica, o funcionário responsável pela decisão contra o afegão foi destituído do cargo.
Em ambos os casos as respectivas decisões não são definitivas.
O jovem afegão recorreu da sentença e o iraquiano fará o mesmo, segundo o "Kurier".
"O quão 'gay' um homossexual solicitante de asilo deveria se comportar no interrogatório com os funcionários da BFA? Qual é a maneira de se vestir, de se comportar e de caminhar que condiz com a de um homossexual?", questionou a publicação.