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Arqueólogo revela valor da sociodiversidade na Amazônia

Eduardo Góes Neves, pesquisador da USP, diz que há pelo menos 14 mil anos, a floresta é ocupada por populações que produziam ferramentas de trabalho e cerâmicas

Arqueólogos acreditam que havia cerca de 5,5 milhões de pessoas vivendo na floresta antes do descobrimento (Divulgação/ Survival International)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2012 às 11h28.

São Paulo - A imagem de mata virgem intocada que temos da Amazônia está desaparecendo com pesquisas recentes. Ao contrário do que diz a crença de que o ambiente era difícil para a condição humana, a região abrigou populações numerosas - inclusive em áreas hoje cobertas por florestas densas - de forma diversificada e, segundo o pesquisador Eduardo Góes Neves, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP), a civilização atual tem muito que aprender com os povos do passado.

Hoje considerada periferia do Brasil, a Amazônia no passado era mais densamente habitada do que as regiões Sul e o Sudeste antes da colonização europeia.

Entre os mitos desfeitos sobre a região amazônica, foi derrubada a tese de que lá tinha, apenas, tribos distribuídas a esmo pela floresta. Arqueólogos acreditam que havia cerca de 5,5 milhões de pessoas antes do descobrimento.

Há pelo menos 14 mil anos, a floresta é ocupada por populações que produziam ferramentas de trabalho e cerâmicas, possuíam também uma agricultura diversificada, além do idioma.

Enquanto quase todas as línguas modernas vieram de uma mesma família - a indo-europeia -, as línguas faladas nas aldeias antigas da região amazônica vieram de diferentes famílias linguísticas. Segundo Neves, essa pluralidade também é diversidade cultural, e é tão importante quanto a diversidade biológica.


"Temos muito que aprender com as populações que viveram na Amazônia. Elas não denegriram nem o território, nem a biodiversidade da região", disse Neves, que também é co-criador e coordenador do Projeto Amazônia Central (PAC), que já identificou mais de cem sítios arqueológicos.

De acordo com o pesquisador, as populações pré-coloniais usavam a terra sem destruí-la e aumentavam a diversidade.

As interferências dos povos pré-coloniais na biodiversidade da floresta incluem desde a formação da fértil terra preta à pluralidade de plantas da região, como o Castanhal, que não existia originalmente na região.

Com coloração escura, hoje, a terra preta - que possuí pequenos fragmentos cerâmicos em sua composição - é procurada por agricultores por representar uma alternativa de cultivo ao solo amazônico, que não consegue manter os nutrientes por muito tempo, especialmente sob a ação climática extrema da floresta equatorial.

Abaixo, assista à apresentação que Neves fez, no ano passado, no TEDx Ver-o-Peso, em Belém:


Mercado Aquecido

A arqueologia na Amazônia é uma área que vem conquistando espaço no mercado. Segundo Neves, que presidiu a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) entre 2009 e 2011, existe atualmente uma demanda crescente por trabalhos arqueológicos em áreas que serão impactadas por grandes obras no país e, por isso, a profissão de arqueólogo vem sofrendo uma mudança de paradigma nos últimos anos.

A explosão de obras de infraestrutura, impulsionada pelo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), fez com que a pesquisa arqueológica se intensificasse. Por lei, é exigido que os sítios sejam estudados antes de serem destruídos para dar lugar a estradas, hidrelétricas e projetos de mineração.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), o número de sítios arqueológicos subiu de 15 mil para 20 mil entre 2010 e 2011. Só em 2011, cerca de 1200 pesquisas arqueológicas foram autorizadas pelo Iphan - tal número de pesquisas não chega ao total de arqueólogos em exercício no Brasil. "O que ocorre hoje no Brasil é uma corrida contra o tempo. É uma ilusão achar que os sítios estão sendo devidamente estudados", falou Neves.

O aumento do número de profissionais no mercado de trabalho - devido às novas turmas de profissionais que começam a se formar no país - também é responsável por essa mudança. Só nos últimos cinco anos, foram criados 11 novos cursos de Arqueologia no Brasil. Exemplos dessa expansão na região Norte são os cursos de graduação na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), pós-graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) e o curso de graduação da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Outro problema é a falta de regulamentação da profissão de arqueólogo, que permite que qualquer pessoa com uma especialização na área abra uma empresa e dispute o mercado. "Devem ser criados parâmetros de qualidade para ocorrer a disputa por contratos, como uma autorregulamentação da profissão", defendeu Neves.

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Hoje considerada periferia do Brasil, a Amazônia no passado era mais densamente habitada do que as regiões Sul e o Sudeste antes da colonização europeia.

Entre os mitos desfeitos sobre a região amazônica, foi derrubada a tese de que lá tinha, apenas, tribos distribuídas a esmo pela floresta. Arqueólogos acreditam que havia cerca de 5,5 milhões de pessoas antes do descobrimento.

Há pelo menos 14 mil anos, a floresta é ocupada por populações que produziam ferramentas de trabalho e cerâmicas, possuíam também uma agricultura diversificada, além do idioma.

Enquanto quase todas as línguas modernas vieram de uma mesma família - a indo-europeia -, as línguas faladas nas aldeias antigas da região amazônica vieram de diferentes famílias linguísticas. Segundo Neves, essa pluralidade também é diversidade cultural, e é tão importante quanto a diversidade biológica.


"Temos muito que aprender com as populações que viveram na Amazônia. Elas não denegriram nem o território, nem a biodiversidade da região", disse Neves, que também é co-criador e coordenador do Projeto Amazônia Central (PAC), que já identificou mais de cem sítios arqueológicos.

De acordo com o pesquisador, as populações pré-coloniais usavam a terra sem destruí-la e aumentavam a diversidade.

As interferências dos povos pré-coloniais na biodiversidade da floresta incluem desde a formação da fértil terra preta à pluralidade de plantas da região, como o Castanhal, que não existia originalmente na região.

Com coloração escura, hoje, a terra preta - que possuí pequenos fragmentos cerâmicos em sua composição - é procurada por agricultores por representar uma alternativa de cultivo ao solo amazônico, que não consegue manter os nutrientes por muito tempo, especialmente sob a ação climática extrema da floresta equatorial.

Abaixo, assista à apresentação que Neves fez, no ano passado, no TEDx Ver-o-Peso, em Belém:


Mercado Aquecido

A arqueologia na Amazônia é uma área que vem conquistando espaço no mercado. Segundo Neves, que presidiu a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) entre 2009 e 2011, existe atualmente uma demanda crescente por trabalhos arqueológicos em áreas que serão impactadas por grandes obras no país e, por isso, a profissão de arqueólogo vem sofrendo uma mudança de paradigma nos últimos anos.

A explosão de obras de infraestrutura, impulsionada pelo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), fez com que a pesquisa arqueológica se intensificasse. Por lei, é exigido que os sítios sejam estudados antes de serem destruídos para dar lugar a estradas, hidrelétricas e projetos de mineração.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), o número de sítios arqueológicos subiu de 15 mil para 20 mil entre 2010 e 2011. Só em 2011, cerca de 1200 pesquisas arqueológicas foram autorizadas pelo Iphan - tal número de pesquisas não chega ao total de arqueólogos em exercício no Brasil. "O que ocorre hoje no Brasil é uma corrida contra o tempo. É uma ilusão achar que os sítios estão sendo devidamente estudados", falou Neves.

O aumento do número de profissionais no mercado de trabalho - devido às novas turmas de profissionais que começam a se formar no país - também é responsável por essa mudança. Só nos últimos cinco anos, foram criados 11 novos cursos de Arqueologia no Brasil. Exemplos dessa expansão na região Norte são os cursos de graduação na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), pós-graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) e o curso de graduação da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Outro problema é a falta de regulamentação da profissão de arqueólogo, que permite que qualquer pessoa com uma especialização na área abra uma empresa e dispute o mercado. "Devem ser criados parâmetros de qualidade para ocorrer a disputa por contratos, como uma autorregulamentação da profissão", defendeu Neves.

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