Após 25 mortes, oposição desafia Maduro com novo protesto
Os manifestantes acusam o governo de repressão e o governo atribui aos adversários "atos de terrorismo" para dar um golpe de Estado
AFP
Publicado em 25 de abril de 2017 às 12h44.
A oposição venezuelana organiza nova manifestação nesta quarta-feira no centro de Caracas, em um novo desafio ao presidente Nicolás Maduro, pressionado a convocar eleições gerais por uma onda de protestos que deixou 25 mortos em um mês.
A última morte aconteceu durante a madrugada desta terça-feira. Um jovem de 23 anos faleceu em um protesto em uma cidade do estado de Lara, noroeste da Venezuela, anunciou a Procuradoria.
"O jovem estava em uma manifestação quando foi atingido por um tiro na cabeça que provocou a morte imediata", afirma um boletim do Ministério Público, que menciona um tiro de escopeta.
Um dia depois de um "bloqueio" de manifestantes contra Maduro nas avenidas mais importantes do país, que terminou em violência e deixou três mortos, os opositores organizam um protesto que pretende chegar à sede de de uma das instituições que acusam de servir ao governo.
"Vamos avançando. Não nos renderemos. Se conseguirmos manter esta pressão, vamos conseguir a mudança. Na quarta-feira voltaremos às ruas", afirmou o vice-presidente do Parlamento de maioria opositora, Freddy Guevara.
Sem revelar o destino final, a oposição pretende caminhar até a Defensoria do Povo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ou o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), localizados no centro da capital, considerado um reduto do chavismo.
Mas até agora as manifestações com destino ao coração da cidade foram bloqueadas pelas forças de segurança, que as dispersam com gás lacrimogêneo, jatos de água e balas de borracha.
Nesta terça-feira, o Parlamento, único poder controlado pela oposição, dará prosseguimento ao debate sobre o processo de destituição dos magistrados do TSJ, acusados de ter dado um "golpe de Estado" quando, no final de março, decidiram assumir as funções da Assembleia Nacional.
Embora o TSJ tenha recuado na decisão após uma forte pressão internacional, a oposição iniciou em 1º de abril uma onda de protestos para exigir eleições gerais e respeito à autonomia do Parlamento.
Desde então, os confrontos entre manifestantes e policiais, os distúrbios e saques e a ação de grupos armados à margem da lei deixaram 25 mortos e centenas de feridos e detidos.
Marcha sem retorno
A oposição acusa o governo de repressão e o governo atribui aos adversários "atos de terrorismo" para dar um golpe de Estado e resultar em uma intervenção estrangeira.
"As ações de resistência que colocam o ditador contra a parede têm custos muito graves: mortos e presos", disse Guevara, do partido Vontade Popular, do líder opositor detido Leopoldo López.
O governo acusa em particular os deputados Guevara, José Guerra, Tomás Guanipa e Julio Borges, presidente do Parlamento, ameaçados de detenção.
"Quantos mortos a mais os extremistas da oposição precisam para abandonar a violência como forma de fazer política? Quantos mais?", questionou o general Vladimir Padrino López, comandante das Forças Armadas, aliado chave ao qual Maduro deu grande poder econômico e político.
Guerra e Guanipa comparecerão nesta terça-feira à Procuradoria para rebater as acusações do governo, ao mesmo tempo que a Assembleia Nacional também debaterá sobre a ação dos "coletivos", como são chamados os grupos chavistas que segundo a oposição estão fortemente armados e provocam terror entre a população.
Para o analista Luis Vicente León, a Venezuela está diante de dois cenários: o aumento da pressão da oposição, com repressão do governo, apesar do repúdio e das sanções internacionais; ou a pressão chega ao nível máximo e consegue dividir internamente o chavismo e o setor militar.
"Isto é uma marcha sem retorno até que consigamos que os venezuelanos decidam como sair da crise. Convoco toda a Venezuela a sair às ruas", disse Borges.
Além da profunda crise política, a Venezuela sofre uma severa recessão econômica, com escassez de alimentos e remédios, além de uma inflação que, segundo o FMI, deve chegar a 720,5% este ano, a maior do mundo.
Irritados com a crise, sete em cada 10 venezuelanos reprovam a gestão de Maduro, que tem mandato até 2019.