Ao menos 14 corpos encontrados em área nobre da capital do Haiti
O país sofre uma onda de violência desde o início do mês, quando várias gangues se aliaram para atacar locais estratégicos de Porto Príncipe em um desafio ao primeiro-ministro Ariel Henry
Agência de notícias
Publicado em 18 de março de 2024 às 17h34.
As gangues que controlam Porto Príncipe atacaram nas últimas horas Pétion-Ville, uma das áreas mais abastadas da capital do Haiti, onde pelo menos 14 corpos foram encontrados na manhã desta segunda-feira, 18, em uma nova amostra da violência que assola o pequeno país caribenho.
Um fotógrafo da AFP viu esses corpos, assim como dois moradores locais, que contabilizaram, por sua vez, 10 mortos. Não se sabe ainda em que circunstâncias essas pessoas morreram.
Desde o amanhecer, homens armados têm semeado terror em Laboule e Thomassin, dois bairros de Pétion-Ville, onde atacaram um banco, um posto de gasolina e várias residências, indicaram os dois moradores ouvidos pela AFP.
Entre as casas saqueadas está a de um juiz do Tribunal de Contas haitiano, Pierre Volmar Demesyeux, que conseguiu escapar graças a uma intervenção policial, segundo uma pessoa próxima.
Onda de violência
O país sofre uma onda de violência desde o início do mês, quando várias gangues se aliaram para atacar locais estratégicos de Porto Príncipe em um desafio ao primeiro-ministro Ariel Henry.
Henry, muito questionado tanto no Haiti quanto pela comunidade internacional, anunciou sua renúncia há uma semana a partir de Porto Rico e a criação de um conselho presidencial de transição.
Mas as negociações para formar esse órgão de sete membros, distribuídos entre as principais forças políticas e o setor privado, foram atrasadas.
Um dos partidos que deveriam integrar esse grupo, o esquerdista Petit Desalin, renunciou sua participação, e o Coletivo 21 de Dezembro, do primeiro-ministro, não conseguiu chegar a um acordo para um único candidato.
Os Estados Unidos expressaram nesta segunda sua esperança de que o novo órgão de governo esteja pronto ainda hoje.
"Entendo que as partes interessadas do Haiti estão muito próximas de finalizar a composição", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Vedant Patel.
Crise humanitária
Enquanto aguarda o avanço da transição política, o Haiti enfrenta uma insegurança constante.
E o Quênia, que prometeu enviar policiais para liderar uma missão internacional de segurança supervisionada pela ONU, suspendeu sua intervenção até que as novas autoridades assumam.
Na tarde desta segunda-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realiza uma reunião a portas fechadas sobre o Haiti.
A organização internacional anunciou pouco antes o início de uma ponte aérea entre o país e a vizinha República Dominicana para levar ajuda em um contexto de grave crise humanitária.
"Por enquanto, são só os primeiros voos, mas esperamos que haja um movimento mais regular de helicópteros para poder melhorar o acesso a Porto Príncipe", disse Farhan Haq, porta-voz adjunto do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Na véspera, a diretora da Unicef, a agência da ONU para a infância, Catherine Russell, havia alertado sobre a catástrofe vivida no Haiti.
"Muitas, muitas pessoas estão sofrendo com a fome e a desnutrição e não conseguimos fazer com que a ajuda de que precisam chegue até elas", declarou em entrevista ao canal americano CBS.
"É a pior situação já vista em décadas. É quase uma cena de 'Mad Max'. É o que parece", acrescentou.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de deslocados na área metropolitana de Porto Príncipe aumentou 15% desde o início do ano. Na capital, 160 mil pessoas não podem retornar às suas casas.
Os Estados Unidos evacuaram no domingo 30 de seus cidadãos que ainda estavam no Haiti, em um voo fretado que partiu de Cabo Haitiano e pousou na Flórida, indicou o Departamento de Estado.