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Ao lançar candidatura, Biden se afasta de Obama e mira eleitorado de Trump

Em confronto direito com Trump, Biden está na frente com cerca de 8 pontos porcentuais, segundo pesquisas

Apoiador de Joe Biden: centrista moderado, Biden larga à frente nas pesquisas e com uma vantagem que poucos democratas têm (Brian Snyder/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de abril de 2019 às 08h53.

Washington — O ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden anunciou nesta quinta-feira, 25, sua candidatura à presidência em 2020. Centrista moderado, ele larga à frente nas pesquisas e com uma vantagem que poucos democratas têm: popularidade em Estados-chave que elegeram Donald Trump em 2016.

A última eleição foi decidida em Estados do Meio-Oeste - Ohio, Michigan, Wisconsin e Iowa -, além da Pensilvânia, onde há grande concentração de trabalhadores do setor de manufaturas. Em 2012, quando a chapa democrata trazia Barack Obama e Joe Biden, o partido venceu em todos esses Estados. Com Hillary Clinton, porém, a história foi diferente.

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Em 2016, acreditando ter vitória assegurada nesses Estados-chave, Hillary não intensificou a campanha no Meio-Oeste - em Wisconsin, por exemplo, ela nem sequer apareceu. Em três desses Estados, Trump venceu por margem mínima: Pensilvânia (por 44 mil votos), Michigan (10 mil votos) e Wisconsin (23 mil votos).

O resultado explica o fato de Hillary ter tido 3 milhões de votos a mais do que Trump, mas ter perdido no Colégio Eleitoral. Como Biden é extremamente popular nesta parte do país, muitos democratas acreditam que ele seja o único capaz de neutralizar o presidente.

As sondagens também favorecem Biden. Em confronto direito com Trump, ele está na frente com cerca de 8 pontos porcentuais (49% a 41%, segundo média de pesquisas do site Real Clear Politcs). Mas, para disputar a Casa Branca contra o presidente, ele terá antes de vencer os quase 20 pré-candidatos democratas - embora também entre eles Biden mantenha uma liderança sólida, segundo pesquisas.

Mesmo antes de se lançar oficialmente, Biden já despontava como favorito no cenário saturado de candidatos democratas. No entanto, a candidatura anunciada nesta quinta não teve o apoio público de Barack Obama. Coube a Katie Hill, porta-voz do ex-presidente, fazer um pronunciamento sobre Biden. "O presidente Obama já disse faz tempo que escolher Joe Biden como seu parceiro de chapa, em 2008, foi uma das melhores decisões que ele já tomou", afirmou a porta-voz.

Biden afirmou que pediu a Obama que não desse apoio público, porque pretende conquistar a vaga do partido "por seus próprios méritos". O aparente afastamento, porém, não deve evitar que a campanha de Biden se torne um escrutínio dos anos de presidência de Obama.

"Estamos em uma batalha pela alma desta nação", destacou Biden, em vídeo divulgado nas redes sociais, no qual convoca eleitores a evitarem um segundo mandato de Trump.

Além de vice de Obama, Biden foi senador pelo Estado de Delaware. Apesar do favoritismo e de ser conhecido do eleitorado, o democrata já sofreu duas derrotas em campanhas presidenciais, em 1988 e 2008.

O caminho de Biden não será fácil. Nos últimos meses, ele foi acusado por mulheres de "comportamento inadequado" - elas se queixam de contatos físicos não autorizados. Ele não pediu desculpas e disse apenas que estaria "mais atento" a normas sociais. O caso, porém, pode afastá-lo do eleitorado feminino mais progressista.

Segundo mais velho na disputa - 76 anos, atrás de Bernie Sanders, de 77 - e mais experiente entre os democratas -, Biden é um político à moda antiga que terá de convencer um partido cada vez mais jovem, radical e cético com relação à sua moderação.

Segundo o professor da Saint Louis University School of Law, Joel Goldstein, Biden tem uma extensa rede de aliados, doadores e uma grande admiração por seus oito anos na Casa Branca. Afastar-se de Obama, segundo ele, foi uma maneira de tirar a pressão sobre o ex-presidente, seu amigo pessoal. "Obama está em uma posição na qual espera-se que ele não declare apoio aberto a nenhum candidato (neste momento)", disse Goldstein.

"Joe Dorminhoco"

O presidente dos EUA, Donald Trump, respondeu com um apelido ao lançamento da candidatura de Joe Biden à presidência. "Bem-vindo à disputa, Joe Dorminhoco! Eu só espero que você tenha inteligência, da qual sempre duvidei, para fazer uma campanha de sucesso nas primárias", tuitou Trump, em referência às vezes em que Biden foi flagrado cochilando em eventos públicos.

O presidente americano advertiu Biden de que as prévias democratas serão "sujas" e disse que o ex-vice-presidente concorrerá contra "pessoas que realmente têm algumas ideias muito doentes e dementes". "Mas, se você conseguir chegar lá, eu te vejo na linha de largada", escreveu Trump.

A tentativa de diminuir seus principais oponentes com um apelido gaiato é uma velha característica de Trump. Nas prévias republicanas, em 2016, Ted Cruz virou "Ted Mentiroso" e Jeb Bush foi chamado de "Jeb Sem Energia".

Na semana passada, o presidente previu que Biden e Bernie Sanders serão os finalistas democratas - e usou um apelido para cada. "Acredito que (meus adversários) serão Bernie Lelé Sanders e Joe Dorminhoco Biden", escreveu Trump, também no Twitter. "Aguardo para enfrentar quem quer que seja. Que Deus tenha piedade deles."

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