Ampliadas em 2018, crises de Venezuela e Nicarágua estão longe do fim
Com a chegada de novos presidentes em forças regionais como Brasil e México, terá que decidir sobre como lidar com Nicolás Maduro e Daniel Ortega.
EFE
Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 21h45.
Bogotá - As crises enfrentadas por Venezuela e Nicarágua em 2018 continuam sem solução, o que impõe desafios para os governos dos dois países no próximo ano e também para a América Latina como um todo, que, com a chegada de novos presidentes em forças regionais como Brasil e México, terá que decidir sobre como lidar com Nicolás Maduro e Daniel Ortega.
Mas o ano não foi marcado só pelas instabilidades nos dois países. Nos Estados Unidos, Donald Trump ameaçou reprimir com força letal uma caravana de 9 mil imigrantes, composta essencialmente de cidadãos de países da América Central. E mais governos tiveram que lidar com casos de corrupção, entre eles o envolvendo a Odebrecht.
A hiperinflação de 2.500.000% prevista pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) neste ano na Venezuela é apenas a "cereja do bolo" do caos econômico provocado pelo regime chavista, que inclui desabastecimento de alimentos, remédios e produtos básicos.
O explosivo coquetel levou 2,3 milhões de venezuelanos, segundo a ONU, a deixarem o país. Nos países que os acolheram, a situação não é muito melhor. Muitos agora vivem em acampamentos improvisados, viram as fronteiras serem fechadas em alguns momentos - casos de Brasil e Peru - ou foram alvos de ataques xenófobos.
Em Caracas, não há sinais de entendimento entre governistas e opositores para solucionar a crise que afeta o país há três anos. As tensões ainda aumentaram depois da questionada reeleição de Maduro em maio, com os críticos do chavismo desistindo de participar das eleições municipais que serão realizadas em dezembro.
"A epifania da ditadura na Venezuela e Nicarágua explodiu nas mãos das sociedades latino-americanas", afirmou à Agência Efe o professor da Universidade do Rosario de Bogotá, Enrique Serrano.
A análise se refere também aos incidentes registrados na Nicarágua desde abril, quando protestos contra uma fracassada reforma econômica foram respondidas com violência pelo governo.
Segundo organizações humanitárias, 545 pessoas morreram na repressão às manifestações promovida por Ortega. O governo, que alega ter frustrado uma tentativa de golpe de Estado, informa outro número: 199. Além disso, diz ter prendido 273 "terroristas".
"São duas crises para as quais não há uma saída óbvia. Uma das coisas que ficou clara no último ano, sobretudo na Venezuela, é a tremenda importância da comunidade internacional para mudar os rumos autodestrutivos destes países", afirmou o ex-vice-presidente da Costa Rica e diretor do Interamerican Dialogue, Kevin Casas Zamora.
Diante da denunciada perseguição a opositores de Ortega, muitas pessoas decidiram fugir da Nicarágua, especialmente em direção à Costa Rica. Para o diretor para América Central, América do Norte e Caribe da Organização Internacional para Migrações (OIM), Marcelo Pisani, essa situação representa uma "alta possibilidade" de uma nova crise migratória na região.
A crise migratória regional já vive um capítulo explosivo desde 19 de outubro, quando 9 mil pessoas saíram em caravanas de Honduras, El Salvador e Guatemala rumo aos Estados Unidos.
Depois de uma série de tentativas para detê-las, inclusive ameaças do governo Trump, que mobilizou 6 mil militares na fronteira, cerca de 7 mil pessoas estão no México, 90% delas na cidade de Tijuana, à espera para entrar no território americano.
"O fenômeno migratório não será detido com medidas de força, mas abordando as questões que o originam. Não é um problema, mas um processo que deve ser administrado adequadamente. Inclusive, pode ser visto como uma oportunidade pelos países de amparo, pelas contribuições econômicas e sociais que eles podem gerar", avaliou o diretor regional da OIM.
Além disso, a corrupção foi mais uma vez um tema dominante nos países da região, com novas revelações do caso Odebrecht que abalaram governos e políticos por todo o continente.
Alguns dos alvos são o procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, citado por envolvimento no escândalo, e a líder da oposição no Peru, Keiko Fujimori, presa desde novembro.
"Mas devemos ver isso em perspectiva, já que a região criou instituições, normas e padrões que tornam mais fácil a descoberta da corrupção e a prestação de contas", disse Casas Zamora.
Por todos esses motivos, Serrano acredita que as crises não desaparecerão em 2019, mas podem ser minimizadas. No entanto, o enfraquecimento de alianças como a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) tornam a missão mais difícil.
"O único remédio de curto ou médio prazo é um fortalecimento da unidade regional", recomendou o professor.