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Alta de assassinatos assusta comunidade transgênero latina

América Latina, palco de 78% dos assassinatos de transexuais registrados no mundo nos últimos sete anos, se viu sacudida por um novo crime na Argentina

Crime "há uma violência muito forte, este ano já foram assassinadas 15 pessoas trans, há uma onda de crimes de ódio", diz especialista (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de outubro de 2015 às 21h58.

Bogotá - A América Latina , palco de 78% dos assassinatos de transexuais registrados no mundo nos últimos sete anos, se viu sacudida esta semana por um novo crime na Argentina contra uma pessoa transexual, o terceiro em um mês.

"Há uma violência muito forte, este ano já foram assassinadas 15 pessoas trans, há uma onda de crimes de ódio" na Argentina, afirmou à Agência Efe Marcela Romero, presidente da Redlactrans (Rede Latino-Americana e do Caribe de Pessoas Transexuais).

A ativista transexual Diana Sacayán foi assassinada a sangue frio em sua casa de Buenos Aires na terça-feira passada, um crime que comoveu a sociedade argentina e que mostra a violência que sofre este coletivo apesar da normalização social que tenta alcançar.

O assassinato de Sacayán, além disso, não é um caso particular. Segundo a Anistia Internacional, se trata do terceiro crime contra uma pessoa transexual na Argentina no último mês, após o de Marcela Chocobar na província de Santa Cruz e o de Fernanda "Coty" Olmos em Santa Fé.

O alarme pela violência contra os transexuais se transfere a todo o continente e, de forma muito especial, aos Estados Unidos.

Segundo o último relatório da organização National Center for Transgender Equality (Centro Nacional para a Igualdade Transgênero), pelo menos 20 pessoas transexuais foram assassinadas nos EUA este ano, frente às 13 contabilizadas em 2014.

Na América Central, diversos coletivos clamam contra a violência da qual são vítimas os transexuais há anos. Este é o caso de El Salvador, por exemplo, onde a associação COMCAVIS TRANS documentou 13 homicídios de mulheres trans nos primeiros seis meses do ano.

Honduras se soma a esta triste lista com o índice mais alto do continente, com uma taxa de homicídios de 9,32 transexuais assassinados por um milhão de habitantes nos últimos sete anos, segundo a organização europeia Trans Murder Monitoring (TMM).

Além disso, o Grupo de Mulheres Transexuais deste país segue pedindo que se mantenha a investigação de 175 "crimes de ódio" que não têm culpado há vários anos.

"A sociedade é misógina e homofóbica, é a cultura familiar que prevalece na América Latina", comentou do México a comunicadora transgênero Ophelia Pastrana, tentando explicar estes dados dramáticos.

"É uma crise humanitária. Por exemplo, a expectativa de vida das mulheres trans no Brasil é de 33 anos. É preciso investigar estes crimes e não deixá-los de lado porque a vítima seja uma bicha", acrescentou Ophelia à Efe.

Ophelia, que aos 28 anos decidiu abandonar sua carreira profissional na Colômbia e iniciar uma nova vida, faz parte do processo normalização da transexualidade na sociedade.

Casos de atletas olímpicos como Caitlyn Jenner, comédias premiadas e bem-sucedidas como "Transparent" com o ator Jeffrey Tambor e, inclusive, fatos como a reunião do papa Francisco e do transexual espanhol Diego Neira, são a outra face da moeda.

Neste lado da balança é preciso apontar, por exemplo, que México e Colômbia aprovaram leis este ano que facilitam a mudança administrativa de sexo e que, outros países, como o Chile reconheceram em 2015 as uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Além disso, não se pode esquecer que, desde 2012, a Argentina conta com a única lei de identidade gênero do mundo que normaliza a condição trans e que permite a inscrição direta do sexo nos documentos pessoais, entre outras vantagens.

Apesar destes avanços na integração, o medo permanece na comunidade. Marcela Romero considera que estes crimes deveriam ser tipificados como feminicídio porque "se assassina as mulheres por sua identidade, por ser uma mulher".

"Por enquanto estamos alertas, temos que nos cuidar, é preciso apresentar denúncias por nossa segurança," declarou, ainda comovida pelo assassinato de Diana Sacayán.

Da mesmo forma despede-se Ophelia Pastrana, não sem antes mostrar uma mensagem que acaba de receber com uma ameaça de morte contra Yesaira Torres, primeiro transgênero que participará das próximas eleições à assembleia legislativa do departamento de Santander, na Colômbia.

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"Há uma violência muito forte, este ano já foram assassinadas 15 pessoas trans, há uma onda de crimes de ódio" na Argentina, afirmou à Agência Efe Marcela Romero, presidente da Redlactrans (Rede Latino-Americana e do Caribe de Pessoas Transexuais).

A ativista transexual Diana Sacayán foi assassinada a sangue frio em sua casa de Buenos Aires na terça-feira passada, um crime que comoveu a sociedade argentina e que mostra a violência que sofre este coletivo apesar da normalização social que tenta alcançar.

O assassinato de Sacayán, além disso, não é um caso particular. Segundo a Anistia Internacional, se trata do terceiro crime contra uma pessoa transexual na Argentina no último mês, após o de Marcela Chocobar na província de Santa Cruz e o de Fernanda "Coty" Olmos em Santa Fé.

O alarme pela violência contra os transexuais se transfere a todo o continente e, de forma muito especial, aos Estados Unidos.

Segundo o último relatório da organização National Center for Transgender Equality (Centro Nacional para a Igualdade Transgênero), pelo menos 20 pessoas transexuais foram assassinadas nos EUA este ano, frente às 13 contabilizadas em 2014.

Na América Central, diversos coletivos clamam contra a violência da qual são vítimas os transexuais há anos. Este é o caso de El Salvador, por exemplo, onde a associação COMCAVIS TRANS documentou 13 homicídios de mulheres trans nos primeiros seis meses do ano.

Honduras se soma a esta triste lista com o índice mais alto do continente, com uma taxa de homicídios de 9,32 transexuais assassinados por um milhão de habitantes nos últimos sete anos, segundo a organização europeia Trans Murder Monitoring (TMM).

Além disso, o Grupo de Mulheres Transexuais deste país segue pedindo que se mantenha a investigação de 175 "crimes de ódio" que não têm culpado há vários anos.

"A sociedade é misógina e homofóbica, é a cultura familiar que prevalece na América Latina", comentou do México a comunicadora transgênero Ophelia Pastrana, tentando explicar estes dados dramáticos.

"É uma crise humanitária. Por exemplo, a expectativa de vida das mulheres trans no Brasil é de 33 anos. É preciso investigar estes crimes e não deixá-los de lado porque a vítima seja uma bicha", acrescentou Ophelia à Efe.

Ophelia, que aos 28 anos decidiu abandonar sua carreira profissional na Colômbia e iniciar uma nova vida, faz parte do processo normalização da transexualidade na sociedade.

Casos de atletas olímpicos como Caitlyn Jenner, comédias premiadas e bem-sucedidas como "Transparent" com o ator Jeffrey Tambor e, inclusive, fatos como a reunião do papa Francisco e do transexual espanhol Diego Neira, são a outra face da moeda.

Neste lado da balança é preciso apontar, por exemplo, que México e Colômbia aprovaram leis este ano que facilitam a mudança administrativa de sexo e que, outros países, como o Chile reconheceram em 2015 as uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Além disso, não se pode esquecer que, desde 2012, a Argentina conta com a única lei de identidade gênero do mundo que normaliza a condição trans e que permite a inscrição direta do sexo nos documentos pessoais, entre outras vantagens.

Apesar destes avanços na integração, o medo permanece na comunidade. Marcela Romero considera que estes crimes deveriam ser tipificados como feminicídio porque "se assassina as mulheres por sua identidade, por ser uma mulher".

"Por enquanto estamos alertas, temos que nos cuidar, é preciso apresentar denúncias por nossa segurança," declarou, ainda comovida pelo assassinato de Diana Sacayán.

Da mesmo forma despede-se Ophelia Pastrana, não sem antes mostrar uma mensagem que acaba de receber com uma ameaça de morte contra Yesaira Torres, primeiro transgênero que participará das próximas eleições à assembleia legislativa do departamento de Santander, na Colômbia.

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