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Alta de 60% em mortes por covid-19 na África do Sul indica distorção

A África do Sul está entre os cinco com mais casos confirmados no mundo, com mais de 400 mil infecções e 6 mil mortes

Coronavírus na África do Sul (Darren Stewart/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de julho de 2020 às 07h46.

Última atualização em 24 de julho de 2020 às 08h58.

A África do Sul ultrapassou na quinta-feira, 23, a marca de 10 mil novos casos por dia. A pandemia de coronavírus , porém, pode esconder uma realidade ainda pior. Um estudo do Conselho Sul-Africano de Pesquisas Médicas (SAMRC) indicou que, entre 6 de maio e 14 de julho, o país registrou um número de mortes 60% maior do que o normal, o que sugere que a quantidade de óbitos ligados ao vírus pode ser maior do que mostram os dados oficiais.

Na quinta, a África do Sul registrou 13 mil novos casos. Atualmente, o país é o mais afetado pela pandemia na África e está entre os cinco com mais casos confirmados no mundo - atrás de EUA, Brasil, Índia e Rússia - com mais de 400 mil infecções e 6 mil mortes, segundo os números oficiais.

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No entanto, pesquisadores do SAMRC, órgão independente, mas financiado pelo governo, calcularam 17 mil mortes a mais em um período de 69 dias. A pesquisa causou preocupação ao provocar dúvidas sobre a baixa cifra oficial de mortalidade da pandemia, que estaria em 1,5%, índice muito inferior à média global, que é de 4%.

A resposta inicial da África do Sul à pandemia foi muito elogiada. O país adotou o lockdown no fim de março, quando tinha apenas 400 casos, e o Exército foi às ruas para fazer cumprir as rigorosas restrições. No entanto, o aumento do desemprego e da pobreza, em um país que já apresenta indicadores econômicos ruins, forçou o governo do presidente, Cyril Ramaphosa, a afrouxar o isolamento antes que a doença estivesse controlada.

Desde então, as novas infecções só aumentaram. Segundo o presidente, cientistas previram que a África do Sul pode ter mais de 50 mil mortos pelo coronavírus só neste mês - um número plausível, depois da descoberta feita pelos pesquisadores do SAMRC.

Debbie Bradshaw, chefe do SAMRC e coautora do estudo, disse que o momento e o padrão geográfico deixam pouca margem de dúvidas de que essa brusca disparidade esteja associada com a covid-19, apesar de os números oficiais de mortos pela doença no país serem muito mais baixos. "Os relatórios semanais de mortos revelaram uma enorme discrepância entre as mortes confirmadas por covid-19 e o excesso de mortes naturais", destacou Bradshaw.

Os números em excesso de mortes têm sido um fator considerado em vários países para colocar uma luz sobre os possíveis efeitos reais da pandemia, em razão das dificuldades com as estatísticas oficiais.

Consultado sobre o estudo, o ministro da Saúde, Zweli Mkhize, argumentou que, "em todos os países com covid-19, autoridades sanitárias analisam a mesma coisa", referindo-se à diferença entre o número de mortes e a contagem oficial de óbitos pelo coronavírus.

Mkhize também disse que muitos sul-africanos, que já têm alguma doença prévia, vêm evitando ir a hospitais para tratamento com medo de contrair o coronavírus - o que tem agravado o quadro.

Pobreza

A África do Sul acumula mais da metade do total de infecções por covid-19 registradas em todo o continente africano. Há atualmente mais de 771 mil casos confirmados da doença na África e mais de 16,5 mil mortes, apesar de vários países rejeitarem divulgar dados mais detalhados sobre a contaminação.

O desafio do SAMRC é pesquisar as tendências da evolução da doença e identificar as principais causas das morte na África do Sul. O estudo também destacou a rápida diminuição nas mortes não naturais que coincidiram com o lockdown e as severas restrições ao consumo de álcool. Isso ajudou a reduzir em cinco vezes as mortes não naturais, como acidentes de trânsito e assassinatos.

A pobreza limita a capacidade de lutar contra a pandemia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou ontem que mais de 10 mil funcionários da área de saúde contraíram o coronavírus em 40 países da África. Muitas regiões do continente continuam enfrentando a falta de material de proteção, como aventais, luvas e máscaras, apesar de que mais de 2 milhões de unidades de material terem sido enviadas desde o início da pandemia - mais um milhão deve chegar a partir deste fim de semana.

"Os trabalhadores da área de saúde temem levar o vírus para casa sofrem a pressão psicossocial de correr contra o tempo e, em algumas comunidades, enfrentam o estigma e a descriminação", disse Matshidiso Moeti, diretora regional da agência de saúde da ONU.

"O crescimento que estamos vendo dos casos de covid-19 na África está exercendo uma pressão sobre os serviços de saúde em todo o continente", advertiu a médica, que também acredita que os números oficiais dos países africanos estão errados. "Claramente há subnotificação de casos." (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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