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Ação anterior aos 'indignados' em Portugal completa um ano

Segundo os organizadores, cerca de 500 mil pessoas saíram às ruas em março de 2011 para protestar contra a precariedade laboral

A manifestação reuniu uma heterogênea mistura, mas todos querendo mostrar seu descontentamento com o funcionamento do sistema democrático (Patricia de Melo Moreira/AFP)

A manifestação reuniu uma heterogênea mistura, mas todos querendo mostrar seu descontentamento com o funcionamento do sistema democrático (Patricia de Melo Moreira/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2012 às 22h07.

Lisboa - Os 'indignados' de Portugal, país onde esse movimento internacional se manifestou pela primeira vez, completam um ano entre a decepção pelo agravamento da crise e pela satisfação do povo poder refletir a postura de seus políticos nas ruas.

Segundo os organizadores, cerca de 500 mil pessoas saíram às ruas em março de 2011 para protestar contra a precariedade laboral, uma manifestação que surpreendeu a todos pelo grande número de pessoas e se tornou em uma das maiores desde a chegada da democracia, em 1975.

A manifestação, que ocorreu em diferentes cidades do país, reuniu uma heterogênea mistura, mas todos querendo mostrar seu descontentamento com o funcionamento do sistema democrático.

A concentração, realizada no dia 12 de março e muito recordada pela imprensa portuguesa nesta semana, foi convocada por um grupo independente e bem distante dos partidos políticos e dos sindicatos. O grupo, chamado 'Geração em apuros', acabou dando origem à plataforma social '15 de outubro', que continua ativa.

'Na ocasião, nós éramos uma geração em apuros. Mas, atualmente, Portugal inteiro está em apuros', relata à Agência Efe Paula Gil, uma das impulsoras do movimento em Portugal.

Poucas semanas depois dessa manifestação, o país acabou sucumbindo à pressão que exerciam os mercados sobre sua dívida e acabou solicitando o resgate financeiro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que em troca de sua ajuda exigiram a adoção de uma rígida política de cortes e reformas.


A grave crise econômica gerou uma crise política que terminou com a renúncia do primeiro-ministro, o socialista José Sócrates, e com a vitória dos conservadores lusos nas eleições de junho.

No último ano, a situação dos portugueses acabou se agravando diante das incertezas dos cortes. O aumento dos impostos generalizados, os cortes nos pagamentos extras e o encarecimento das taxas de serviços acabaram simbolizando o aumento do desemprego, que chegou aos 14% no último trimestre de 2011.

Apesar do agravamento da crise, as manifestações organizadas posteriormente pela plataforma '15 de outubro' não alcançaram o mesmo apoio em massa visto em sua primeira reunião. Somente o protesto convocado pelo sindicato comunista CGTP em janeiro lembrou à mobilização daqueles dias.

Mas, segundo Paula, 'não se pode analisar as intervenções da sociedade pelo número de pessoas que saem às ruas. Há ações concretas que estão sendo desenvolvidas que representam essa mesma vontade de lutar'.

De acordo com a ativista, a principal conquista do movimento 'indignado' foi conseguir fazer com que o cidadão volte a falar de política 'nas ruas e nas cafeterias', demonstrando que os portugueses 'não são conformistas e apáticos', como em algumas ocasiões anteriores.


'Houve protestos todos os meses e se discutiu de política quase todas as semanas e de todas as maneiras... Nunca tinha visto à sociedade lusa tão agitada', afirmou Paula Gil.

O ocorrido em Portugal, um país com 10,5 milhões de habitantes, foi a primeira expressão de um movimento que rapidamente se manifestou também na vizinha Espanha, no resto da Europa e nos Estados Unidos.

Doze meses depois do início do movimento, Paula Gil não tem dúvidas sobre o que sente: 'Estou orgulhosa que as pessoas tenham saído à rua, tenham juntado suas vozes e tenham compartilhado ideias e propostas. O futuro passa pelas pessoas, e não só pelos Parlamentos'. 

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