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Abertura da Igreja a gays e divorciados sofre críticas

Abertura da Igreja aos divorciados, aos homossexuais e às uniões estáveis recebeu duras críticas de setores conservadores da Santa Sé

Praça de São Pedro, no Vaticano: abertura foi manifestada durante sínodo dos bispos (Vincenzo Pinto/AFP)
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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2014 às 13h27.

Cidade do Vaticano - A abertura da Igreja aos divorciados que voltam a se casar, aos homossexuais e às uniões estáveis, manifestada durante o sínodo dos bispos no Vaticano, recebeu duras críticas de setores conservadores da hierarquia da Santa Sé, que não aceita as reformas.

Dois importantes cardeais, o alemão Gerhard Mueller, prefeito para a Doutrina da Fé, e o americano Raymond Burke, da prefeitura para a Assignatura Apostólica, expressaram à imprensa sua oposição a tais aberturas.

"Não me importa se alguns não concordam com minha opinião. Eu digo o que quero e, sobretudo, o que devo dizer como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: a Igreja não pode reconhecer os casais homossexuais", declarou o alemão.

Mueller também criticou o método de trabalho do sínodo, que reúne quase 300 bispos e cardeais de todo o mundo e que, segundo ele, foi alterado com o objetivo de "manipular a informação" sobre os debates internos, pois divulga a intervenção, mas não o nome do autor.

Os dois também consideram que o documento que resume os debates a portas fechadas de 265 bispos de todo o mundo - com o título "Relatio post disceptationem" e que foi divulgado na segunda-feira -, não reflete as diferentes posições.

Outros dois importantes cardeais, o italiano Camillo Ruini e o sul-africano Wilfrid Napier, chamaram de "perigosas" as aberturas aos divorciados que voltam a casas e aos homossexuais.

O diálogo aberto e sem rodeios que o papa Francisco estabeleceu dentro da Igreja para falar dos desafios representados pela transformação da família moderna é complexo e tortuoso.

A admissão do valor e do amor que existe entre os casais de fato ou que optam pela relação estável antes do casamento na Igreja, assim como a abertura aos homossexuais manifestada no documento de trabalho do sínodo, virou um verdadeiro "terremoto" pastoral.

"A questão homossexual nos interpela a uma reflexão séria sobre como elaborar caminhos realistas de crescimento afetivo e de maturidade humana e evangélica integrando a dimensão sexual: portanto se apresenta como um importante desafio educativo", afirma o texto, que recorda que para a Igreja "as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimônio entre um homem e uma mulher".

Já se sabia que os religiosos mais conservadores não ficariam calados sobre temas tão delicados, mas o que fica dos debates é a moderação de um bom número de bispos, que nesta terça-feira elogiaram o documento por "captar adequadamente" o espírito da reunião.

Diante das reações, os bispos também pediram que seja ressaltado o princípio de que o casamento não apenas é indissolúvel, como pode ser feliz e fiel e evitar centrar-se principalmente nas situações familiares difíceis.

Os debates prosseguem por grupos esta semana e depois a hierarquia da Igreja votará um documento final que será em seguida submetido para discussão com as "bases" em todo o mundo, antes do sínodo de outubro de 2015.

São Paulo – Enquanto alguns países preveem prisão e pena de morte para homossexuais, outros autorizam o casamento gay e têm leis que proíbem a discriminação baseada na orientação sexual. Utilizando dados da Ilga (International lesbian, gay, bissexual, trans and intersex association) e do Departamento de Estado dos Estados Unidos é possível encontrar alguns países que oferecem mais direitos aos homossexuais – e menor quantidade de relatos de violência.  Islândia e África do Sul, apesar de autorizarem o casamento gay e possuírem leis que criminalizam a discriminação, como muitos países dessa lista, ficaram de fora em decorrência de alguns casos de discriminação reportados no relatório do Departamento de Estado dos EUA. Clique nas fotos ao lado e veja os direitos em alguns países.
  • 2. Bélgica

    2 /12(Getty Images)

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    A lei proíbe a discriminação baseada em raça, gênero, incapacidade, língua ou classe social e identifica 18 áreas possíveis de discriminação sujeitas a penalidades, entre elas, orientação sexual, de acordo com levantamento do Departamento de Estado dos EUA. A Bélgica é o quinto país da Europa que mais respeita os direitos humanos dos homossexuais, segundo levantamento da Ilga Europa. O país permite o casamento gay e a adoção conjunta e tem leis contra a discriminação de homossexuais, segundo a Ilga.  No país, já foram feitas campanhas para encorajar vítimas de violência e discriminação a prestarem queixa – tendo em vista que em 2010 apenas quatro reclamações foram encaminhadas à promotoria, segundo um levantamento sobre direitos humanos realizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Acredita-se que as vítimas sentem vergonha ou pensam que a reclamação não terá resultados.
  • 3. Canadá

    3 /12(Getty Images)

  • No país, a lei proíbe a discriminação baseada na orientação sexual e o código criminal prevê penalidades para crimes motivados por preconceito ou ódio baseado em características pessoais, incluindo orientação sexual e o casamento gay é permitido, segundo levantamento da Ilga. Organizações homossexuais funcionam independentemente e sem restrições.
  • 4. Espanha

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    A comunidade LGBT é largamente aceita no país – há muitas organizações e não há relatos de tentativas de impedir que elas operem, segundo levantamento sobre direitos humanos realizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.  A lei local proíbe a discriminação baseada em raça, gênero, incapacidade ou posição social. E o governo geralmente a faz cumprir. O país permite o casamento gay e a adoção conjunta, segundo levantamento feito pela Ilga Europa, que aponta a Espanha como o segundo país do continente entre os que mais respeitam os direitos humanos dos homossexuais.
  • 5. Países Baixos

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    A Constituição proíbe a discriminação com base na orientação sexual e não há impedimentos legais para a organização de eventos gay, segundo levantamento do Departamento de Estados dos EUA. Em 2011, o país registrou um acréscimo nas denúncias de ofensas e acredita que parte disso deve-se a uma campanha governamental que convocava as vítimas a relatarem incidentes. Os países baixos estão entre os dez países que mais respeitam os direitos humanos dos gays, de acordo com a Ilga Europa. O casamento e a adoção conjunta são permitidos.
  • 6. Noruega

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    O casamento e a adoção conjunta são permitidos e o país está entre os dez países que mais respeitam os direitos humanos dos gays, de acordo com a Ilga Europa. Também há leis contra a discriminação com base na orientação sexual.  Não há impedimentos para a existência de organizações LGBT e a polícia não perpetua, tampouco perdoa, a violência contra homossexuais, de acordo com o levantamento do Departamento de Estado dos EUA.  Em dezembro, uma campanha local incentivou o registro de violência contra homossexuais. Uma associação local recebeu 20 relatos de incidentes em um mês, comparado a 36 crimes contra homossexuais registrados durante todo o ano de 2009.
  • 7. Portugal

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    A Constituição do país proíbe a discriminação baseada em raça, gênero, incapacidade, idioma e status social – e o governo reforça essas proibições, segundo o levantamento. O casamento gay é permitido e o país está entre os dez que mais respeitam os direitos humanos dos gays, de acordo com a Ilga Europa. Há leis que proíbem a discriminação com base na orientação sexual.  Em Portugal, em 2011, não foi registrado nenhum relato de discriminação baseada na orientação sexual no ambiente de trabalho, moradia ou acesso a educação ou saúde, de acordo com um levantamento sobre direitos humanos realizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
  • 8. Reino Unido

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    Na Europa, o Reino Unido é o primeiro colocado entre os países que mais respeitam os direitos humanos dos homossexuais, de acordo com um levantamento realizado pela Ilga Europa, que leva em consideração 42 critérios.  A Comissão de direitos humanos na Inglaterra, País de Gales e Escócia combate a discriminação baseada em raça, sexo, religião, idade e orientação sexual. O casamento gay não é permitido, apenas a união civil, segundo levantamento da Ilga Europa.  A lei encoraja juízes a dar uma sentença mais pesada em casos de agressão em que a orientação sexual da vítima tenha motivado a hostilidade. A polícia treina oficiais para identificarem esses ataques, segundo um levantamento sobre direitos humanos realizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos com dados de 2011.
  • 9. Suécia

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    A Suécia é considerada o quarto país na Europa que mais respeita os direitos humanos dos gays, segundo levantamento da Ilga Europa. O casamento gay e a adoção conjunta são permitidos. A legislação do país também proíbe a discriminação baseada em raça, gênero, idade, incapacidade, orientação sexual, entre outros – mas nem sempre o governo faz essas proibições serem cumpridas, segundo levantamento sobre direitos humanos realizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Em 2010 foram reportados 801 crimes baseados na orientação sexual ou no gênero.
  • 10. Alemanha

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    Na lista da Ilga Europa, a Alemanha aparece como o segundo país que mais respeita os direitos humanos dos homossexuais. A legislação do país proíbe a discriminação com base na orientação sexual. Organizações homossexuais não relatam dificuldades em suas operações no país, segundo relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Em 2010, o governo relatou 164 crimes motivados por uma inclinação anti homossexuais. Desses, 45 foram violentos. Em um julgamento, a corte de justiça determinou que casais do mesmo sexo deveriam estar aptos a ter os mesmos benefícios de aposentadoria que casais heterossexuais.
  • 11. Hungria

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    Na Hungria, há leis que punem a discriminação de homossexuais. O país está entre os dez que mais respeitam os direitos humanos dos homossexuais, de acordo com levantamento da Ilga Europa.  No entanto, o Departamento de Estado dos Estados Unidos alerta que, apesar de o Código Penal recomendar uma punição maior para violência contra homossexuais, mesmo sem explicitar isso, ainda há violência contra os grupos no país. O levantamento afirma que a parada gay anual acaba sendo um centro de ataques. A marcha de 2011 ocorreu sem nenhum incidente do tipo.
  • 12. Veja agora onde a legislação prevê prisão e pena de morte para homossexuais:

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