A Rússia ainda está longe de sua 'primavera árabe'
Analistas consideram que protestos contra o governo no país tiveram apoio apenas da classe média
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2012 às 13h53.
Moscou - A Rússia começa a viver um despertar político significativo, como prova a dimensão das manifestações organizadas desde dezembro pelas redes sociais, mas está longe de uma "primavera" revolucionária no modelo dos países árabes, segundo os analistas.
Esta mobilização da oposição, sem precedentes desde a chegada ao poder em 2000 de Vladimir Putin, primeiro-ministro e favorito na eleição presidencial do dia 4 de março, não pode ser comparada, contudo, com as massas de tunisianos e egípcios que dia após dia manifestavam, apesar da violência e repressão.
De fato, os milhares de russos que se reuniram para dois protestos no mês de dezembro em Moscou para denunciar as fraudes nas eleições legislativas, são, antes de tudo, representantes da classe média.
"No Egito, a classe média lançou o movimento, mas ela foi seguida pelas outras camadas da sociedade, principalmente pelos mais pobres", explicou Mazen Abbas, correspondente da TV Al Arabiya e presidente da Associação dos imigrantes árabes na Rússia.
"Na Rússia, a situação é muito diferente. Apenas a classe média aderiu às manifestações em Moscou", ressaltou.
As pesquisas mostram que o desejo por mudanças está se espalhando, mas também que os russos não estão prontos para forçar o destino.
Segundo uma sondagem realizada no fim de dezembro pelo Instituto Levada, 44% dos entrevistados apóiam as manifestações, mas apenas 4% estão "prontos" e 11% "talvez prontos" para descer às ruas.
Além disso, a reação do governo russo frente à contestação difere das dos regimes árabes derrubados: a escolha foi denegrir a imagem dos opositores, acusando-os de serem pagos pelos Estados Unidos, ao invés de reprimir com a força.
"Nós não estamos lidando com uma ditadura velha de 30 ou 40 anos, mas com uma democracia gerida, o que é muito diferente. Ainda podemos expressar nossa insatisfação", disse Abbas.
Fiodor Loukianov, redator chefe da revista "A Rússia na política mundial", lembrou que nem os partidários de Vladimir Putin, nem a oposição se fecharam em uma lógica linha-dura.
O governo prometeu reformas mínimas, enquanto a oposição milita por uma mudança através de eleições democráticas.
"As pessoas que manifestam estão infelizes, mas no geral querem mais prosperidade, mais perspectivas para o futuro e não uma revolução. Não existem tensões como nos países árabes, e o poder russo reage de forma mais tranquila", julgou Loukianov.
Este analista ressalta que os russos, ainda traumatizados com o caos seguido da queda da URSS, continuam hostis a qualquer terremoto político.
"O potencial revolucionário dos russos, que existia há 20 anos, trouxe consequências dramáticas e decepções", afirmou Loukianov.
O poder russo não se engana e quer acabar com a mobilização construindo a ideia de que os opositores são perigosos revolucionários inspirados pelo caos do mundo árabe.
O presidente do Tribunal Constitucional Russo, Valeri Zorkine, descreveu um cenário de catástrofe em janeiro em uma coluna intitulada "Rússia: evolução na direção do direito ou para o caos" publicada pelo jornal Rossiïskaia gazeta.
"Os líderes das manifestações (...) estão prontos para proclamar que o seu próprio país está totalmente privado de legitimidade político-jurídica e, portanto, de soberania. Estão prontos para chamar os 'inimigos' (especialmente as unidades especiais dos países da Otan) para apoiar a criação de um 'novo Estado' na Rússia no modelo da Líbia", escreveu Zorkine.
Para Boris Dolgov, do Centro de estudos árabes da Academia Russa de Ciências, o Kremlin enfrenta um verdadeiro desafio.
"Todas as revoluções (árabes) foram precedidas por manifestações (...) e na Rússia existem sérios problemas sociais, econômicos e de criminalidade. Haverá uma explosão? Isso dependerá muito do que as autoridades vão fazer", estimou.
Moscou - A Rússia começa a viver um despertar político significativo, como prova a dimensão das manifestações organizadas desde dezembro pelas redes sociais, mas está longe de uma "primavera" revolucionária no modelo dos países árabes, segundo os analistas.
Esta mobilização da oposição, sem precedentes desde a chegada ao poder em 2000 de Vladimir Putin, primeiro-ministro e favorito na eleição presidencial do dia 4 de março, não pode ser comparada, contudo, com as massas de tunisianos e egípcios que dia após dia manifestavam, apesar da violência e repressão.
De fato, os milhares de russos que se reuniram para dois protestos no mês de dezembro em Moscou para denunciar as fraudes nas eleições legislativas, são, antes de tudo, representantes da classe média.
"No Egito, a classe média lançou o movimento, mas ela foi seguida pelas outras camadas da sociedade, principalmente pelos mais pobres", explicou Mazen Abbas, correspondente da TV Al Arabiya e presidente da Associação dos imigrantes árabes na Rússia.
"Na Rússia, a situação é muito diferente. Apenas a classe média aderiu às manifestações em Moscou", ressaltou.
As pesquisas mostram que o desejo por mudanças está se espalhando, mas também que os russos não estão prontos para forçar o destino.
Segundo uma sondagem realizada no fim de dezembro pelo Instituto Levada, 44% dos entrevistados apóiam as manifestações, mas apenas 4% estão "prontos" e 11% "talvez prontos" para descer às ruas.
Além disso, a reação do governo russo frente à contestação difere das dos regimes árabes derrubados: a escolha foi denegrir a imagem dos opositores, acusando-os de serem pagos pelos Estados Unidos, ao invés de reprimir com a força.
"Nós não estamos lidando com uma ditadura velha de 30 ou 40 anos, mas com uma democracia gerida, o que é muito diferente. Ainda podemos expressar nossa insatisfação", disse Abbas.
Fiodor Loukianov, redator chefe da revista "A Rússia na política mundial", lembrou que nem os partidários de Vladimir Putin, nem a oposição se fecharam em uma lógica linha-dura.
O governo prometeu reformas mínimas, enquanto a oposição milita por uma mudança através de eleições democráticas.
"As pessoas que manifestam estão infelizes, mas no geral querem mais prosperidade, mais perspectivas para o futuro e não uma revolução. Não existem tensões como nos países árabes, e o poder russo reage de forma mais tranquila", julgou Loukianov.
Este analista ressalta que os russos, ainda traumatizados com o caos seguido da queda da URSS, continuam hostis a qualquer terremoto político.
"O potencial revolucionário dos russos, que existia há 20 anos, trouxe consequências dramáticas e decepções", afirmou Loukianov.
O poder russo não se engana e quer acabar com a mobilização construindo a ideia de que os opositores são perigosos revolucionários inspirados pelo caos do mundo árabe.
O presidente do Tribunal Constitucional Russo, Valeri Zorkine, descreveu um cenário de catástrofe em janeiro em uma coluna intitulada "Rússia: evolução na direção do direito ou para o caos" publicada pelo jornal Rossiïskaia gazeta.
"Os líderes das manifestações (...) estão prontos para proclamar que o seu próprio país está totalmente privado de legitimidade político-jurídica e, portanto, de soberania. Estão prontos para chamar os 'inimigos' (especialmente as unidades especiais dos países da Otan) para apoiar a criação de um 'novo Estado' na Rússia no modelo da Líbia", escreveu Zorkine.
Para Boris Dolgov, do Centro de estudos árabes da Academia Russa de Ciências, o Kremlin enfrenta um verdadeiro desafio.
"Todas as revoluções (árabes) foram precedidas por manifestações (...) e na Rússia existem sérios problemas sociais, econômicos e de criminalidade. Haverá uma explosão? Isso dependerá muito do que as autoridades vão fazer", estimou.