Prova de fogo: média de temperaturas em cidades-sede aumentaram nas últimas décadas (Mike Ehrmann/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 6 de fevereiro de 2014 às 16h40.
São Paulo – Amanhã, ocorre a abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno. Se estivéssemos em 2050, a região escolhida para sediar o evento, Sochi, na Rússia, provavelmente teria sido eliminada da lista. E muitos outros destinos que já receberam os jogos nas últimas décadas também ficariam de fora. O motivo? Eles não estariam suficientemente frios para receber as Olimpíadas.
É isso o que sugere um estudo realizado pela Universidade de Waterloo, no Canadá, e o Centro de Gestão de Innsbruck, na Áustria, recentemente publicado no periódico especializado Current Issues of Tourism.
O estudo avaliou a vulnerabilidade desses destinos gelados às mudanças climáticas. E os resultados não são nada animadores. Mesmo baseando-se em projeções climáticas conservadoras, apenas 11 dos 19 locais anteriores estariam aptos para acolher com segurança os Jogos novamente em 2050.
Avançando algumas décadas, a situação só piora. De acordo com o estudo, apenas seis cidades-sede anteriores seriam frias o suficiente para sediar os jogos até o final deste século, mantidas as atuais tendências de aquecimento.
O estudo constata que locais olímpicos de renome internacional como Vancouver, Squaw Valley, nos EUA, Garmisch-Partenkirchen, na Alemanha, e Sochi, na Rússia não terão mais clima adequado para sediar os Jogos de forma confiável nas próximas décadas.
Termômetro em alta no mês de fevereiro
A temperatura diurna média em fevereiro nestes locais subiu de 0,4ºC entre os anos 1920 e 1950 para 7,8º C no começo do século XXI.
Sob um cenário de baixas emissões de gases efeito estufa, que os cientistas chamam de RCP2.6, as temperaturas médias dos dias de fevereiro nos 19 locais anteriores subiria entre 1,9 C, até meados do século, e 2,7 C até 2100, em comparação com os dias hoje.
Sob um cenário de alta das emissões, RCP8.6 , o aumento seria de 2,0 C até meados do século à 3,7º C no fim do século.
As simulações são baseadas em modelos de computador usados pelo Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática ( IPCC), juntamente com projeções sobre as mudanças de temperatura feitas pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM).
Há limites para a fabricação de neve
O estudo também analisa como os avanços e estratégias tecnológicas desenvolvidas ao longo de várias décadas têm sido utilizados para gerir o risco climático para os Jogos Olímpicos de Inverno. Tecnologias como neve artificial e previsões meteorológicas de alta resolução são agora componentes críticos para sucesso do evento.
Mas não dá pra fazer milagre. "Apesar dos avanços tecnológicos, há limites para o que as estratégias atuais de gerenciamento de riscos de tempo podem enfrentar", disse um dos autores do estudo, Daniel Scott, um professor na Faculdade de Waterloo.