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O assassinato desta ativista ambiental comoveu o mundo

Berta Cárceres recebeu, em 2015, o prêmio Goldman, considerado o Nobel do meio ambiente, por sua atuação junto aos povos indígenas na luta contra megarrepresas


	Berta: ativista que lutava pelos direitos humanos, povos indígenas e ambiente foi morta no dia 3 de março.
 (Goldman Environmental Foundation)

Berta: ativista que lutava pelos direitos humanos, povos indígenas e ambiente foi morta no dia 3 de março. (Goldman Environmental Foundation)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 8 de março de 2016 às 10h24.

São Paulo - Berta Cáceres, ativista ambiental e líder indígena, foi assassinada em sua cidade natal de La Esperanza, em Honduras, no dia 3 de março. Ela faria 46 anos na última sexta-feira. Um fim trágico para a vida de uma mulher corajosa que arriscou tudo para proteger sua terra da degradação.

Sua sina parece seguir aquelas que tiveram Chico Mendes (líder ambientalista assassinado em 1988), a irmã Dorothy Stang (missinária norte-americana assassinada no Pará em 2005) e o casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados em maio de 2011 após denúnciarem madeireiros e carvoeiros na Amazônia.

Em 2015, a ativista hondurenha recebeu o Prêmio Goldman, considerado o Nobel do meio ambiente, por sua militância contra a construção de uma represa hidrelétrica no Río Gualcarque. O empreendimento tinha como sócia a maior empresa construtora de represas do mundo, a chinesa Sinohydro, e ameaçava a permanência dos povos indígenas em seus territórios ancestrais. 

Goldman Environmental Foundation

Premiação: Berta na cerimônia do Goldman Environmental Prize, considerado o Nobel do meio ambiente, em 2015.

Sua luta, porém, começou bem antes. Cáceres foi a co-fundadora e coordenadora geral do Conselho Nacional de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH). Criada em 1993, a entidade vive constantemente sob ataque, repressão e ameaças por lutar contra a exploração ambiental degradante no país.

As coisas pioraram significativamente após o golpe militar sobre o ex-presidente Manuel Zelaya, em 2009, que estimulou o crescimento explosivo de megaprojetos prejudiciais para os povos indígenas. Quase 30% das terras do país foram reservadas para concessões de mineração, criando uma demanda por energia barata para abastecer as operações de atividades mineradoras futuras.

Para atender a essa necessidade, o governo aprovou centenas de projetos de barragens em todo o país, que incluiam a privatização de rios, terras e, consequentemente, o desenraizamento de centenas de comunidades.

Goldman Environmental Foundation

Rede: Cáceres foi a co-fundadora e coordenadora geral do Conselho Nacional de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH).

Cáceres e seus companheiros da luta ambiental resistiram pacificamente e persistentemente. Infelizmente, com a visibilidade e influência de sua liderança indígena, ela se tornou um alvo. Na última quinta-feira, 3 de março, homens invadiram sua casa e a mataram com quatro tiros. A polícia tratou o crime como uma tentativa de assalto.

A mãe de Cárceres, no entanto, diz que foi "realmente por causa de sua luta". Poucas semanas antes, ela havia denunciado à imprensa o assassinato de quatro indígenas de sua comunidade, e desde então, queixava-se de ameaças de morte por parte da polícia e de grupos de latifundiários. "Minha mãe morreu porque ela defendeu a terra e rios de seu país", reiterou a filha de Cáceres, Olivia, aos jornais locais. As investigações estão em curso. 

Honduras é notória por ser um dos países mais perigosos do mundo para os ativistas ambientais, ao lado do Brasil e do Perú. Entre 2010 e 2014, 111 ativistas ambientais foram mortos naquele país.

Berta dizia que os rios, ocupados por hidrelétricas, clamavam por ajuda. Destacamos, abaixo, um trecho do discurso (em espanhol) que ela proferiu ao receber o Prêmio Goldman, no ano passado. Nele, Berta exortava todos a se unirem pelo meio ambiente, a vida e a esperança:

¡Despertemos¡ ¡Despertemos Humanidad¡ Ya no hay tiempo Nuestras conciencias serán sacudidas por el hecho de solo estar contemplando la autodestrucción basada en la depredación capitalista, racista y patriarcal. El Río Gualcarque nos ha llamado, así como los demás que están seriamente amenazados. Debemos acudir. La Madre Tierra militarizada, cercada, envenenada, donde se violan sistemáticamente los derechos elementales, nos exige actuar. Construyamos entonces sociedades capaces de coexistir de manera justa, digna y por la vida. Juntémonos y sigamos con esperanza defendiendo y cuidando la sangre de la tierra y los espíritus"

Veja um pouco mais sobre o trabalho de Cáceres e sua liderança assistindo este vídeo, criado para homenageá-la pelo Prêmio Ambiental Goldman no ano passado:

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