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4 casos trágicos de contaminação de solo

Além do Center Norte e Cingapura, o país já registrou episódios chocantes, de trabalhadores e famílias inteiras assentadas sobre verdadeiros coquetéis de resíduos tóxicos

EXAME.com (EXAME.com)

Vanessa Barbosa

Publicado em 11 de outubro de 2011 às 16h52.

São Paulo - A polêmica recente em torno das concentrações nocivas de gás metano no conjunto habitacional Cingapura, no bairro de Vila Guilherme, em São Paulo, e no seu vizinho, o Shopping Center Norte , interditado por dois dias na semana passada, sem dúvida ficará marcada na memória de muita gente.

Mas não da forma trágica pela qual outros episódios de contaminação de solo registrados nos últimos 30 anos marcaram o país - ao pesado custo de vidas humanas. Confira a seguir quatro casos emblemáticos, que evolveram famílias e trabalhadores assentados sobre verdadeiros coquetéis de resíduos orgânicos e rejeitos industriais e químicos.

Cidade dos Meninos, Rio de Janeiro

Uma fábrica de pesticidas instalada dentro de um complexo educacional. O cenário, aparentemente absurdo, foi registrado na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, na década de 50. Criada em 1946, em princípio como um abrigo para crianças e depois como um centro educacional, a chamada Cidade dos Meninos abrigou uma fábrica de HCH, vulgarmente denominado “pó-de-broca”, um pesticida, proibido no Brasil há mais de 20 anos, que utilizava como matéria-prima o cancerígeno benzeno.

Após dificuldades econômicas, a fábrica fechou em 1955, sem dar destinação à sobra de material tóxico, estimado em 400 toneladas na época. Com o tempo, as instalações da fábrica foram sendo depredadas e o pó, que era acondicionado em toneis de papelão, começou a se infiltrar pelo solo da região, que também servia de pasto para animais. Pior, os moradores encontraram no produto tóxico mil e uma utilidades, usando-o para matar piolhos e desinfetar casas, como inseticida. Alguns chegavam a vender o pó-de-broca em feiras livres. A partir daí, surgem as primeiras queixas de doenças provocadas pela exposição ao pó-de-broca, como leucemia e outros tipos de câncer.

Caso Rhodia, São Paulo

Em 1965, a empresa Clorogil inicia em Cubatão as operações de uma fábrica que produz os pesticidas denominados pentaclorofenol e pentaclorofenato de sódio, conhecidos popularmente como pó da China, composto considerado perigoso pela Organização Mundial de Saúde. Dez anos depois, o controle é assumido pela francesa Rhodia.

A fábrica é interditada em 1993, e na época constatou-se que a empresa havia despejado mais de 12 mil toneladas de resíduos tóxicos no solo, em 15 anos de operação. Dois anos depois, surgem as primeiras denúncias de problemas de saúde envolvendo trabalhadores da fábrica. De acordo com a Associação de Combates aos Poluentes (ACPO), dois operários morreram com quadros característicos de intoxicação aguda nos anos de operação da unidade.

Santo Amaro da Purificação, Bahia

A contaminação por metais pesados em Santo Amaro começou em 1960, com a instalação de uma empresa francesa de beneficiamento de chumbo, a Penarroya Oxydes, que, para atuar no Brasil, criou a subsidiária Cobrac - Companhia Brasileira de Chumbo, que começou a operar na forma de uma usina para produzir lingotes de chumbo.


Em 1989, foi vendida e incorporada à empresa Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda, pertencente ao Grupo Trevo, que embora tenha herdado o passivo ambiental e trabalhista dos franceses, não cumpriu com as obrigações, fechando a fábrica em 1993. A desativação deixou um rastro de poluição e doença causada, principalmente, por cádmio e chumbo. Dados da Associação de Vítimas de Contaminação por Chumbo e Cádmio de Santo Amaro (AVICCA) indicam que 619 ex-trabalhadores da fábrica foram a óbito e vários apresentam sequelas, assim como seus familiares e pessoas que moravam no entorno da empresa.

Condomínio Mauá, São Paulo

Uma das situações recentes mais preocupantes é a do Condomínio Residencial Barão de Mauá, na Grande São Paulo, erguido sobre um antigo lixão industrial. Onze anos atrás, um funcionário que fazia a manutenção de uma caixa de água subterrânea morreu vítima de uma explosão no subsolo, que tinha alta concentração de gases tóxicos.

Em laudo técnico, a Cetesb encontrou cerca de 40 tipos de gases tóxicos na região, entre eles o gás metano, também presente no Center Norte, e benzeno que, ao ser absorvido por via oral, através da ingestão de água, cutânea ou inalação, pode gerar alergias e afetar o sistema nervoso central. Exames em 329 moradores, feitos em 1991, constataram que quatro deles teriam índice da presença de ácido transmucônico, resultado do metabolismo de níveis de benzeno no organismo, responsável por inúmeras doenças, principalmente leucemia.

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Mas não da forma trágica pela qual outros episódios de contaminação de solo registrados nos últimos 30 anos marcaram o país - ao pesado custo de vidas humanas. Confira a seguir quatro casos emblemáticos, que evolveram famílias e trabalhadores assentados sobre verdadeiros coquetéis de resíduos orgânicos e rejeitos industriais e químicos.

Cidade dos Meninos, Rio de Janeiro

Uma fábrica de pesticidas instalada dentro de um complexo educacional. O cenário, aparentemente absurdo, foi registrado na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, na década de 50. Criada em 1946, em princípio como um abrigo para crianças e depois como um centro educacional, a chamada Cidade dos Meninos abrigou uma fábrica de HCH, vulgarmente denominado “pó-de-broca”, um pesticida, proibido no Brasil há mais de 20 anos, que utilizava como matéria-prima o cancerígeno benzeno.

Após dificuldades econômicas, a fábrica fechou em 1955, sem dar destinação à sobra de material tóxico, estimado em 400 toneladas na época. Com o tempo, as instalações da fábrica foram sendo depredadas e o pó, que era acondicionado em toneis de papelão, começou a se infiltrar pelo solo da região, que também servia de pasto para animais. Pior, os moradores encontraram no produto tóxico mil e uma utilidades, usando-o para matar piolhos e desinfetar casas, como inseticida. Alguns chegavam a vender o pó-de-broca em feiras livres. A partir daí, surgem as primeiras queixas de doenças provocadas pela exposição ao pó-de-broca, como leucemia e outros tipos de câncer.

Caso Rhodia, São Paulo

Em 1965, a empresa Clorogil inicia em Cubatão as operações de uma fábrica que produz os pesticidas denominados pentaclorofenol e pentaclorofenato de sódio, conhecidos popularmente como pó da China, composto considerado perigoso pela Organização Mundial de Saúde. Dez anos depois, o controle é assumido pela francesa Rhodia.

A fábrica é interditada em 1993, e na época constatou-se que a empresa havia despejado mais de 12 mil toneladas de resíduos tóxicos no solo, em 15 anos de operação. Dois anos depois, surgem as primeiras denúncias de problemas de saúde envolvendo trabalhadores da fábrica. De acordo com a Associação de Combates aos Poluentes (ACPO), dois operários morreram com quadros característicos de intoxicação aguda nos anos de operação da unidade.

Santo Amaro da Purificação, Bahia

A contaminação por metais pesados em Santo Amaro começou em 1960, com a instalação de uma empresa francesa de beneficiamento de chumbo, a Penarroya Oxydes, que, para atuar no Brasil, criou a subsidiária Cobrac - Companhia Brasileira de Chumbo, que começou a operar na forma de uma usina para produzir lingotes de chumbo.


Em 1989, foi vendida e incorporada à empresa Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda, pertencente ao Grupo Trevo, que embora tenha herdado o passivo ambiental e trabalhista dos franceses, não cumpriu com as obrigações, fechando a fábrica em 1993. A desativação deixou um rastro de poluição e doença causada, principalmente, por cádmio e chumbo. Dados da Associação de Vítimas de Contaminação por Chumbo e Cádmio de Santo Amaro (AVICCA) indicam que 619 ex-trabalhadores da fábrica foram a óbito e vários apresentam sequelas, assim como seus familiares e pessoas que moravam no entorno da empresa.

Condomínio Mauá, São Paulo

Uma das situações recentes mais preocupantes é a do Condomínio Residencial Barão de Mauá, na Grande São Paulo, erguido sobre um antigo lixão industrial. Onze anos atrás, um funcionário que fazia a manutenção de uma caixa de água subterrânea morreu vítima de uma explosão no subsolo, que tinha alta concentração de gases tóxicos.

Em laudo técnico, a Cetesb encontrou cerca de 40 tipos de gases tóxicos na região, entre eles o gás metano, também presente no Center Norte, e benzeno que, ao ser absorvido por via oral, através da ingestão de água, cutânea ou inalação, pode gerar alergias e afetar o sistema nervoso central. Exames em 329 moradores, feitos em 1991, constataram que quatro deles teriam índice da presença de ácido transmucônico, resultado do metabolismo de níveis de benzeno no organismo, responsável por inúmeras doenças, principalmente leucemia.

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