Biden tem 100 dias para mostrar serviço
Na história americana, é tradição iniciar o governo com medidas de impacto. O que esperar do novo presidente?
Ernesto Yoshida
Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 05h24.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 13h45.
Quando assumiu a Presidência dos Estados Unidos , em 1933, o democrata Franklin Delano Roosevelt lançou uma moda: traçar metas ambiciosas para os 100 primeiros dias de governo. Com o país mergulhado na Grande Depressão, Roosevelt não tinha tempo a perder.
Em 100 dias, aprovou 76 leis para resgatar o sistema financeiro, proteger a produção industrial e agrícola e recuperar o emprego — uma série de iniciativas que ficariam conhecidas como New Deal. De lá para cá, todos os ocupantes da Casa Branca passaram a dar um valor simbólico especial aos 100 primeiros dias de governo. Esse período virou um cartão de visita do que o novo presidente vai priorizar durante seu mandato — e uma amostra do que se pode esperar do novo governo.
No dia 20 de janeiro, se não houver nenhum imprevisto, Joe Biden vai assumir como o 46opresidente dos Estados Unidos. Depois dos incidentes de 6 de janeiro, quando centenas de apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio para impedir a sessão do Congresso que confirmaria Biden como vencedor da eleição de 2020, ficou claro que uma das tarefas mais urgentes do novo presidente é buscar reunificar um país dividido. Biden, que obteve votos de 81 milhões de americanos, ante 74 milhões para Trump, parece estar ciente disso. “É hora de colocar de lado a retórica dura, diminuir a temperatura, nos vermos novamente, nos ouvirmos novamente”, afirmou Biden em seu discurso de vitória, em novembro. “E, para progredir, precisamos parar de tratar nossos oponentes como inimigos.”
Na prática, não se sabe ainda como Biden pretende apaziguar os ânimos. Para o professor Jeffrey Engel, um especialista em história da Presidência americana, Biden tem um enorme desafio pela frente, diante da quantidade sem precedentes de “divisão, violência e ódio” semeada por Trump. Segundo Engel, o melhor caminho para Biden é tentar influenciar o comportamento dos americanos por meio do bom exemplo. “Um presidente não tem o poder de fazer as pessoas melhorar, mas pode facilmente tornar as pessoas piores”, diz.
Além de amainar a polarização política, Biden deverá priorizar nos 100 primeiros dias de governo o combate ao coronavírus. Durante a campanha eleitoral, o democrata afirmou que seu plano é gastar 25 bilhões de dólares na produção e na distribuição de vacinas. A meta é aplicar 100 milhões de vacinas em 100 dias.
Na economia, Biden prometeu que, em seu primeiro dia como presidente, vai aumentar o imposto de renda corporativo para 28% — a alíquota atual, de 21%, foi estabelecida pelo governo Trump em 2017. Biden, no entanto, afirma que pretende fazer uma revisão tributária mais ampla, de modo que apenas os americanos que ganham mais de 400.000 dólares por ano, ou 1,8% da população, tenham de pagar mais impostos.
Na frente ambiental, uma das promessas de Biden é reverter uma decisão de Trump e recolocar os Estados Unidos no Acordo de Clima de Paris, que estabelece metas para os países contra o aquecimento global. “Com Biden, os Estados Unidos passarão a contar com uma liderança comprometida com a ciência e o multilateralismo”, diz Eduardo Felipe Matias, doutor em direito internacional e autor do livro A Humanidade Contra as Cordas, no qual analisa as crises contemporâneas e a busca pela sustentabilidade. “O maior símbolo dessa inversão de sinais é a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, que deve trazer um novo impulso às negociações do clima.”