Mercados

Tensão em Hong Kong mostra que “índice do medo” segue vivo nas bolsas

Pressão de Pequim sobre o território, assim como guerra comercial e segunda onda do coronavírus, segue como foco de instabilidade nas bolsas

BOLSA DE HONG KONG: queda de 5,5% com pressão de Pequim (Tyrone Siu/Reuters)

BOLSA DE HONG KONG: queda de 5,5% com pressão de Pequim (Tyrone Siu/Reuters)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 22 de maio de 2020 às 07h07.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 13h15.

O governo chinês está aumentando a pressão sobre Hong Kong, num movimento que fez a bolsa do território cair 5,5% nesta sexta-feira. Pequim propôs, em reunião anual do partido comunista, a adoção de uma nova lei de segurança, aumentando seu controle sobre Hong Kong, palco de grandes manifestações por liberdade antes do início da quarentena imposta pelo coronavírus.

A possibilidade de maiores restrições “apavora” cidadãos, empresas e investidores que usam a ilha como porta de entrada para a Ásia, segundo o site americano CNBC. O embate entre china e seu território autônomo deve ser o tema do dia nas bolsas, e vem para relembrar que, apesar da freada do coronavírus no Hemisfério Norte, o medo segue vivo nas bolsas.

O VIX, conhecido como “índice do medo”, está em alta de 5% na manhã desta sexta-feira, mais uma vez perto de 30 pontos. O VIX mede a volatilidade implícita do mercado de opções americano e mostra que, apesar da recuperação das bolsas, o mercado financeiro ainda está longe da tranquilidade.

Embora tenha caído 65% desde as máximas de março, quando houve a maior pontuação desde a crise de 2008, o VIX ainda está 70% acima da média dos últimos dez anos e 114% à frente da pontuação com que começou o ano.

Para Joelson Sampaio, professor de finanças da FGV, o índice de volatilidade só vai voltar ao patamar normal quando a pandemia do coronavírus covid-19 acabar. “Enquanto não descobrirem uma vacina, um tratamento, ele vai continuar em um patamar mais alto porque não haverá muita clareza de quando a economia vai voltar a funcionar de forma integral”, afirmou.

Em março, foi justamente essa incerteza que fez com que o índice disparasse para 85,47 pontos. “Não se sabia a magnitude do impacto econômico”, disse o professor.
No mês, o S&P 500, principal índice do mercado americano, teve variação acima de 9% em quatro pregões, tanto para cima quanto para baixo. “Em um cenário desse pode acontecer qualquer coisa. Então, o preço para quem quer fazer hedge em opções explode. Ninguém quer ficar exposto”, comentou Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos.

Desde o pior patamar de março, quando chegou a acumular queda de 32% no ano, o S&P 500 já subiu 34,64%. Com a melhora das bolsas americanas, na última semana, o índice VIX chegou a ficar abaixo dos 30 pontos pela primeira vez. Após a pandemia, porém, Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da Geo Capital, acredita que ainda seja cedo para afirmar que o pior já passou.

“O S&P 500 tem um nível de concentração muito grande em empresas de tecnologia, que saem da crise até mais consolidadas do que entraram. Se olhar setorialmente, ainda há perdas significativas”, afirmou Aranha.

Matheus Soares, analista da Rico Investimento, acredita que tensões entre China e EUA, junto com a possibilidade de uma segunda onda da pandemia, sejam os principais fatores que podem voltar a fazer o índice VIX subir. “Isso tem o poder de aumentar o medo dos mercados.”

Acompanhe tudo sobre:bolsas-de-valoresChinaExame HojeHong Kong

Mais de Mercados

Não é só o Brasil: Argentina faz maior venda de reservas internacionais em um dia para segurar dólar

Por que a China domina o mercado de carros elétricos? 'Padrinho dos EVs' explica o motivo

Japão evita dar pistas sobre aumento dos juros e vai acompanhar os riscos à economia

Ibovespa ganha fôlego com bancos, Petrobras e Vale e fecha acima dos 121 mil pontos