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Miami brasileira: maior construtora da Paraíba surfa no crescimento de João Pessoa

Combinando luxo e segmento econômico, Setai Grupo GP se prepara para expandir pelo Nordeste

André Penazzi, fundador do Setai Grupo GP: construtora planeja alcançar R$ 1 bilhão em lançamentos este ano (Setai Grupo GP/Divulgação)
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 11 de março de 2024 às 08h08.

Última atualização em 11 de março de 2024 às 12h02.

Aposentados, funcionários em home office e entusiastas da vida “pé na areia” estão descobrindo os atrativos de João Pessoa, capital da Paraíba. Com praias paradisíacas, facilidades de capital e ares de interior, João Pessoa tem transformado turistas em moradores.

A chegada de novos perfis de morador se somou ao aumento da população local – João Pessoa é a capital do Nordeste cuja população mais cresceu nos últimos 12 anos –, e transformou a cidade em um canteiro de obras. Prato cheio para a construção civil, maior indústria do estado, que tem no Setai Grupo GP seu maior representante.

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A construtora e incorporadora é a segunda maior do Nordeste, atrás apenas da Moura Dubeux. Atuando na região metropolitana de João Pessoa, o Setai lidera em todos os segmentos de renda na Paraíba. A companhia acumula um valor geral de vendas (VGV) de R$ 2,1 bilhões em 17 anos de atuação, que vai do luxo, com a marca Setai, ao segmento econômico, com o Grupo GP. Em lançamentos, foram R$ 830 milhões apenas no ano passado.

“Metade dos nossos clientes são de fora de João Pessoa, com compradores do Norte ao extremo Sul do País. É uma cidade que o brasileiro consegue comprar”, afirma o empresário André Penazzi, fundador do Setai Grupo GP, em entrevista à EXAME. “Vemos uma alta especialmente de idosos, que escolhem a cidade para se aposentar. A gente brinca que João Pessoa é a Miami brasileira.”

Piscinas naturais em João Pessoa, na Paraíba (Cristian Lourenço/Getty Images)

A capital paraibana é uma das mais acessíveis do Nordeste, com o preço médio do metro quadrado cotado a R$ 6,11 mil– valor 30% menor que a média nacional, segundo o índice FipeZap. Por outro lado, a demanda – e consequentemente os preços – estão crescendo.João Pessoa foi a capital com maior aumento percentual nos preços dos imóveis em fevereiro deste ano,e, no acumulado de 12 meses, a cidade tem o segundo maior avanço entre as capitais do Nordeste, atrás apenas de Maceió (AL).

Ainda assim, o valor segue bastante atrativo para os acostumados com as cifras de outras capitais. “Vendemos à beira mar com um metro quadrado entre R$ 16 mil a R$ 25 mil, o que seria inviável em cidades como o Rio de Janeiro”, diz. O metro quadrado de luxo na capital carioca opera, em média, em uma faixa entre R$ 50 mil e R$ 80 mil.

A orla, por sinal, é um dos principais atrativos da cidade, com ares antigos e marcada por prédios baixos, sem os espigões característicos de tantas praias pelo Brasil. Isso se deve ao plano diretor da cidade que, nos anos 1970, restringiu o tamanho máximo dos prédios na avenida à beira-mar a até quatro andares. O que era restrição hoje virou um diferencial disputado pelas construtoras para atender os novos moradores.

“A pandemia fez com que o brasileiro descobrisse o Brasil. Quem vem à João Pessoa gosta das praias de mar quente, da segurança e do pouco adensamento. Então, as pessoas começaram a ‘invadir’ a cidade – no bom sentido –, causando um boom na última década”, avalia.

Orla de João Pessoa, com prédios mais baixos próximos à faixa de areia (Anderson Alcantara/Getty Images)

Entre o luxo e o econômico

Penazzi faz parte da terceira geração da família ligada à construção civil. O avô, Geraldo Guedes Pereira, era engenheiro e atuou na construção de vias. O pai, Germano, fundou a construtora Soenco, que lançou 39 empreendimentos de médio e alto padrão em João Pessoa. André e o irmão, Germano Filho, seguiram no ramo – mas sem herdar a empresa. Em vez de continuar com a Soenco, os dois fundaram o Grupo GP, abreviatura de dois dos sobrenomes da família, com foco inicial no segmento econômico.

A linha de alto padrão surgiu, em 2018, de forma despretensiosa – a ideia era alugar as unidades se não encontrassem interessados em comprar. Não foi o caso. “Vendemos tudo rapidamente, porque aqui faltava opção de alto padrão”, defende Penazzi.

A falta de concorrência, segundo o empresário, deixou o mercado imobiliário de luxo com a mesma cara desde os anos 1990.“Não havia inovação, o acabamento, principalmente, estava ultrapassado. Antes de começarmos, não havia uso ativo dos terraços nos prédios daqui.”

A joia do portfólio é um empreendimento de três torres em parceria com o Pininfarina, estúdio responsável pelo design da Ferrari. O complexo está em construção no Altiplano, um dos bairros mais nobres da capital, e marca a estreia do Pininfarina no mercado imobiliário nordestino.

A linha Setai também deve ser a primeira do grupo a se expandir pela região. Estão planejados dois lançamentos nas capitais mais próximas: Recife, em Pernambuco, e Natal, no Rio Grande do Norte. A fase atual é de tratativas; os lançamentos devem sair em 2025.

Projeção do empreendimento do Setai Grupo GP em parceria com o estúdio Pininfarina em João Pessoa (PB) (Setai Grupo GP/Divulgação)

O diferencial do Minha Casa Minha Vida

Na média e baixa renda, o foco da empresa segue sendo João Pessoa. Vale lembrar que a companhia cresceu no embalo do Minha Casa Minha Vida (MCMV), programa habitacional lançado em 2009 como principal solução de moradia para a baixa renda. Foram quase 100 empreendimentos lançados no segmento econômico na história da empresa, com destaque para um empreendimento faseado no bairro do Altiplano que, quando concluído, vai entregar 900 unidades.

“É o maior projeto do Minha Casa Minha Vida do estado. Vendemos unidades de dois quartos a R$ 250 mil e as de três quartos a R$ 350 mil. Em São Paulo, um projeto desse sairia a R$ 500 mil, e estaria desenquadrado do programa”, disse. O preço médio do metro quadrado dos projetos da empresa no programa ficam entre R$ 4 mil e R$ 5 mil.

O ponto de virada do Setai Grupo GP veio em 2015, quando se tornaram líderes em MCMV na Paraíba. A empresa aposta no custo mais baixo de construção da região para entregar um “econômico de luxo” – tendência também observada em concorrentes Brasil afora. “Os insumos aqui são mais baratos, além de outros custos, como transporte [serem menores]".

Para este ano, a construtora vai lançar mais três empreendimentos do Minha Casa Minha Vida. Com a marca Heritage, para média renda, haverá um lançamento, com faixa de preço entre R$ 8 mil e R$ 10 mil por metro quadrado. Por sua vez, a linha Setai, de alto padrão, vai lançar três empreendimentos este ano, com preço médio a partir de R$ 16 mil por metro quadrado. A expectativa é ultrapassar R$ 1 bilhão em lançamentos em 2024.

Empreendimento do Setai Grupo GP para o Minha Casa Minha Vida, no bairro de Altiplano, João Pessoa (PB) (Setai Grupo GP/Divulgação)

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