Será que a inteligência artificial vai nos fazer mais humanos?
Quando o conhecimento e geração de conteúdo são criados pela tecnologia, o que resta é a nossa humanidade
Colunista
Publicado em 15 de junho de 2023 às 14h32.
Última atualização em 15 de junho de 2023 às 14h40.
Até agora, o conhecimento e a habilidade de responder perguntas têm sido ingredientes fundamentais para o sucesso profissional e acadêmico. Desde os primeiros anos escolares, aprendemos que saber as respostas é o que nos garante boas notas. Saber, ter conhecimento e conteúdo nos torna alunos valorizados, e aprendemos a acumular informações como nosso diferencial.
Na maioria das organizações, gastamos a maior parte do tempo em reuniões, discutindo, analisando e debatendo dados, teorias e possíveis caminhos. Nosso valor vem da nossa capacidade de contribuir com conteúdo.
No entanto, agora, a inteligência artificial e outras soluções tecnológicas chegaram, demonstrando uma eficiência muito superior à nossa na geração de conteúdo, análise e busca de respostas. Que presente.
Durante certo tempo, pensávamos que a origem da ignorância coletiva era a falta de acesso à informação, mas agora sabemos que esse não é o problema. A questão é que não reservamos tempo para conversas verdadeiras, para mergulhar fundo no que está acontecendo e discutir realmente os grandes desafios até o final. Assim, vamos nos desconectando do que realmente acreditamos e passamos de sala em sala, de reunião em reunião.
Agora, teremos tempo para o que realmente faz a diferença: as pessoas, a cultura e a capacidade de assumir riscos por meio de relacionamentos de confiança que nos permitam navegar nesses tempos incertos. Ter tempo, espaço mental e energia para tomar decisões será uma possibilidade.
Para alcançar isso, precisaremos inverter nossa pirâmide de prioridades. O autoconhecimento e a capacidade de lidar com sentimentos e nos expressar a partir deles se tornarão competências essenciais. Em uma pesquisa recente que realizamos, constatamos que 88% dos líderes brasileiros afirmam gostar do seu trabalho, mas apenas 27% conseguem ser autênticos. Apenas 27% dos líderes estão plenamente satisfeitos em suas posições.
Será que finalmente faremos tempo para as conversas reais? Não precisaremos mais pular de sala em sala, de reunião em reunião. Seremos capazes de nos envolver em uma conversa até desvendar o que realmente impede o crescimento, o alinhamento: a falta de tempo para nos ouvirmos, para escutarmos com atenção e sem pressa, para nos conectarmos e compreendermos o ponto de vista do outro, para encontrarmos soluções coletivas que sejam boas para todos. O ChatGPT não nos ajudará nisso, mas abrirá espaço e tempo para essa agenda tão importante e tão negligenciada.
Tentei escrever este texto com o ChatGPT por dez vezes e descobri que o ele não tem a capacidade de me tocar emocionalmente. Certamente, seu português é mais correto, mas ainda está longe de conseguir falar sobre sentimentos.
Quando pedi para o ChatGPT me emocionar, sua resposta foi: "Sinto muito saber que você se sente assim, mas não consigo atender ao seu pedido. Como um modelo de linguagem de IA, meu objetivo é ajudar e fornecer informações úteis e positivas”.
Viva a humanidade!
*Pesquisa “Como se sentem as lideranças no Brasil” conduzida pelo Studio Ideias em maio 2023 com 529 lideranças de diversas empresas com abrangência nacional.