Ramal Ferroviario S11D/Carajás, Pará | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 25 de maio de 2021 às 06h15.
As recentes desvalorizações do minério de ferro no mercado internacional, com queda que chegou a 30% em relação ao recorde batido no início do mês, não foram suficientes para abalar o otimismo de analistas com as ações da Vale (VALE3). Nesta madrugada, após apresentar alguma recuperação após quatro pregões consecutivos de queda a commodity fechou cotada a 166 dólares em Dalian.
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Mesmo que distante da máxima de 218 dólares a tonelada, o preço do minério de ferro deve seguir beneficiando as ações da Vale, segundo Victor Hasegawa, gestor de renda variável da Infinity Asset.
“O preço atual ainda gera uma margem muito grande para a empresa”, diz Hasegawa. Segundo ele, no início do ano, quando as expectativas sobre as ações da Vale já eram positivas, as projeções do mercado consideravam o preço médio do minério entre 130 e 140 dólares a tonelada. “Hoje, a média já está mais próxima de 200 dólares do que de 100 dólares. O mercado vai ajustando o preço para as ações da Vale”, afirma.
Favorita dos analistas do mercado financeiro brasileiro, a ação da Vale foi a mais recomendada dos últimos quatro levantamentos que a EXAME Invest realiza todo início de mês junto a 18 corretoras e bancos. Em janeiro, ela ficou em segundo lugar, mas ainda assim sendo indicada pela maioria das casas.
As recomendações têm se mostrado certeiras. Desde o início do ano, as ações da Vale acumulam 25,53% de alta, tendo fechado a 109,78 reais no último pregão. A expectativa é que os papéis subam ainda mais. De acordo com a mediana de dez estimativas colhidas pela Refinitiv, o preço-alvo de 119,85 reais sugere um potencial de alta (upside) de 9,17%.
Uma das projeções mais otimistas, em termos de preço-alvo, é a da EXAME Invest Pro, que projeta um upside de 52,67%, considerando o preço médio do minério de ferro a 130 dólares. Com a manutenção da cotação da matéria-prima em patamares mais elevados por mais tempo, o preço-alvo deve subir junto.
De acordo com as projeções de analistas da S&P Global Market Intelligence, o preço médio da tonelada deve ficar em 153 dólares neste ano.
“A menos que a China corte drasticamente a produção de aço -- o que parece improvável -- ou a oferta global aumente significativamente, é difícil ver o que fará com que o minério de ferro recue para o consenso de mercado de cerca de 100 dólares para os próximos 12 e 24 meses”, afirmam os analistas da S&P em relatório.
Para tentar conter a demanda por minério de ferro, o governo chinês tem restringido as operações de siderúrgicas consideradas mais poluentes. Neste mês, quando o preço da commodity chegou a patamares nunca vistos, a bolsa de Dalian, na China, aumentou os requisitos para a impedir movimentos “especulativos” no mercado.
Por outro lado, a demanda por minério de ferro segue firme na segunda maior economia do mundo, onde, ao mesmo tempo em que coíbe especulação, o governo aposta em projetos de infraestrutura para estimular a economia local. Somado ao “lento” crescimento da oferta, isso deve manter o preço da commodity em alta, segundo a agência Fitch.
“Esperamos que o impacto do estímulo na demanda comece a desaparecer a partir do final de 2021, conforme os projetos de construção sejam concluídos e o pipeline de novos projetos diminua”, afirmam analistas em relatório.
Mesmo com a queda de demanda esperada para o fim do ano, a Fitch projeta um preço médio de 160 dólares a tonelada para este ano. Até 2025, no entanto, o preço deve cair para 75 dólares, segundo as projeções da casa.
Mas não é só de minério de ferro que vive a Vale. Com praticamente toda a produção voltada para o exterior, a variação cambial é uma peça importante na equação do resultado da empresa -- e uma forte desvalorização do dólar pode ter efeitos negativos sobre seus papéis.
“O dólar sempre caía [frente ao real] quando as commodities iam bem. Desta vez, as commodities foram muito bem e o dólar subiu. Para a Vale, foi espetacular. Mas o valor do dólar ainda pode corrigir para 4,80 reais se vierem as reformas [tributária e administrativa]”, diz Hasegawa.
Uma desvalorização mais acentuada do dólar, segundo o gestor, pode derrubar as ações da Vale, mas apenas no curto prazo.
“Existe a correlação entre o dólar e as ações de exportadoras no mercado. O real se aprecia e as ações delas vão mal. Mas, quando sai o resultado, o mercado diz que, com ‘EV/Ebitda [valor da empresa dividido pelo Ebitda] ainda nesse nível, vou comprar’. Com o dólar abaixo de 4 reais, seria outra história. Mas não vejo isso acontecer", afirma o analista.
Segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, a Vale tem EV/Ebitida de 3,74x, o que representa um desconto de 40% em relação ao múltiplo da maior produtora, a mineradora anglo-australiana Rio Tinto.
O prêmio pago pelas ações da Vale, segundo Mathew Hodge, CFA, diretor de análise da Morningstar, ainda é reflexo do “pessimismo após a tragédia da barragem de Brumadinho [em janeiro de 2019] e as repercussões financeiras em torno dos custos operacionais de reparação e reparação”.
Com uma visão menos otimista sobre a companhia, Hodge estipula o preço-alvo de suas ADRs a 20 dólares, 3% abaixo do patamar em que é negociada no mercado americano.