Novo fundo da SPX, o SPX Long Bias Previdenciário, até 100% do patrimônio será aplicado em ações (SXC/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 28 de abril de 2021 às 06h03.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 14h24.
Mais de 80% dos fundos de previdência brasileiros aplicam seus recursos em ativos de renda fixa. A queda na taxa básica de juros, a Selic, nocauteou o rendimento desses investimentos, o que colocou em jogo o retorno da aposentadoria de milhares de brasileiros.
Fundos de previdência multimercado ou de ações não são comuns, em parte por causa das restrições para a composição dos ativos de previdência que existiam até um passado bem recente. Só em 2019 a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mudou as regras para os fundos de aposentadoria, permitindo uma alocação maior em renda variável.
A mudança na regra foi essencial para que gestoras independentes entrassem no segmento de fundos de previdência, antes dominado essencialmente pelos grandes bancos.
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Uma delas é a SPX, que lançou um novo fundo de previdência, o SPX Long Bias Previdenciário. Trata-se de um fundo multimercado que aplicará até 100% do capital em ações e, por isso, é destinado aos investidores qualificados (como é classificado quem tem mais de 1 milhão de reais em patrimônio investido ou quem possui alguma certificação para atuar no mercado financeiro). O fundo está disponível na plataforma do BTG Pactual.
Em entrevista à EXAME Invest, Bruno Marangoni, sócio da área de produtos e novos negócios da SPX, e Rodrigo Godinho, sócio de relações com investidores da gestora, disseram que a mudança nas regras foi um importante passo para o desenvolvimento do fundo e da própria indústria de previdência privada.
"Com o aumento da permissão para alocação em ativos offshore, as regras para os produtos de previdência se igualaram às de fundos em geral. A partir daí não vimos mais a necessidade de uma área específica para fazer gestão desses fundos", explica Marangoni.
Marangoni lembra que os produtos de previdência visam, em geral, o longo prazo, e por isso a composição da carteira em renda variável é ainda mais oportuna.
"Investimento em bolsa precisa ser de longo prazo, não dá para tentar acertar o timing. A melhor equação é investir ao longo do tempo e confiar que gestor do fundo vai encontrar boa rentabilidade", diz o sócio da SPX.
O fundo lançado recentemente vai ser parecido com o SPX Falcon, o fundo de investimento em ações da casa e que representa o DNA da gestora, de acordo com os sócios. Embora tenha uma estratégia considerada conservadora, a ideia é que a flexibilidade do Falcon seja emprestada para o "primo" SPX Long Bias Previdenciário.
"Uma das razões que nos levou a seguir com essa estratégia de long bias é porque esse é um produto que tem mandato mais flexível, podendo operar em diversos mercados", explica Godinho. Ele lembra da importância de fazer bons hedges, principalmente em um cenário de alta incerteza, como o atual.
De acordo com os sócios, o objetivo do novo fundo previdenciário é o de alcançar um retorno consistente mesmo em períodos mais turbulentos.
Para alcançar o propósito, estratégias como a redução da exposição ao mercado brasileiro podem fazer sentido -- o fundo poderá ter, por exemplo, até 40% de aplicações no exterior. Como algumas dessas ferramentas só estão disponíveis para fundos direcionados a investidores qualificados, a opção da SPX foi adotar esse perfil para o novo produto de previdência.
Outro aspecto inerente à classificação de qualificado é o prazo de resgate do fundo. O sócio da SPX explica que a maioria dos fundos de previdência brasileiros tem um prazo de resgate inferior a 10 dias, inclusive os que têm maior composição de renda variável. No SPX Long Bias Previdenciário, a regra é de D+30.
"É um fundo menos líquido, mas o prazo de resgate mais longo dá a possibilidade de trabalhar com exposições maiores", explica Marangoni.
No dia-a-dia, a gestão do fundo ficará sob as batutas do sócio Leonardo Linhares e de Bruna Silveira, responsável pelo time de análise de ativos. O foco da dupla será a análise constante dos ativos de bolsa para captar boas oportunidades de entrada e saída.
O número de ações na carteira do novo fundo da SPX "não está escrito em pedra", como dizem os sócios, mas o objetivo é não pulverizar o patrimônio. A composição atual é de cerca 80% em ativos locais e 20% em ativos externos.
Entre os papeis brasileiros escolhidos estão empresas que a SPX acredita serem capazes de navegar melhor diante das dificuldades do cenário local, como Natura, Assaí e Vale.
Os riscos para o mercado aumentaram significativamente nos últimos meses, como lembra Marangoni. Ele cita a morosidade da vacinação contra a covid-19 e as incertezas fiscais como fatores que potencialmente impactarão a bolsa no curto e médio prazo. Para lidar com os problemas, o fundo pode adotar estratégias mais defensivas até que o cenário fique mais claro.
"Acreditamos que haverá uma retomada cíclica, mas no fim a turbulência política e a dificuldade de acertar o fiscal podem continuar ofuscando essa retomada. Já no mercado externo a recuperação econômica é muito mais clara", observa Godinho.