Renda fixa de volta ao topo: veja 5 tipos de fundo para investir
Alta da taxa Selic e turbulência na bolsa aumentam atratividade do segmento
Beatriz Quesada
Publicado em 13 de setembro de 2021 às 06h15.
Última atualização em 13 de setembro de 2021 às 10h40.
O jogo virou para a renda fixa . Deixada de lado pelos investidores nos últimos dois anos, o segmento tem reconquistado protagonismo conforme a taxa básica de juros aumenta. A Selic começou 2021 em 2% ao ano, foi elevada quatro vezes consecutivas e está em 5,25%. Para o fim do ano, a expectativa no mercado é que a taxa fique em torno de 7,50% ao ano, sendo que alguns analistas já começam a prever o retorno da Selic de dois dígitos para 2022.
A alta dos juros engorda os rendimentos da renda fixa e tira a atratividade da bolsa. Segundo cálculos da Anbima, os fundos de renda fixa tiveram a melhor performance da indústria em agosto e registraram 41 bilhões de reais em captação líquida – o melhor resultado do ano. A mudança fica ainda mais significativa ao considerar que, em 2020, o patrimônio líquido da indústria de fundos registrou a menor participação da década em produtos de renda fixa.
Dentro do segmento, os juros mais altos beneficiam principalmente os fundos que investem em títulos pós-fixados, atrelados, geralmente, à Selic (CDI) ou à inflação – que também está em trajetória de alta.
“São fundos menos voláteis, que conseguem capturar com velocidade o processo de aperto monetário. É natural, portanto, que o investidor migre ou aposte nesse tipo de estratégia”, afirma Marcelo Mello, vice-presidente de investimento, vida e previdência da SulAmérica.
Parte dos lucros com o movimento altista dos juros já foi realizado, mas ainda há oportunidades para quem vai começar a reacomodar a carteira agora. Antes de tudo, é importante reforçar que a renda fixa sempre deve fazer parte de um portfólio balanceado – seja em momentos de alta ou baixa da Selic. A EXAME Invest ouviu especialistas que apontam quais tipos de fundo o investidor deve manter no radar:
Fundos DI e reserva de emergência
Os fundos referenciados DI, que investem a maior parte de seu patrimônio em títulos públicos atrelados à Selic, ganham atratividade com a alta da taxa. O produto é bastante procurado para construção da reserva de emergência, que funciona como um colchão de liquidez ao qual o investidor pode recorrer em momentos de necessidade.
Esses fundos vinham ficando em segundo plano nos portfólios por apresentarem rendimentos baixos quando a Selic estava a 2% ao ano. Com os juros em 5,25%, isso mudou. “Os fundos DI e a reserva de emergência voltaram ao radar dos investidores. Quem não tinha esse colchão de liquidez agora vê mais argumentos para deixar parte da carteira nesses títulos”, avalia Juliana Machado, analista de fundos de investimento do BTG Pactual digital.
Machado reforça que, independentemente de a taxa de juros estar alta ou baixa, o investidor sempre deve manter uma reserva de emergência atrelada ao Tesouro Selic, que é uma das aplicações mais seguras do mercado brasileiro.
Fundos de crédito privado
Os fundos de crédito privado são compostos por títulos como debêntures , Certificados de Recebíveis Imobiliários, os CRIs, e Certificados de Recebíveis do Agronegócio, os CRAs. Emitidos por empresas, e não pelo governo, os títulos de crédito privado são mais arriscados e, consequentemente, oferecem alguns dos melhores rendimentos do mercado de renda fixa com o objetivo de atrair o investidor.
O retorno é dividido em duas partes: um prêmio sobre o risco de crédito (spread) mais um percentual de um indexador atrelado geralmente à Selic ou à inflação – que estão em trajetória de alta. “É uma situação vantajosa porque são títulos que pagam um prêmio sobre uma taxa que está subindo”, explica Machado.
Vale lembrar que o setor também está passando por um movimento de compressão dos prêmios de crédito, que são a segunda parte dessa remuneração. Essas taxas estão caindo por causa de um movimento técnico: os prêmios ficaram muito altos durante a pandemia e agora, com a volta da demanda, estão sendo corrigidos para baixo.
Como as taxas e os preços dos títulos são inversamente proporcionais, isso significa que a compressão do spread aumenta o preço do título, beneficiando quem já tem essa opção na carteira.
A boa notícia é que a janela de oportunidade ainda está aberta para quem ainda não estava com esse produto no radar. “Ainda vale muito a pena entrar nesses fundos porque é possível que a Selic fique ainda mais alta do que as primeiras projeções. Quem entrar agora vai pegar um pedacinho desse reajuste”, conclui a analista.
Fundos de debêntures incentivadas
Dentro da categoria de crédito privado, os fundos de debêntures incentivadas são uma boa opção para o investidor que quer se proteger do avanço da inflação. As debêntures incentivadas são fontes de financiamento para projetos de infraestrutura e, por isso, são isentas de imposto de renda (IR).
“Os projetos financiados por esse tipo de debênture são de alto consumo capital e de muito longo prazo, então eles são ligados ao IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, inflação oficial do País]. É uma opção que traz um ganho real para o investidor”, destaca Machado.
FIDCs
Ainda fora do radar de grande parte dos investidores estão os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios ( FIDCs ). Mais restritos, esses fundos aplicam capital em títulos de créditos formados por contas a receber de empresas.
Os FIDCs devem investir, no mínimo, 50% do seu patrimônio em direitos creditórios e, atualmente, são restritos aos investidores qualificados e profissionais, que possuem ao menos 1 milhão de reais em aplicações financeiras.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estuda liberar o acesso do pequeno investidor a esses produtos. Enquanto isso, é possível buscar alguns fundos de crédito que tenham parte pequena do patrimônio em FIDCs.
“É um segmento que pode crescer muito com a democratização do crédito no Brasil. É uma oportunidade para os próximos anos”, afirma Marcelo Mello, da SulAmérica.
E renda fixa no exterior?
Outra forma de diversificar o portfólio é investir em renda fixa no exterior. Nesse caso, grande parte dos ganhos vem da variação cambial, e não da renda fixa propriamente dita. Isso porque as taxas de juros em regiões como Europa e Estados Unidos estão próximas de zero, rebaixando os rendimentos dos títulos públicos.
Para Mello, isso já é motivo para ficar de fora desses fundos por enquanto. “No Brasil a taxa de juros está subindo. Então, você deixar de investir na renda fixa brasileira para investir fora do país com juros muito baixos parece não fazer sentido neste momento”, argumenta.
Uma possível alta nos juros no próximo ano está no radar tanto nos Estados Unidos quanto na zona do euro. Ainda assim, são economias com juros estruturalmente baixos – ou seja, mesmo que subam, a alta não será assim tão grande. “Quem buscar rendimentos mais interessantes terá de apostar em títulos privados de empresas menos conhecidas, o que é mais arriscado do que investir em um título igualmente rentável de uma boa pagadora brasileira”, diz Mello.