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Por que investir em FIDCs, a nova fronteira da renda fixa

Fundos de Investimento em Direitos Creditórios ainda são pouco acessíveis, mas prometem retornos superiores a outros ativos de crédito

(Phil Ashley/Thinkstock)
BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 26 de outubro de 2021 às 06h05.

Com a renda fixa voltando a ganhar protagonismo na carteira dos investidores, crescem as buscas para diversificar os aportes dentro do segmento – e conseguir rendimentos mais altos.

Quem procura retornos mais robustos deve ficar de olho em um produto ainda relativamente desconhecido do brasileiro: o FIDC, Fundo de Investimento em Direitos Creditórios.

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O fundo investe ao menos 50% de seu patrimônio em títulos de crédito de contas a receber de alguma empresa. Funciona assim: muitas companhias oferecem produtos e serviços a um prazo mais longo, mas precisam manter o caixa até receber o pagamento por meio de  cheques, parcelas de cartão de crédito ou aluguéis.

Para contar antes com o dinheiro, a empresa negocia esses direitos a receber (direitos creditórios), que são comprados por investidores. Assim, quando o pagamento da dívida for efetivado, o dinheiro não irá para a empresa, mas sim para quem investiu.

Como todo produto de crédito, o risco do investimento é o calote da dívida. Para proteger o investidor, os FIDCs normalmente oferecem cotas com riscos e rentabilidades diferentes. As cotas mais seguras – e menos rentáveis – são chamadas de cota sênior, enquanto as mais arriscadas e que trazem maior retorno são as subordinadas. As cotas mezanino, por sua vez, oferecem risco e retorno intermediários.

Leonardo Calixto, co-fundador e CEO da Empírica, gestora independente focada em crédito estruturado, explica como o sistema de cotas foi criado para proteger o investidor.

“Um exemplo: se a perda estimada da carteira com inadimplência é de 8%, é possível desenhar um fundo com 25% de cotas subordinadas, deixando um espaço considerável que protege a cota mezanino. A cota mezanino, por sua vez, pode representar outros 25%, deixando a cota sênior com metade do fundo. Isso significa que é preciso uma perda superior a 50% para atingir a cota mais segura – isso considerando que a perda estimada é de apenas 8%”, diz.

Outro ponto positivo é o fato de que o risco dos FIDCs é classificado por agências de rating, o que traz mais segurança para o investidor.

“Muitas cotas sênior são classificadas com um grau de risco tão baixo quanto de um título considerado muito seguro, como um CDB. Só que o FIDC tem um retorno bem maior. Enquanto um título bancário paga em torno de 80% a 90% do CDI, uma cota de FIDC pode remunerar em CDI + 4%, por exemplo”, afirma Calixto.

As condições atrativas têm chamado a atenção de investidores, que buscam cada vez mais esse tipo de produto. Segundo cálculos da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o volume de ofertas públicas desses fundos está no maior patamar dos últimos seis anos, com 42,6 bilhões de reais emitidos até setembro de 2021 – valor 26% maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior.

Além das emissões primárias, o mercado secundário de FIDCs têm crescido substancialmente nos últimos anos, o que levou a Anbima a criar um novo sistema de precificação desses ativos.

Lançada na última semana, a ferramenta deve estimular as negociações de FIDCs, segundo Hilton Notini, gerente de Preços e Índices da Associação. "As informações geradas auxiliam nas negociações de compra e venda das cotas desses fundos e, consequentemente, contribuem na promoção da liquidez", afirma Notini em nota.

Pequeno investidor fica de fora?

Para especialistas no mercado, o que impede um crescimento ainda mais acelerado dos FIDCs é que eles ainda não são acessíveis a todos os investidores. Para investir é necessário ser, no mínimo, um investidor qualificado, ou seja, deter mais de 1 milhão de reais em aplicações financeiras.

Esse tipo de restrição é comumente adotada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), regulador do mercado de capitais, em produtos considerados complexos ou que ainda são muito recentes no mercado. Foi o caso dos FIDCs quando foram aprovados no Brasil ao final de 2001. Porém, prestes a completar 20 anos no mercado brasileiro, os FIDCs podem estar mais perto de chegar ao pequeno investidor.

A CVM está estudando reformular as regras para os fundos de investimento no Brasil, abrindo margem para que os FIDCs fiquem acessíveis a todos os investidores. O processo seria semelhante ao que ocorreu com os BDRs, que se tornaram acessíveis ao pequeno investidor apenas no ano passado.

Ainda não há data estipulada para que a nova regra entre em vigor. Existe, porém, uma segunda forma de deixar os FIDCs um pouco mais acessíveis: reformular os critérios para investidores qualificados.

O r egulador está estudando baixar o patrimônio mínimo para ser qualificado de 1 milhão de reais (equivalente a 957 salários-mínimos) para o equivalente a 600 salários-mínimos (627 mil reais). Outra opção seria acrescentar um segundo critério de avaliação: a renda anual do investidor, que deveria estar em torno de 15 salários mínimos mensais, o que equivale a um ganho de 16.500 reais ao mês.

Vale frisar que, também neste caso, não há prazo ou garantias de que a mudança será implementada. Ainda assim, Calixto, da Empírica, acredita que a flexibilização do acesso aos FIDCs é uma tendência clara que pode, inclusive, revolucionar o mercado de crédito no Brasil.

Isso porque, atualmente, os bancos recebem a maior parte do financiamento dos investidores que querem apostar em carteiras de crédito – e isso pode mudar conforme os FIDCs fiquem mais populares.

“O investidor empresta dinheiro para o banco via CDB e esse recurso é usado para financiar empréstimos dos correntistas do banco. Mas o investidor não sabe para onde o seu dinheiro está indo. Quando você coloca o mesmo dinheiro na cota de um FIDC, é possível saber exatamente para onde o capital está sendo direcionado. É um nível muito maior de transparência e de conexão com o investimento”, afirma.

Para Calixto, a liberação dos FIDCs para todos os investidores pode gerar, inclusive, uma desbancarização do setor de crédito. “Os bancos vão perder uma base muito grande de investidores se não se reinventarem para oferecer taxas mais competitivas”, diz.

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