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Opportunity, JGP e Kapitalo: recessão em desenvolvidos não está descartada

Os países desenvolvidos, sobretudo os EUA, vão precisar adotar um choque de juros mais severo do que se espera para conter a alta dos preços

Inflação: o aperto monetário, como é chamado o processo de elevação de juros para conter a disparada da inflação, já é uma realidade para países emergentes como o Brasil (Paulo Whitaker/Reuters)

Juliana Machado*

Publicado em 20 de abril de 2022 às 10h48.

O Brasil não está mais sozinho na lista de países que terá que fazer esforços pesados para conter a disparada da inflação. Os países desenvolvidos, sobretudo os EUA, vão precisar adotar um choque de juros mais severo do que se espera para conter a alta dos preços – um remédio tão amargo que não permite tirar do cenário a probabilidade de uma recessão nesses países. A opinião parece exagero, mas foi fundamentada por Opportunity, JGP e Kapitalo, três grandes gestoras de mercado experientes na operação com fundos multimercados (que operam várias classes de ativos).

“É fácil falar que o Banco Central [americano] consegue desacelerar a economia [via aumento de juros] sem colocar o país em recessão e a verdade é que isso poucas vezes aconteceu na história”, afirma Marcos Mollica, sócio e gestor dos fundos multimercados do Opportunity. “O trabalho que o Fed terá que fazer vai gerar uma desaceleração econômica considerável e o mercado está muito otimista, na minha visão, em relação a isso.”

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A declaração foi endossada por Bruno Cordeiro, sócio da Kapitalo Investimentos e gestor do fundo K10, e também por Evandro Mota, sócio e gestor do time de multimercados da JGP, durante a live BTG Atualidades, em que discutiram de que modo a inflação global afeta os investimentos. A mediação foi de Gabriel Barca, especialista em fundos do BTG Pactual.

 

 

O aperto monetário, como é chamado o processo de elevação de juros para conter a disparada da inflação, já é uma realidade para países emergentes como o Brasil, que historicamente enfrentam a questão e precisaram lidar com a retomada do fluxo de pessoas e mercadorias no pós-pandemia com a reorganização das cadeias de produção globais. Com a volta da demanda, a alta de preços ficou ainda mais demarcada, o que exige dos bancos centrais de países que adotam metas inflacionárias uma atuação firme com elevação do juro, no intuito de frear o consumo e reequilibrar a equação. O problema é que, se é verdade que não há almoço grátis no mercado, essa atuação tem uma consequência: o encarecimento do dinheiro e a contração econômica.

Questionados se estamos diante de um ciclo de inflação e juro estruturalmente mais alto no Brasil e no mundo, a visão também converge: o mundo talvez não veja níveis tão altos quanto os esperados no final deste ciclo, mas poderá conviver com um dinheiro mais caro em todo lugar. “Teremos dificuldade de ver juros mais baixos com inflação mais baixa, o ponto de equilíbrio tende a ser diferente. Agora, claramente estamos numa situação descontrolada, mas usar 2008, por exemplo, como parâmetro é errado. Vamos lidar com questões que manterão [esses indicadores] estruturalmente mais altos”, diz Mota, da JGP.

Por “questões”, Mota se refere a uma direção do mundo pela “desglobalização”, fenômeno que ganhou terreno com a eclosão da guerra entre Ucrânia e Rússia. Trata-se de um contexto geopolítico muito particular, em que os países se afastam das mesas de negociação global para fazer escolhas de parceiros comerciais com base em posições ideológicas. É o caminho da Rússia, por exemplo, ao se aproximar da China depois que os EUA proibiram as importações de petróleo e gás natural do país do leste europeu.

E como fica o Brasil nisso? Cordeiro, da Kapitalo, responde: o país sempre teve um prêmio inflacionário em relação ao exterior. Logo, se o patamar lá fora for maior, aqui também será. É cartesiano. “O trabalho do Banco Central é super difícil. Se ele conseguir desinflar as expectativas [de inflação], é um golaço, mas ele não pode falar isso porque lá fora, se rodar a 3%, não tem como a meta aqui ser 3%. Teria que ter um fiscal muito arrumado aqui para chegar nisso.”

Durante a live, os gestores também teceram comentários sobre as posições atuais carregadas na casa, que incluem um portfólio de posições mais leves e menos direcionais. No Opportunity, o fundo vem concentrando posições tomadas na parte curta das curvas de juros (quando o gestor espera que os contratos de juros futuros de vencimento mais curto se ajustem para cima, esperando uma alta do juro da economia em prazos menores). Na JGP, os multimercados também carregam posições tomadas em juros globais, porém priorizando uma carteira tática e flexível, sem deixar passar oportunidades vencedoras, sobretudo entre as empresas. E no K10, da Kapitalo, posições mais direcionais em juros e commodities e menor em moedas e bolsa, depois do “rali” do real sobre o dólar e do Ibovespa. Para conferir a visão completa dos gestores, assista:

*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na Exame e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores.

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