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Não confunda o objeto e o seu reflexo

Volatilidade e aversão a risco distorcem a percepção de valor

Reflexo do Congresso Nacional em Brasília: percepção de risco vinda do mundo político afeta preços dos ativos no mercado | Foto: Paulo Fridman/GettyImages (Paulo Fridman/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2021 às 11h27.

Por Ricardo Schweitzer*

Eles nunca foram tão comuns no Brasil, mas com certeza você saberá do que eu estou falando: as casas dos espelhos são atrações de parques de diversão que consistem de labirintos de espelhos e paredes de vidro.

Enquanto alguns espelhos são planos, outros tem concavidades e convexidades que distorcem a imagem refletida. Por vezes o resultado é simplesmente engraçado; noutros momentos, contudo, pode ser um pouco assustador.

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É essa a analogia a qual recorro para falar sobre o atual momento do mercado brasileiro: estamos vagando por um labirinto de espelhos. Em certos momentos nos deparamos com reflexos esguios; em outros, tudo é achatado. Entre tantas distorções, uma vez ou outra um raro espelho plano mostra as coisas como realmente são.

Mas, depois de algum tempo no labirinto, até mesmo nossa memória da normalidade começa a se perder. E um passeio suficientemente longo certamente nos levaria à situação de não mais discernir uma coisa da outra...

O pequeno investidor -- especialmente o menos experimentado no mercado -- tem a tendência de olhar para os preços de tela como se eles tivessem o compromisso de serem reveladores de alguma coisa por si sós. Se algum ativo está subindo ou caindo, há algum motivo concreto que explique aquele movimento.

Só que nem sempre é assim.

Em ativos menos líquidos, há bem menos gente “fazendo conta” do que gostaríamos de imaginar. E qualquer movimento puramente técnico por parte de um ou mais participantes (como, por exemplo, um fundo perante a necessidade de fazer caixa para fazer frente a resgates) pode ser confundido com um sinal de que algo de material mudou.

Nos ativos mais líquidos esse efeito é muito mitigado, mas há outros que se fazem presentes: melhoras ou pioras da percepção geral de risco levam investidores a ampliar ou reduzir posições de maneira muito impessoal em relação às empresas em si (pense, por exemplo, em fundos que replicam índices). E em momentos de maior euforia ou depressão dos mercados, muito pouco julgamento a respeito do que se passa com aquelas empresas, efetivamente, no mundo real acaba sendo feito.

Dependendo do espelho pelo qual está se passando à frente a cada momento, a imagem pode ser muito distorcida -- para melhor ou para pior -- em relação à realidade. E é justamente por isso que contar tão somente com o preço como fator de julgamento de qualquer coisa é um convite ao engano.

Temos enfrentado semanas difíceis no mercado brasileiro. E tais dificuldades vêm, fundamentalmente, de uma maior percepção de risco vinda do mundo político -- com impactos bastante limitados na realidade presente ou futura das empresas.

E o grande paradoxo é que isso acontece justo em meio à temporada de resultados do 3T21, que, sinceramente, está saindo melhor que a encomenda

Resultado ruim? Ação cai. Resultado bom? Ação cai também. Assim têm sido os últimos dias, desafiando a convicção dos investidores nas teses de investimento.

Cobre-me depois: as incertezas que abalam nossa bolsa são transitórias. O mercado, maníaco-depressivo por natureza, eventualmente se acalma e alguma racionalidade volta a guiar os preços.

E enfatizo: este é um excelente momento para dar menos atenção para o homebroker. Em vez disso, que tal espiar os releases de resultado das empresas nas quais você investe? Acompanhar as teleconferências também é uma excelente ideia.

Isso muda nossa perspectiva: recorda-nos de que são investimentos em ativos reais, e não em letras e números numa tela piscante, hipnótica.

É o que tenho feito por aqui. E, francamente, boas surpresas começam a surgir em meio à safra de balanços.

Foque no que realmente interessa. Siga pelo labirinto sem se deixar abalar por imagens distorcidas. Eventualmente daremos de cara, novamente, com algum espelho que reflita as coisas como elas realmente são.

Bom final de semana.

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve na EXAME Invest quinzenalmente.

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