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Mulheres só investem mais do que os homens na poupança

Investidoras não conseguem economizar tanto quanto público masculino e têm menos conhecimento

Para Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos de Finanças da FGV, educação financeira ajuda, mas não resolve todo o problema (FGV/Divulgação)

Marília Almeida

Publicado em 15 de julho de 2021 às 06h00.

Última atualização em 18 de julho de 2021 às 16h23.

Quando se trata de investimentos, as mulheres só aplicam mais do que os homens na poupança, que vem perdendo para a inflação pelo décimo mês consecutivo. Enquanto 31,6% das mulheres dizem aplicar dinheiro na caderneta, 27,2% dos homens disseram o mesmo. É que aponta um recorte de gênero da pesquisa Raio X dos Investidores 2020, feita pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) a pedido da EXAME.

A maior dicotomia entre os sexos aparece em ações: enquanto 4,9% dos homens disseram comprar papéis de empresas na bolsa, apenas 1,5% das mulheres disseram investir na modalidade. Por outro lado, na previdência privada ambos os gêneros investem com quase nenhuma diferença.

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Para Marcelo Billi, superintendente de educação financeira na Anbima, a própria pesquisa deixa claro o porquê. Quando questionados sobre se conseguiram economizar algum dinheiro em 2020, 41,3% dos homens ouvidos disseram que sim, contra 30,3% das mulheres.

Enquanto praticamente o mesmo porcentual de homens e mulheres conhecem a aplicação na caderneta, quando o assunto é ações apenas 17% das mulheres dizem conhecer o investimento, contra 24,9% dos homens. Entre os homens, 43% não conhecem nenhum tipo de investimento, contra 50,8% das mulheres.

“É um fenômeno global. A explicação é que provavelmente a mulher tem menos educação financeira do que os homens. Precisamos entender como diminuir esse grau de desconhecimento, com cursos e treinamentos voltados para elas”, diz Billi.

Crescimento tímido na bolsa e amplo no Tesouro Direto

Apesar do aumento considerável e acelerado de mulheres na B3, a participação do gênero feminino na aplicação de produtos de renda variável negociados na bolsa de valores (ações, ETFs, FIIs e BDRs) se movimentou pouco nos últimos anos: por volta de 5%.

Em junho o público feminino ainda representava 29% do total de investidores em ações e outros produtos, apesar de corresponder a 51,8% da população brasileira. É diferente do que ocorreu no Tesouro Direto, onde o público feminino apresentou aumento considerável na sua participação, saindo de 25% em 2013 para 41% em 2021, segundo dados da B3, que mantém a custódia dos títulos públicos.

Questionada sobre se há um apetite menor ao risco por parte das mulheres, Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Cef), refuta a tese. “Quando a mulher tem dinheiro não dá para dizer que investe de forma muito diferente dos homens: elas investem até um valor mais alto. Contudo, é necessário lembrar que ainda é difícil isso acontecer".

Para que tenham oportunidade de investir mais, diz a coordenadora do FGV-Cef, as mulheres precisam obter mais renda. "Sabemos que em geral, a mulher ganha menos do que os homens. Além disso, quando se tornam mães, a maioria opta por sair do mercado de trabalho, voluntariamente ou involuntariamente, o que tem impacto na sua renda. É um número gritante".

Para a mulher evoluir nos investimentos na proporção da população que representa, conclui Yoshinaga, é necessário avançar nestas pautas.

É possível ver alguns avanços. Na compra de ações a diferença entre os sexos vem diminuindo, ainda que de maneira tímida. Ou seja, as mulheres estão gradualmente diversificando mais a carteira de investimentos. Em 2013, 7% das mulheres investiam em ações e FIIs. Em 2021, o número subiu para 24%, segundo dados da B3.

Minoria entre analistas especializados

Além de a mulher ter menos educação financeira e renda para investir, falta ainda uma maior representatividade feminina do outro lado do balcão. É uma forma a criar identificação e incentivar a mulher a entrar no universo dos investimentos.

Segundo pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) sobre influenciadores de investimentos, existem atualmente 35 influenciadoras femininas que falam sobre educação financeira e investimentos. Apesar de populares, elas ainda somam apenas 12% do total no mercado e se posicionam majoritariamente no início da jornada de investimentos. Enquanto as mulheres representam 34% dos produtores de conteúdo, somam 16,4% dos analistas, 9,1% dos especialistas, 8% de investidores independentes e apenas 3,1% entre os classificados como traders.

Quando olhamos para o público feminino entre os analistas de investimentos certificados, mais uma vez, o porcentual de mulheres diminui quanto maior é a especialização. Apesar de já serem maioria quando levamos em conta a certificação CPA-10 (53%), o porcentual cai para 44% quando são considerados profissionais com CPA-20, 32% quando se trata de certificação CEA, e 7% quando se trata da CGA, que habilita profissionais para atuarem como gestores de fundos de investimento, segundo dados relativos a setembro de 2020 compilados pela Anbima.

Mas há um esforço do mercado financeiro para mudar. Tanto que começam a aparecer vagas exclusivas para analistas de investimentos do sexo feminino.

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