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“Se alguém lhe disser onde investir, fuja”, diz Nathalia Arcuri

Com reality show na TV aberta, youtuber quer levar educação financeira, mas ressalta que é preciso aprender a investir e conhecer objetivos

Nathalia Arcuri: O FGTS e o INSS nada mais são do que reservas forçadas porque a pessoa não é capaz de fazer a própria reserva (Marcelo Spatafora/Divulgação)

Victor Sena

Publicado em 23 de julho de 2019 às 05h15.

Última atualização em 6 de agosto de 2019 às 18h12.

São Paulo - O otimismo em relação à agenda econômica do governo e o cenário de juros baixos fizeram com que a Bolsa se tornasse o assunto do momento. Não é difícil encontrar pessoas que nunca investiram interessadas em renda variável. Mas será que a Bolsa é para todo mundo?

Para a especialista em finanças pessoais e youtuber Nathalia Arcuri, a resposta é simples: não. Para ela, o melhor investimento é aquele que a pessoa conhece. E mais: não existe uma receita pronta.

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“Todo mundo quer saber qual é o melhor investimento. Se alguém lhe disser qual é o melhor, fuja porque essa pessoa não é confiável”, disse Nathalia em entrevista à EXAME.

Para ela, começar a investir não deve ser algo feito da noite para o dia. Além disso, o melhor investimento é aquele que a pessoa sabe fazer.

“A Bolsa não é para amadores. É, pelo menos, para quem estuda o mínimo. A pessoa que entra na Bolsa tem que ter estômago para aguentar as quedas também.”

Mas antes de pensar em investir na Bolsa, a especialista aconselha que o investidor faça primeiro a sua reserva financeira (o valor mínimo de seis meses do custo de vida) em renda fixa, já que os riscos são mais baixos e consequentemente rendimento menor. “ Fez sua reserva e quer aproveitar a alta da Bolsa? Estuda!”

Vivendo “um degrau abaixo”

A partir de outubro, Nathalia apresentará um reality show no canal Band com pessoas endividadas. Serão 12 participantes e 12 episódios. Em cada um, Nathalia vai bater à porta de um brasileiro no vermelho e jogar a real: dá para sair das dívidas e fazer o dinheiro trabalhar por você.

O diferencial do reality show para outros programas do estilo “denúncia” é que a pessoa faz sua própria inscrição, pedindo ajuda. Segundo Nathalia, é preciso querer. Se não, reeducação financeira não funciona.

O caminho de começar a investir e reservar uma poupança só funciona para quem tem alguma consciência financeira. Para quem ainda precisa mudar como enxerga suas finanças, como os futuros participante do reality show, o caminho é outro.

“A primeira etapa é mudar a cabeça. Enquanto a pessoa não se sente proprietária daquele sentimento de que ela pode investir, ter independência financeira e que pode comprar qualquer coisa à vista, dificilmente ela vai entrar nessa de poupar.”

Depois desse primeiro passo de transformação e autoconhecimento é que chega a parte prática, de poupar, estudar e investir.

“Eu falo que o que separa meninas de mulheres é entender o que é a taxa Selic , Tesouro Direto”.

De acordo com Nathalia, a reeducação financeira não pode pular etapas. Não adiantaria dizer para uma pessoa que tem um modelo mental de consumismo para viver com menos, para guardar e viver com o que sobra.

“A pessoa que tem um modelo mental de excesso de gastos é incapaz de viver um degrau abaixo porque ela não vê sentido nisso. Para ela, isso não funciona. Por isso, tem que mudar a cabeça primeiro. Se não, é enxugar gelo.”

Desde que Nathalia criou seu canal, outros surgiram na mesma onda, como O Primo Rico e o Economirna, de Tiago Nigro e Mirna Borges. Alguns independentes, outros vinculados a corretoras digitais. Agora, é possível aprender sobre investimentos nos quatro cantos da internet.

Além de canais no Youtube, corretoras e bancos têm investido pesado em blogs, ebooks e todo tipo de conteúdo educativo. Para Nathalia, o assunto está na boca das pessoas por um conjunção de fatores: influenciadores que desmistificaram o assunto, busca das pessoas por dicas na internet, conteúdo simples e a crise econômica.

De acordo com Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 60% dos brasileiros têm algum tipo de dívida, seja por inadimplência ou financiamento.

O problema das poupanças compulsórias

Na avaliação da youtuber, a falta de educação financeira é grave no Brasil e atinge diferentes faixas de renda. Essa falta de educação financeira refletiria, então, na necessidade de programas compulsórios de poupança do trabalhador, como o FGTS e o INSS . Assim como no Youtube, ela não tem papas na língua para fazer críticas.

“O FGTS e o INSS nada mais são do que reservas forçadas porque a pessoa não é capaz de fazer a própria reserva. A gente tira do povo a possibilidade de fazer uma reserva melhor”

Além desses programas, o número alto de financiamentos e consórcios também são um reflexo da falta de educação financeira.

“Se não tiver ninguém no pescoço dela para cobrar, ela não acha que é capaz de fazer as coisas. Isso para mim é muito triste.”

Nesta semana, o governo federal deve liberar parte do saque de contas ativas e inativas do FGTS, que é uma espécie de poupança de segurança paga pelo empregador ao trabalhador, e só pode ser sacada em situações muito específicas, como demissão por justa causa, compra de um imóvel ou na hora da aposentadoria.

Carreira

Nathalia tem 34 anos e comanda o seu canal de finanças pessoais, o Me Poupe!, é maior do mundo. Ele tem cerca de 3,7 milhões de inscritos e mais de 161 milhões de visualizações somadas. Por lá, a youtuber fala sobre finanças pessoais, explica termos “cabeludos” do mercado financeiro e dá dicas de investimentos.

Seu reality show já teve duas temporadas no Youtube e deve ganhar mais investimento nesta terceira. Agora, também há a Band e a licenciadora e produtora de reality shows Endemol por trás.

O que alguns não sabem é que Nathalia Arcuri já trabalhou na televisão aberta. Formada em jornalismo, ela foi repórter especial na TV Record. Na época, já estudava sobre finanças e investimentos e queria ter um quadro sobre o assunto. Insistiu com a chefia, mas levou um não.

O resultado? Pediu demissão e foi para a internet. No entanto, o desejo de falar sobre gastos, consumismo e investimentos com uma linguagem didática na TV não ficou de lado. A volta era um objetivo.

“Eu nunca tirei isso da cabeça. O Me Poupe! só aconteceu porque eu não me conformei e eu acredito que a educação financeira tem que ser levada para a massa. No Brasil, a TV aberta ainda tem muita força”, conta a youtuber.

Para Nathalia, a volta à TV aconteceu da melhor forma.  Hoje, ela diz que tem “força”. Na época em que tentou emplacar um projeto parecido com os antigos chefes, “ficaria nas mãos da emissora”. Agora, a Band , Nathalia e a Endemol tem o mesmo peso. As inscrições para o reality show já estão abertas e podem ser feitas aqui.

“Não é bem uma volta à TV. Eu sinto que estou indo porque o que eu vou fazer agora é totalmente diferente do que eu fazia lá atrás. Para mim, não é um retorno, é uma chegada.”

Se ela tem medo de haters, que podem se multiplicar? Que nada. “Quem tem trabalha na Internet e não tem haters, não tá fazendo um bom trabalho”.

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