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Saída de Palocci é má notícia para o investidor

Ministro era visto como único capaz de trazer a economia de volta ao eixo se a inflação saísse de controle

Palocci e Dilma: chances de ministro ser demitido cresceram nos últimos dias (Wilson Dias/Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2011 às 18h46.

São Paulo – O mercado viveu dias de turbulência por conta da substituição do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que entregou sua carta de demissão à presidente Dilma Rousseff na tarde desta terça-feira. A situação de Palocci veio se agravando nos últimos dias. Já se sabia que o ministro multiplicou seu patrimônio pessoal por 20 nos últimos quatro anos, prestando, segundo ele, serviços de consultoria a grandes empresas. Na última sexta-feira, o ministro deu uma entrevista ao "Jornal Nacional", mas se recusou a dar detalhes sobre as empresas que lhe contrataram – o que repercutiu mal. No sábado, a revista VEJA revelou que Palocci mora em um apartamento avaliado em 4 milhões de reais registrado em nome de um laranja.

Após uma sequência tão grande de fatos negativos, Palocci perdeu o apoio de partidos aliados, como o PMDB e até mesmo o PT. O ministro conseguiu uma rápida sobrevida porque o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidiu que não levará adiante uma investigação sobre as causas de seu enriquecimento. Mas com a iminente abertura de uma CPI no Congresso para investigá-lo, o ministro preferiu entregar uma carta de demissão a Dilma.

Independentemente da lisura do ministro nos episódios suspeitos, o fato é que sua saída agrega ainda mais incerteza à política econômica do governo – que já é vista com certa desconfiança no mercado. O ministro é considerado por analistas o fiador da continuidade de uma política econômica que funcionou muito bem nas últimas duas décadas. Ele também é visto como uma espécie de "coringa" que poderia ser deslocado para o comando do Ministério da Fazenda caso o Banco Central fracassasse em sua tentativa de trazer a inflação de volta para a meta. Sem o ministro, ninguém sabe até que ponto o governo poderia levar adiante experimentos heterodoxos no combate à inflação ou para a manipulação do câmbio.

Não é possível comparar a eventual saída do ministro neste momento com sua renúncia no primeiro governo Lula devido ao caso de quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. Naquela época, Lula entregou a defesa da estabilidade econômica ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Agora, ninguém no governo parece apto a desempenhar as mesmas funções de Meirelles com a mesma competência. "O problema é que o Palocci é único", diz Mauro Schneider, economista da Banif Corretora.

O mercado simplesmente não confia no ministro da Fazenda, Guido Mantega, porque ele sempre demora demais a tomar medidas para conter a inflação e os gastos públicos. O presidente do BC, Alexandre Tombini, não é visto como alguém com independência e poder suficientes para bater de frente com outros integrantes do governo ou com a presidente Dilma.

Bolsa e juros

Não é à toa que a bolsa despencou 2% e os juros futuros subiram nesta segunda-feira. Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a saída de Palocci só agora começou a ser precificada pelo mercado. Até a semana passada, os investidores ainda acreditavam que o ministro tinha condições de resistir à crise e dar a volta por cima.


Apesar de a substituição de Palocci ter potencial para gerar novas turbulências na bolsa, Walter Maciel, sócio-diretor da Quest Investimentos, acredita que o investidor pode estar diante de uma boa oportunidade para comprar ações com preços atrativos caso haja novas quedas. A saída de Palocci seria traumática se tivesse acontecido em abril, quando a desconfiança do mercado em relação às medidas governamentais de combate à inflação estava no auge.

Agora a situação já é bem melhor. O governo deu "sorte" porque o preço das commodities caiu no mercado internacional com a desaceleração das economias chinesa, americana e europeia. Ao mesmo tempo, a economia brasileira voltou a um patamar mais sustentável de crescimento e a safra agrícola dá sinais de que será generosa. "O Banco Central está novamente diante da oportunidade de se colocar dentro da curva de juros. Basta fazer mais dois aumentos na Selic de 0,25 ponto percentual", afirma.

Maciel alerta, no entanto, que o Ibovespa como um todo de novo não deverá apresentar um resultado muito positivo neste ano. As ações da Petrobras e das siderúrgicas devem continuar a pesar sobre o índice. Cabe ao investidor buscar ações com fundamentos sólidos e preços atrativos para ganhar dinheiro na bolsa. Ele cita como exemplos a Vale (bastante descontada em relação a concorrentes como a BHP e a Rio Tinto), o Itaú (o governo já sinaliza que não adotará mais medidas macroprudenciais), as empresas de consumo (o salário mínimo e diversas categorias terão reajustes salariais vigorosos) e empresas de energia como a Copel e a Cemig (defensivas e com boas perspectivas).

Substituto

Outro fator que deve ser levado em consideração pelo investidor que está interessado em entrar na bolsa é o nome escolhido para substituir Palocci. A presidente Dilma optou por indicar a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro Paulo Bernardo (Planejamento). Para Eduardo Velho, da Prosper, a preferida dos investidores entre os nomes que haviam vazado era o de Miriam Belchior, atual ministra do Planejamento. "Mas o mais importante é colocar alguém comprometido com a estabilidade econômica", diz.

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Após uma sequência tão grande de fatos negativos, Palocci perdeu o apoio de partidos aliados, como o PMDB e até mesmo o PT. O ministro conseguiu uma rápida sobrevida porque o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidiu que não levará adiante uma investigação sobre as causas de seu enriquecimento. Mas com a iminente abertura de uma CPI no Congresso para investigá-lo, o ministro preferiu entregar uma carta de demissão a Dilma.

Independentemente da lisura do ministro nos episódios suspeitos, o fato é que sua saída agrega ainda mais incerteza à política econômica do governo – que já é vista com certa desconfiança no mercado. O ministro é considerado por analistas o fiador da continuidade de uma política econômica que funcionou muito bem nas últimas duas décadas. Ele também é visto como uma espécie de "coringa" que poderia ser deslocado para o comando do Ministério da Fazenda caso o Banco Central fracassasse em sua tentativa de trazer a inflação de volta para a meta. Sem o ministro, ninguém sabe até que ponto o governo poderia levar adiante experimentos heterodoxos no combate à inflação ou para a manipulação do câmbio.

Não é possível comparar a eventual saída do ministro neste momento com sua renúncia no primeiro governo Lula devido ao caso de quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. Naquela época, Lula entregou a defesa da estabilidade econômica ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Agora, ninguém no governo parece apto a desempenhar as mesmas funções de Meirelles com a mesma competência. "O problema é que o Palocci é único", diz Mauro Schneider, economista da Banif Corretora.

O mercado simplesmente não confia no ministro da Fazenda, Guido Mantega, porque ele sempre demora demais a tomar medidas para conter a inflação e os gastos públicos. O presidente do BC, Alexandre Tombini, não é visto como alguém com independência e poder suficientes para bater de frente com outros integrantes do governo ou com a presidente Dilma.

Bolsa e juros

Não é à toa que a bolsa despencou 2% e os juros futuros subiram nesta segunda-feira. Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a saída de Palocci só agora começou a ser precificada pelo mercado. Até a semana passada, os investidores ainda acreditavam que o ministro tinha condições de resistir à crise e dar a volta por cima.


Apesar de a substituição de Palocci ter potencial para gerar novas turbulências na bolsa, Walter Maciel, sócio-diretor da Quest Investimentos, acredita que o investidor pode estar diante de uma boa oportunidade para comprar ações com preços atrativos caso haja novas quedas. A saída de Palocci seria traumática se tivesse acontecido em abril, quando a desconfiança do mercado em relação às medidas governamentais de combate à inflação estava no auge.

Agora a situação já é bem melhor. O governo deu "sorte" porque o preço das commodities caiu no mercado internacional com a desaceleração das economias chinesa, americana e europeia. Ao mesmo tempo, a economia brasileira voltou a um patamar mais sustentável de crescimento e a safra agrícola dá sinais de que será generosa. "O Banco Central está novamente diante da oportunidade de se colocar dentro da curva de juros. Basta fazer mais dois aumentos na Selic de 0,25 ponto percentual", afirma.

Maciel alerta, no entanto, que o Ibovespa como um todo de novo não deverá apresentar um resultado muito positivo neste ano. As ações da Petrobras e das siderúrgicas devem continuar a pesar sobre o índice. Cabe ao investidor buscar ações com fundamentos sólidos e preços atrativos para ganhar dinheiro na bolsa. Ele cita como exemplos a Vale (bastante descontada em relação a concorrentes como a BHP e a Rio Tinto), o Itaú (o governo já sinaliza que não adotará mais medidas macroprudenciais), as empresas de consumo (o salário mínimo e diversas categorias terão reajustes salariais vigorosos) e empresas de energia como a Copel e a Cemig (defensivas e com boas perspectivas).

Substituto

Outro fator que deve ser levado em consideração pelo investidor que está interessado em entrar na bolsa é o nome escolhido para substituir Palocci. A presidente Dilma optou por indicar a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro Paulo Bernardo (Planejamento). Para Eduardo Velho, da Prosper, a preferida dos investidores entre os nomes que haviam vazado era o de Miriam Belchior, atual ministra do Planejamento. "Mas o mais importante é colocar alguém comprometido com a estabilidade econômica", diz.

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