Quais são as vantagens e riscos de parcelar contas rotineiras no cartão de crédito?
Meio de pagamento pode ser vilão ou aliado na hora de fazer compras; entenda os como usar o cartão de crédito a seu favor
EXAME Solutions
Publicado em 24 de novembro de 2023 às 18h45.
Última atualização em 28 de novembro de 2023 às 18h14.
O cartão de crédito é um método que vem crescendo nos últimos anos. De acordo com o Banco Central, em junho de 2022, o número de cartões era quase o dobro da quantidade de pessoas economicamente ativas no Brasil.
Para entender melhor, em 2021, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou que a população economicamente ativa era de 107,4 milhões de pessoas. Em contraste, a quantidade de cartões de crédito naquele mesmo período foi de 190,8 milhões, o que significa que havia quase o dobro de cartões em comparação com o número de pessoas trabalhando no país.
Especialistas dizem que um cartão de crédito pode ser um vilão, mas também pode ser um aliado na hora de fazer dinheiro.
Se a compra for periódica, como gasolina, supermercado, farmácia, e outros itens adquiridos semanal ou mensalmente, não é aconselhável dividir o valor da compra em parcelas, indica Felipe Nascimento, educador financeiro. Isso ocorre porque as parcelas se acumulam ao longo do tempo, resultando em um valor significativo a ser pago, enquanto a necessidade contínua desses itens persiste.
Nesse cenário, é crucial efetuar a transação de uma vez no cartão e assegurar que o valor total da fatura estará disponível na conta na data de vencimento, garantindo o pagamento integral da fatura.
No caso de compras não recorrentes, como roupas, eletroeletrônicos, presentes, entre outros, é recomendável parcelar em várias vezes sem juros, diz Nascimento. Essa abordagem proporciona flexibilidade para efetuar os pagamentos sem comprometer o orçamento.
Já Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finanças, gosta de dividir quem usa o cartão em três grupos.
O público A, caracterizado por uma maior maturidade financeira, compreende esse processo como um meio de acumular benefícios. Eles possuem os recursos provisionados, uma estrutura financeira sólida e uma compreensão clara, evitando assim a criação de dívidas ou o acúmulo de encargos.
O público B, que enfrenta endividamento, utiliza o cartão por falta de alternativas. Para esse grupo, o cartão representa uma solução quando há escassez de recursos.
Há também o grupo C que, devido a crenças, hábitos ou falta de cultura financeira, opta por parcelar compras desnecessariamente. Mesmo tendo capacidade para pagamento à vista, a percepção de pagar menos ao dividir em várias parcelas é atraente. No entanto, essa prática pode levar à acumulação de pequenos gastos, eventualmente resultando em surpresas desagradáveis ao receber a fatura do cartão.
Quais as vantagens de parcelar?
Em situações em que há a necessidade de dividir o valor de compras rotineiras, a principal vantagem é a flexibilidade no pagamento, afirma Felipe Nascimento. Isso permite que o consumidor distribua o custo da compra ao longo de vários meses, o que é particularmente útil quando não se dispõe do valor total no momento da aquisição.
Mesmo para aqueles que têm o valor total disponível, o parcelamento pode ser uma estratégia para preservar a liquidez. Ao optar por pagar em parcelas, o montante total não é retirado da conta de uma só vez, o que possibilita manter o dinheiro disponível para render, estar pronto para emergências ou explorar oportunidades de investimento.
Além disso, o uso do cartão de crédito para compras parceladas oferece benefícios adicionais. Entre eles, a acumulação de pontos ou milhas, e até mesmo a possibilidade de receber cashback em determinadas transações, o que representa uma vantagem financeira adicional.
Outro aspecto a considerar é que o uso do cartão de crédito, seja para compras parceladas ou não, permite consolidar todas as despesas em um só lugar. Isso simplifica a gestão do orçamento, proporcionando uma visão mais clara e organizada dos gastos.
No entanto, é necessário considerar as taxas de juros, caso existam, ao optar pelo parcelamento, para garantir que a flexibilidade oferecida não resulte em um endividamento desnecessário.
Quais os riscos de parcelar?
Um dos principais riscos está associado ao pagamento de juros, o que acaba por aumentar o valor final do produto. Essa taxa adicional pode tornar a aquisição mais dispendiosa do que se o pagamento fosse realizado de forma integral no momento da compra.
Outro risco a ser ponderado é o comprometimento do limite de crédito disponível para novas compras. As operadoras geralmente estabelecem um limite total de crédito, que é gradualmente utilizado a cada compra. Com o parcelamento, o valor total da compra é reservado, impactando o limite disponível até que a fatura seja quitada.
Por exemplo, se o limite é de R$ 10 mil e uma compra parcelada de R$ 6.000 é realizada, apenas R$ 4.000 ficam disponíveis para novas transações. O limite só é restabelecido quando a fatura correspondente é paga. No exemplo, se R$ 1.000 forem pagos na fatura, o limite aumenta para R$ 5.000 no mês seguinte.
Um terceiro risco, já mencionado, é o relacionado ao parcelamento de compras recorrentes. Ao dividir o valor dessas compras ao longo do tempo, as parcelas se acumulam, criando um montante considerável a ser pago. Esse acúmulo pode resultar em dificuldades financeiras no futuro, especialmente quando há a necessidade contínua de adquirir os mesmos itens.
E se não tenho dinheiro para pagar a fatura?
Os cartões de crédito, tanto no sistema rotativo quanto no parcelamento, impõe as mais elevadas taxas de juros, sendo este o principal ponto de preocupação.
O maior risco nesse cenário é a possibilidade de entrar no rotativo, onde as taxas de juros podem chegar a quase 30%, equivalendo a mais de 400% ao ano quando anualizadas, explica Marlon Glaciano. “Esse é o primeiro erro a ser evitado, pois o acúmulo de juros pode se tornar rapidamente exorbitante”.
Uma alternativa mais viável é buscar crédito ou uma linha de empréstimo para quitar a fatura integralmente. Parcelar o cartão ou pagar apenas o valor mínimo e entrar no rotativo pode levar a um ciclo perigoso. No mês seguinte, a incapacidade de pagamento se repete, resultando em uma dívida ainda maior, composta pelos juros do rotativo ou do parcelamento, além da nova fatura.
Essa repetição do ciclo pode transformar uma dívida inicial de R$ 5.000 em um montante muito mais elevado ao longo do ano, atingindo facilmente a cifra de R$ 25 mil ou até R$ 30 mil, dependendo das escolhas feitas.