Casa com lupa: a partir de 2018, preços devem começar a subir (Bet_Noire/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 21 de dezembro de 2016 às 05h00.
Última atualização em 21 de dezembro de 2016 às 11h40.
São Paulo - Apesar de o cenário político e econômico do país não permitir traçar uma previsão clara sobre qual será o desempenho do mercado de imóveis para o ano que vem, em um ponto os especialistas concordam: após uma queda real de 6,25% nos últimos 12 meses, os preços de casas e apartamentos tendem a ficar estáveis em 2017.
No ano que vem, o mercado deve atingir o fundo do poço quando se fala de preços, segundo João da Rocha Lima, professor do Núcleo de Real State da Poli-USP. “Considerando um cenário no qual a economia comece a se recuperar devagar, e a inflação caia, os preços devem ficar estáveis até voltarem a subir”. Além disso, as construtoras já estão com margens bastante apertadas para diminuir preços, diz Lima. “Não há espaço para mais quedas”.
Apesar de ainda não haver no horizonte a previsão de um aumento de renda dos consumidores para incentivar a compra da casa, a expectativa de Flavio Amary, presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), é de que ao menos o nível de desemprego pare de piorar no ano que vem. Nesse cenário, o executivo aponta que empresas preferem deixar os preços estáveis e aguardar uma retomada da economia.
A exceção nesse cenário são empresas que ainda têm estoque de imóveis prontos e precisam de dinheiro. “Essas construtoras querem se livrar dessas unidades o quanto antes. Como consequência, cobrarão preços mais atrativos por elas”, diz Lima. Amary concorda, ainda que, assinala, há menos empresas nessa posição agora do que nos últimos anos.
Apesar de não serem divulgados dados confiáveis sobre o tamanho do estoque de imóveis prontos, que geram mais custos para as empresas, Lima acredita que o problema ainda não foi resolvido por conta de um aumento no cancelamento dos contratos já firmados, que acaba fazendo com que o estoque de imóveis volte a aumentar. No acumulado deste ano até outubro, foram distratadas 37.702 unidades, 33% das unidades entregues pelas construtoras no período.
Geralmente, os contratos de imóveis na planta são cancelados porque o mutuário não consegue financiamento bancário no momento da entrega das chaves, seja porque ficou desempregado ou porque os bancos aumentaram as exigências frente a um aumento na inadimplência e do desemprego.
“Há quem diga que, para cada imóvel vendido, dois contratos são cancelados. Esse problema deve ser solucionado até o final do primeiro semestre de 2017, quando a economia deve começar a melhorar. Mas não temos dados precisos sobre isso”.
Descontos devem continuar
Portanto, o consumidor continuará a ter no ano que vem oferta de imóveis por preços atrativos tanto no mercado de novos como usados.
“Proprietários de imóveis que precisam de dinheiro e não podem esperar pela retomada da economia vão vender o imóvel por um preço menor”, diz Eduardo Schaeffer, presidente do portal de classificados imobiliários Zap Imóveis.
Para evitar a venda em um momento de preços baixos, há quem opte por colocar o imóvel para alugar como forma de evitar custos com condomínio. “Nesses casos, é possível encontrar 40% a 50% de desconto nos valores em contratos de 30 meses, o que é positivo para quem quer alugar”, diz o executivo. "Esperamos que o mercado de aluguel continue aquecido no ano que vem, com descontos médios de 5% a 10% nos valores cobrados".
No entanto, quem quiser comprar uma casa ou apartamento e, para isso, necessite encarar um financiamento imobiliário deve estar confiante na manutenção do seu emprego e renda em um cenário ainda sem sinais claros de recuperação, diz Lima, da Poli-USP.
A volta de um cenário político instável pode postergar a recuperação da economia e, consequentemente, do mercado imobiliário. “O mercado imobiliário depende da confiança do consumidor no longo prazo”, diz Amary, do Secovi.
Schaeffer, do Zap, prevê que os lançamentos devem ser retomados a partir do segundo semestre do ano que vem, quando a queda dos juros deve tornar os financiamentos imobiliários mais baratos e voltar a trazer dinheiro para a poupança, a fonte de financiamento mais importante para o setor.
De janeiro a novembro deste ano, a poupança perdeu mais de 50 bilhões de reais. Com os juros em níveis altos, a tendência é que os investidores migrem para outras aplicações financeiras mais rentáveis. À medida que os juros caiam para 10% no segundo semestre do ano que vem, conforme a previsão de analistas, a caderneta deve voltar a ficar mais atrativa em comparação a outros investimentos conservadores.
Gilberto Duarte, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), confirma que os bancos deixaram de emprestar dinheiro neste ano por falta de recursos. Isso deve ser sanado em 2017 se as reformas necessárias forem aprovadas e o cenário político ficar estável. "São essas questões que vão definir se haverá a recuperação no crédito, bem como a regulamentação de novas fontes de financiamento para o setor”.
Para Amary, do Secovi, no momento em que houver mais clareza com relação ao cenário econômico, a recuperação dos preços dos imóveis deve acontecer de forma rápida. “O aumento dos custos na construção pressiona os preços, assim como a demanda reprimida”.