Por que existe vida além do Ibovespa
Veja como funciona o mais popular índice da bolsa brasileira e descubra as alternativas que vão na contramão do benchmark
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 15h52.
São Paulo – O Ibovespa é a maior referência sobre o sobe e desce da bolsa brasileira. Mesmo quem não acompanha o mercado acaba ouvindo no final do dia que a “bolsa fechou em queda (ou em alta) de...”. Apesar de ser um importante termômetro, muitasvezeso índice é interpretado da forma errada, seja porque o investidor não conhece sua metodologia ou porque acredita que a bolsa se resume ao Ibovespa.
Em um momento de fortes quedas do índice, como o atual, essa distorçãoleva muitos investidores a se assustarem com o mercado de ações e outros tantos anão ousarem entrar em qualquer investimento em bolsa. Mas, emvez de se amedrontar com as oscilações do índice, o investidor deveria entender como funciona esse benchmark e conhecer a bolsa que vai além do Ibovespa.
Como funciona o Ibovespa
O Ibovespa é composto por uma cesta de 71 ações de 65 empresas (algumas empresas têm mais de uma classe de ação) querepresentam 80% dos negócios e volume financeiro no mercado à vista da BM&FBovespa. Entram no índice os ativos que nos 12 meses anteriores foram mais negociados e tiveram maior participação em volume financeiro.“Se duas ações tiveram o mesmo número de negociações, mas a primeira representou um volume de 10 milhões e a segunda de 1 real, a primeira terá maior peso”, explica Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
É por isso que na carteira atual ações como as da Petrobras (preferenciais e ordinárias) têm peso de 10,56%, enquanto as ações da Transmissão Paulista têm peso de 0,29%. A carteira do Ibovespa é modificada a cada quatro meses, quando são reavaliadas as participações de cada ação no índice, assim como a permanência ou exclusão de ativos e a inclusão de novos papéis.
Por que é preciso olhar além do índice
Em primeiro lugar, o Ibovespa não representa todas as ações negociadas em bolsa. Atualmente, 457 empresas são listadas e apenas 65 estão dentro do índice. “A mídia dá muito peso ao Ibovespa. O investidor precisa entender que o Ibovespa é uma medida da bolsa, é um grupo de ações, e não se deve concluir que a economia do país vai bem ou mal por causa dessas 60 empresas”, afirma Samy Dana.
O segundo fator ignorado por alguns investidores sobre o Ibovespa é que uma ação pode entrar no índice ou aumentar sua particpação tanto porque teve um bom desempenho e foi muito comprada por investidores, quanto por ter passado por um momento ruim e ter sido muito vendida, já que nos dois casos o volume de negociação do ativo aumenta.
Foi o que aconteceu com a petrolífera OGX, de Eike Batista. Mesmo com a redução de seu valor de mercado e a acentuada queda de suas cotações, como a ação foi muito negociada por investidores que queriam se desfazer do ativo ou especular sobre ele, no ano passado seu peso passou de 2,3%, em 30/08/2012, para 5,1%, em 03/09/2012, quando começou a vigorar a nova carteira. “Se ocorrem movimentos drásticos de volume, isso influencia o índice na veia” comenta Rodolfo Amstalden, analista-chefe da Empiricus Research.
Dessa forma, quando uma ação com péssimo desempenho ganha maior peso, ela puxa o índice para baixo. A título de comparação, outros índices, como o IBR-X, consideram não só a liquidez, mas o valor de mercado das empresas.
Concentração de setores
A diferença de peso entre as ações também implica a concentração de setores. Com o forte peso de Vale, Petrobras, OGX e MMX, os setores de mineração, petróleo e gás respondem por 25,3% do Ibovespa. Outros 15,9% são apenas do setor financeiro, com Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander. “Pode-se dizer que o Ibovespa tem mais de 60 empresas, mas 10 delas respondem pelo índice quase inteiro. O pequeno investidor raramente faz essa distinção, ele acha que ao investir no Ibovespa está investindo na bolsa inteira”, diz Amstalden.
Diante dessa configuração, o índice fica a mercê de fatores setoriais. Com a crise no cenário externo, por exemplo, o índice tem sido muito prejudicado pela concentração de empresasprodutoras de commodities,já que seus resultados dependem das exportações.
Além da concentração de setores, também há uma concentração de companhias estatais de economia mista, como a Petrobras. Como essas empresas são muitas vezes usadas como instrumento de política pública, o lucro fica em segundo plano e elas ficam sujeitas às canetadas do governo, o que contribui para a volatilidade do índice.
As alternativas
Para se descolar do Ibovespa, o investidor deve fugir dos papéis mais óbvios. O momento é ruim, mas existem ações menos populares que têm andado na contramão do índice.
As ações de maior peso no Ibovespa costumam ter comportamento cíclico. Vão bem quando a economia está bem e vão mal quando o oposto ocorre. Por isso, neste momento uma das alternativas seriam as ações de empresas com características defensivas, que em períodos de alta não sobem na mesma velocidade de outras ações, mas que em momentos de baixa se mantêm mais protegidas.
São ações de empresas líderes de mercado ou de empresas com demanda estável, que conseguem sustentar seus resultados mesmo em cenários negativos, como é o caso das companhias de utilidade pública e de alimentos e bebidas, como a Ambev e o Pão de Açúcar. No site da BM&FBovespa é possível consultar as empresas que se enquadram na categoria de consumo não cíclico e de utilidade pública.
Além das empresas defensivas, outro grupo que costuma se destacar em meio a crises é o das ações de empresas menos negociadas, as small caps. São ações mais voltadas ao mercado interno, que não sofrem tanto com o cenário externo, e que permitem ao investidor comprar setores específicos, que não são tão representados no Ibovespa, como é o caso do setor de consumo.
As ações da Grendene, que não fazem parte do Ibovespa, são um dos exemplos. Elas se valorizaram 99,28% nos últimos 12 meses, ante queda de 16,26% do Ibovespa no mesmo período (de 19/06/2012 a 19/06/2013).
Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, explica que o índice atualmente se encontra defasado justamente por ter um descolamento das empresas de setores que estão com bons resultados. “Não é que o investidor deve virar as costas e não deve olhar mais o Ibovespa, mas ele deve buscar outras empresas de capital aberto que estão sofrendo menos neste momento da economia" afirma.
Wagner Caetano, diretor do Cartezyan, terminal de informações e de negociação no mercado financeiro, defende que o melhor caminho para encontrar boas oportunidades em bolsa é a análise individual das empresas e o desprendimento dos índices. “Além das ações que compõem o Ibovespa existem outras dezenas de ações que têm liquidez e não seguem o comportamento do índice”, diz.
Em outras palavras, o investidor que conseguir fugir do lugar comum e fizer um esforço de análise mais profundo pode conseguir navegar em direção oposta ao Ibovespa, mesmo em um momento em que a maré não está para peixe.
O lado bom do índice
Ainda que a metodologia e a concentração de setores sejam velhas críticas sobre o índice, especialistas defendem sua importância. “Da mesma forma que olhamos para o Ibovespa, olhamos para índices das bolsas da Ásia e dos Estados Unidos. O importante é entender as distinções entre os índices e as bolsas”, diz Amstalden.
Paulo Bittencourt acrescenta que a metodologia do Ibovespa é uma das mais sofisticadas do mundo, mesmo tendo sido criada em 1968. “Nós encontramos distorções porque o momento é complexo no Brasil e como a bolsa é baseada em commodities e em empresas semiestatais, ela vem sofrendo maior ingerência governamental. O problema não é a metodologia do índice, mas as circunstâncias do mercado atual”, avalia.
Segundo ele, os índices mais antigos indicam que suas bolsas possuem consistência, uma vez que as metodologias não mudam ao sabor dos acontecimentos e possibilitam o estudo do histórico do mercado em um longo período, o que não seria possível se as metodologias fossem modificadas com frequência.
São Paulo – O Ibovespa é a maior referência sobre o sobe e desce da bolsa brasileira. Mesmo quem não acompanha o mercado acaba ouvindo no final do dia que a “bolsa fechou em queda (ou em alta) de...”. Apesar de ser um importante termômetro, muitasvezeso índice é interpretado da forma errada, seja porque o investidor não conhece sua metodologia ou porque acredita que a bolsa se resume ao Ibovespa.
Em um momento de fortes quedas do índice, como o atual, essa distorçãoleva muitos investidores a se assustarem com o mercado de ações e outros tantos anão ousarem entrar em qualquer investimento em bolsa. Mas, emvez de se amedrontar com as oscilações do índice, o investidor deveria entender como funciona esse benchmark e conhecer a bolsa que vai além do Ibovespa.
Como funciona o Ibovespa
O Ibovespa é composto por uma cesta de 71 ações de 65 empresas (algumas empresas têm mais de uma classe de ação) querepresentam 80% dos negócios e volume financeiro no mercado à vista da BM&FBovespa. Entram no índice os ativos que nos 12 meses anteriores foram mais negociados e tiveram maior participação em volume financeiro.“Se duas ações tiveram o mesmo número de negociações, mas a primeira representou um volume de 10 milhões e a segunda de 1 real, a primeira terá maior peso”, explica Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
É por isso que na carteira atual ações como as da Petrobras (preferenciais e ordinárias) têm peso de 10,56%, enquanto as ações da Transmissão Paulista têm peso de 0,29%. A carteira do Ibovespa é modificada a cada quatro meses, quando são reavaliadas as participações de cada ação no índice, assim como a permanência ou exclusão de ativos e a inclusão de novos papéis.
Por que é preciso olhar além do índice
Em primeiro lugar, o Ibovespa não representa todas as ações negociadas em bolsa. Atualmente, 457 empresas são listadas e apenas 65 estão dentro do índice. “A mídia dá muito peso ao Ibovespa. O investidor precisa entender que o Ibovespa é uma medida da bolsa, é um grupo de ações, e não se deve concluir que a economia do país vai bem ou mal por causa dessas 60 empresas”, afirma Samy Dana.
O segundo fator ignorado por alguns investidores sobre o Ibovespa é que uma ação pode entrar no índice ou aumentar sua particpação tanto porque teve um bom desempenho e foi muito comprada por investidores, quanto por ter passado por um momento ruim e ter sido muito vendida, já que nos dois casos o volume de negociação do ativo aumenta.
Foi o que aconteceu com a petrolífera OGX, de Eike Batista. Mesmo com a redução de seu valor de mercado e a acentuada queda de suas cotações, como a ação foi muito negociada por investidores que queriam se desfazer do ativo ou especular sobre ele, no ano passado seu peso passou de 2,3%, em 30/08/2012, para 5,1%, em 03/09/2012, quando começou a vigorar a nova carteira. “Se ocorrem movimentos drásticos de volume, isso influencia o índice na veia” comenta Rodolfo Amstalden, analista-chefe da Empiricus Research.
Dessa forma, quando uma ação com péssimo desempenho ganha maior peso, ela puxa o índice para baixo. A título de comparação, outros índices, como o IBR-X, consideram não só a liquidez, mas o valor de mercado das empresas.
Concentração de setores
A diferença de peso entre as ações também implica a concentração de setores. Com o forte peso de Vale, Petrobras, OGX e MMX, os setores de mineração, petróleo e gás respondem por 25,3% do Ibovespa. Outros 15,9% são apenas do setor financeiro, com Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander. “Pode-se dizer que o Ibovespa tem mais de 60 empresas, mas 10 delas respondem pelo índice quase inteiro. O pequeno investidor raramente faz essa distinção, ele acha que ao investir no Ibovespa está investindo na bolsa inteira”, diz Amstalden.
Diante dessa configuração, o índice fica a mercê de fatores setoriais. Com a crise no cenário externo, por exemplo, o índice tem sido muito prejudicado pela concentração de empresasprodutoras de commodities,já que seus resultados dependem das exportações.
Além da concentração de setores, também há uma concentração de companhias estatais de economia mista, como a Petrobras. Como essas empresas são muitas vezes usadas como instrumento de política pública, o lucro fica em segundo plano e elas ficam sujeitas às canetadas do governo, o que contribui para a volatilidade do índice.
As alternativas
Para se descolar do Ibovespa, o investidor deve fugir dos papéis mais óbvios. O momento é ruim, mas existem ações menos populares que têm andado na contramão do índice.
As ações de maior peso no Ibovespa costumam ter comportamento cíclico. Vão bem quando a economia está bem e vão mal quando o oposto ocorre. Por isso, neste momento uma das alternativas seriam as ações de empresas com características defensivas, que em períodos de alta não sobem na mesma velocidade de outras ações, mas que em momentos de baixa se mantêm mais protegidas.
São ações de empresas líderes de mercado ou de empresas com demanda estável, que conseguem sustentar seus resultados mesmo em cenários negativos, como é o caso das companhias de utilidade pública e de alimentos e bebidas, como a Ambev e o Pão de Açúcar. No site da BM&FBovespa é possível consultar as empresas que se enquadram na categoria de consumo não cíclico e de utilidade pública.
Além das empresas defensivas, outro grupo que costuma se destacar em meio a crises é o das ações de empresas menos negociadas, as small caps. São ações mais voltadas ao mercado interno, que não sofrem tanto com o cenário externo, e que permitem ao investidor comprar setores específicos, que não são tão representados no Ibovespa, como é o caso do setor de consumo.
As ações da Grendene, que não fazem parte do Ibovespa, são um dos exemplos. Elas se valorizaram 99,28% nos últimos 12 meses, ante queda de 16,26% do Ibovespa no mesmo período (de 19/06/2012 a 19/06/2013).
Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, explica que o índice atualmente se encontra defasado justamente por ter um descolamento das empresas de setores que estão com bons resultados. “Não é que o investidor deve virar as costas e não deve olhar mais o Ibovespa, mas ele deve buscar outras empresas de capital aberto que estão sofrendo menos neste momento da economia" afirma.
Wagner Caetano, diretor do Cartezyan, terminal de informações e de negociação no mercado financeiro, defende que o melhor caminho para encontrar boas oportunidades em bolsa é a análise individual das empresas e o desprendimento dos índices. “Além das ações que compõem o Ibovespa existem outras dezenas de ações que têm liquidez e não seguem o comportamento do índice”, diz.
Em outras palavras, o investidor que conseguir fugir do lugar comum e fizer um esforço de análise mais profundo pode conseguir navegar em direção oposta ao Ibovespa, mesmo em um momento em que a maré não está para peixe.
O lado bom do índice
Ainda que a metodologia e a concentração de setores sejam velhas críticas sobre o índice, especialistas defendem sua importância. “Da mesma forma que olhamos para o Ibovespa, olhamos para índices das bolsas da Ásia e dos Estados Unidos. O importante é entender as distinções entre os índices e as bolsas”, diz Amstalden.
Paulo Bittencourt acrescenta que a metodologia do Ibovespa é uma das mais sofisticadas do mundo, mesmo tendo sido criada em 1968. “Nós encontramos distorções porque o momento é complexo no Brasil e como a bolsa é baseada em commodities e em empresas semiestatais, ela vem sofrendo maior ingerência governamental. O problema não é a metodologia do índice, mas as circunstâncias do mercado atual”, avalia.
Segundo ele, os índices mais antigos indicam que suas bolsas possuem consistência, uma vez que as metodologias não mudam ao sabor dos acontecimentos e possibilitam o estudo do histórico do mercado em um longo período, o que não seria possível se as metodologias fossem modificadas com frequência.