Os riscos e os erros na hora de diversificar
Diversificar demais ou de forma errada pode reduzir a rentabilidade do seu investimento
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2012 às 07h00.
Última atualização em 2 de março de 2021 às 15h20.
Diversificar, ou “não colocar os ovos na mesma cesta”, como enuncia o lugar-comum do mercado, é um dos mecanismos dos investidores para ganhar um diferencial de rentabilidade e reduzir os riscos da carteira. Mas isso só até certo ponto. Feita da forma incorreta, a diversificação pode até elevar os riscos sem aumentar a rentabilidade, ou mesmo reduzir a lucratividade da carteira. Na melhor das hipóteses, a diversificação além do recomendável torna-se inútil e apenas aumenta o estresse do investidor.
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Não é que existam limites rígidos para diversificar. Mas estudos em finanças já mostraram que não adianta pulverizar demais os investimentos. E mais: o investidor pode pensar que está diversificando, quando na verdade não está. Veja a seguir os principais erros na diversificação que levam o investidor a comprometer sua rentabilidade ou liquidez:
A pulverização pode sair cara
Todo investimento tem um custo. Pulverizar demais as aplicações multiplica esses custos, o que acaba corroendo a rentabilidade. Quanto mais você pulveriza a sua carteira, menores são as quantias aplicadas em cada produto financeiro. Para quem tem pouco dinheiro e aplica em fundos, isso pode ser particularmente nocivo.
Fundos com tíquete menor tendem a ter taxas de administração mais altas que aqueles com tíquete maior. Portanto, pode valer mais a pena aplicar 10.000 reais num bom fundo com uma taxa baixa do que investir 1.000 reais em cinco fundos diferentes e caros.
Outro exemplo é a pulverização dos recursos por diferentes instituições financeiras. Nesse caso, as despesas serão com as transferências de recursos e com a manutenção de todas essas contas. Prefira contas isentas de taxa e instituições que ofereçam diferentes tipos de produtos financeiros, como Tesouro Direto, fundos e títulos de crédito privado (como CDBs e debêntures ), além das ações.
A redundância pesa no bolso
Muitas vezes o investidor pensa que está diversificando e não está; pior, está jogando dinheiro fora. Por exemplo, quem investe no Tesouro Direto e em um fundo de renda fixa conservadora simultaneamente está cometendo uma tremenda redundância. Esses fundos aplicam basicamente em títulos públicos, e cobram uma taxa de administração por isso.
As taxas de administração do Tesouro Direto variam de zero a 1% ao ano, mais uma taxa de custódia de 0,3% ao ano e uma taxa de 0,1% a cada negociação. A taxa de administração média de fundos de renda fixa conservadora é de 0,89%, segundo a Anbima, mas há fundos em que essa taxa chega aos 3% ou 4% ao ano.
ara aplicações conservadoras, especialistas acreditam que o melhor é não pagar mais do que 1% ao ano no total. Como se vê, com os custos listados acima, aplicar em um fundo e no Tesouro Direto pode facilmente ultrapassar essa marca.
Falsa sensação de segurança
Como no exemplo anterior, as redundâncias não só elevam os custos como podem passar uma falsa ilusão de proteção. Um investidor que aplique em dez ações com forte correlação positiva entre si na realidade está concentrando seu risco. Isso porque todos os seus papéis vão caminhar na mesma direção: sob determinadas condições econômicas, eles vão valorizar ou desvalorizar todos juntos.
É o que ocorre, por exemplo, com uma carteira em que todas as ações pertencem a setores da economia voltados para o mercado externo; ou com uma carteira em que todas as ações pertençam a empresas de um mesmo setor.
Ou cujos papéis tenham forte correlação com o Ibovespa, valorizando quando o mercado vai bem e desvalorizando em épocas de estresse. Se as condições econômicas levarem uma ação a desvalorizar, todas as outras vão juntas para o buraco.
O mesmo fenômeno ocorre com outros ativos, especialmente os de renda variável. De nada adianta ter vários imóveis em um mesmo bairro se de repente toda a região começar a desvalorizar por conta do aumento dos índices de violência.
A forma correta de diversificar, nesse caso, é optar por ativos que tenham correlação negativa, balanceando, por exemplo, ações ligadas ao mercado externo e papéis ligados ao mercado interno; ações com chance de valorização e papéis mais defensivos, bons pagadores de dividendos; empresas de petróleo e de companhias aéreas; grandes varejistas importadores e empresas exportadoras. “A ideia é tentar representar todos os setores da economia”, diz o administrador de investimentos Fabio Colombo.
Diversificação em excesso anula a rentabilidade
A diversificação nunca vai anular completamente o risco da carteira. Mas se o investidor conseguir formar um portfólio quase que completamente equilibrado, corre o risco de praticamente anular a sua rentabilidade. “É preciso escolher um viés, ‘apostar’ em alguma tendência do mercado, a fim de conseguir alguma rentabilidade”, diz André Massaro, especialista em finanças pessoais da consultoria MoneyFit.
Ou seja, um pouco de risco, representado por algum desequilíbrio na carteira, é bom e até desejável. O que não se pode é correr risco demais para rentabilidade de menos. Mas se a lucratividade de uma empreitada estiver de acordo com o seu risco, tanto melhor.
A diversificação serve para proteger a carteira. A porção defensiva ajuda o investidor a não perder demais – e até ganhar – caso as expectativas para seus investimentos não se confirmem. “O investidor precisa ter um parâmetro e determinar quais ativos têm potencial de alta e quais são aqueles destinados a funcionar como um seguro da carteira”, diz Fabio Colombo.
Um grande número de ativos pode deixá-lo louco
Aplicar em ativos em excesso não é apenas custoso, mas pode ser pouco rentável em função da dificuldade e do custo para administrar todos eles. “Estudos mostram que o ideal é ter em carteira entre oito e dez ativos. Se quiser aplicar em mais papéis, o investidor vai descambar para ativos com menos liquidez e, portanto, mais arriscados”, diz Samy Dana, professor de finanças da FGV-SP.
Portfólios menores, porém diversificados, tendem a performar melhor do que carteiras com 20 ou 30 papéis. Além disso, os custos aumentam, abalando ainda mais a rentabilidade. “Administrar tudo isso se torna difícil. E o investidor tem que lembrar que o tempo que ele gasta para investir tem custo também”, diz André Massaro.
Há, no mercado, quem defenda apenas apostas certeiras em pouquíssimos ativos. Em geral, são os adeptos da análise técnica e dos trades de curto prazo. Mas para quem deseja investir para prazos mais longos, a diversificação é desejável, desde que não seja exagerada.
Diversificar não significa anular todos os riscos
Existem diferentes tipos de risco, como o risco de crédito, o de liquidez e o de volatilidade. O que a diversificação faz é reduzi-los, não anulá-los. E mitigar um tipo de risco pode significar a elevação de outro. É o que acontece com os títulos públicos.
Ao investir apenas em títulos indexados à Selic – as Letras Financeiras do Tesouro – o investidor terá o menor risco possível: certeza do quanto irá receber e liquidez total para esse tipo de investimento. Porém, caso a taxa de juros entre em um ciclo de queda, esse investidor vai deixar de ganhar o que ele poderia lucrar com os prefixados.
Os títulos prefixados e os indexados à inflação, se adicionados à carteira, ajudarão o investidor a ganhar em qualquer cenário de juros e inflação. Isso representa, de certa forma, uma redução do risco. Por outro lado, esses títulos poderiam ser considerados menos líquidos – não por serem difíceis de vender, mas sim porque, ao vendê-los antes do término do prazo, o investidor corre o risco de perder parte ou até toda a sua rentabilidade. Para complicar, esses títulos costumam ter prazos longos, especialmente aqueles indexados ao IPCA.