O que muda pro investidor com notícias da S&P, Selic e IOF
Acontecimentos importantes da semana podem afetar o pequeno investidor; saiba como interpretá-las
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2013 às 16h51.
São Paulo – Três importantes notícias divulgadas esta semana, que alteraram algumas perspectivas dentro do cenário macroeconômico, também devem impactar o pequeno investidor .
A primeira delas é a redução do IOF para estrangeiros que investem em produtos de renda fixa no Brasil. A segunda é a expectativa de aumento da Selic para um patamar próximo aos 9% até o final do ano, após a divulgação da última ata do Copom. E a terceira foi a redução da perspectiva das condições macroeconômicas brasileiras, de estável para negativa, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
Ainda que seja impossível prever todos os reflexos que essas três questões combinadas podem provocar, algumas possibilidades que se apresentam não devem ser ignoradas por quem já está envolvido com o mercado, ou por quem quer começar a investir em breve.
Conforme mostrado em reportagem recentemente publicada, a isenção do IOF pode gerar um fluxo maior de capital estrangeiro, sobretudo para os investimentos no Tesouro Direto. Como resultado, o investidor que já aplica nos títulos públicos poderá ver um aumento do valor oferecido pelo papel no mercado e pode lucrar com a sua venda antes do vencimento. Por outro lado, quem ainda não investe no Tesouro poderá pagar mais caro por um título com uma remuneração menor, devido ao possível aumento da demanda por esses papéis.
Esse é o cenário apresentado se o investidor trabalhar com a hipótese de aumento do ingresso de investimentos estrangeiros. Mas, apesar da redução da tributação, nada mudou para os estrangeiros em relação ao risco de câmbio. Por mais os juros brasileiros sejam atrativos, dependendo da variação do câmbio, um rendimento de 8% (atual patamar da Selic) convertido em dólares, pode não ser vantajoso.
Somando a questão do IOF à perspectiva de rebaixamento do rating pela S&P, um outro cenário pode se apresentar. Neste outro quadro, os estrangeiros considerariam o investimento no Brasil arriscado e portanto não existiria um aumento do fluxo de moedas, extinguindo-se a possibilidade de valorização dos títulos do Tesouro pelo maior volume de investimentos estrangeiros.
Para Celso Grisi,diretor presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado, se pesadas na balança de um lado a redução do IOF e do outro a revisão da S&P, a redução da tributação deve pesar mais para a decisão do investidor estrangeiro sobre investir ou não no Brasil. “A revisão da S&P não deve abalar os títulos públicos, afinal o Brasil tem fundamentos econômicos positivos e o governo já iniciou algumas correções sobre pontos apontados pela agência. Além disso, a redução da alíquota do IOF estimula o investimento.”
Outro ponto importante a ser observado é a expectativa de alta da Selic. Com a taxa chegando aos 9%, os títulos do Tesouro Direto atrelados à Selic, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), passam a oferecer maiores remunerações. Assim como os fundos referenciados DI, que investem em ativos que seguem a variação do CDI (taxa praticada nos empréstimos feitos entre os bancos, que fica muito próxima à Selic).
“No atual cenário de perspectiva de aumento dos juros, os títulos pós-fixados (LFT) são melhores para o investidor do que os prefixados. Mas, se o investidor tem um objetivo de investir no longo prazo, por exemplo, comprar uma NTN-B que o protege da inflação e paga uma taxa de juros pode ser uma boa opção também”, avalia Marcio Cardoso, sócio-diretor da Título Corretora.
Os títulos prefixados são aqueles que pagam ao investidor uma taxa de juro previamente definida, são as NTN-Fs e as LTNs. Os títulos pós-fixados são as LFTs, que remuneram o investidor de acordo com a variação da Selic. E ainda existem os títulos pré e pós-fixados, que são as NTN-Bs, que pagam uma taxa pré-definida, mais a variação medida pelo IPCA.
Conforme Marcio Cardoso defende, o investidor não deve correr para as LFTs ou para outros produtos apenas considerando as notícias divulgadas nesta semana. Ele ressalta que um movimento não muda sozinho todo um cenário e outras questões, como o perfil do investidor, também estão em jogo.
Segundo ele, apenas o investidor que aceita mais risco deve tomar decisões de investimento apostando na repercussão de algum acontecimento recente. “Sobre as notícias desta semana, por exemplo, não é possível prever quais serão os reflexos porque seria preciso saber também se haverá mesmo rebaixamento do rating, se o dólar vai se valorizar ou não, se a taxa de juros dos EUA pode subir, etc. 'N' variáveis influenciam o comportamento do mercado e não é nada simples mensurar isso, principalmente se a pessoa for leiga”, diz Cardoso.
O cenário macroeconômico e seus reflexos devem ser apenas alguns pontos dentro da avaliação sobre onde investir. O objetivo do investidor, o prazo e o tipo de risco que ele está disposto a aceitar também são fundamentais para a escolha da aplicação.
Renda variável
Se entre os investimentos em renda fixa não é possível ter grandes certezas sobre o impacto do noticiário da semana, na renda variável, que flutua ainda mais ao sabor do ânimo dos investidores, prever o comportamento dos investimentos pode ser ainda mais complicado. Mesmo assim, estudar as possibilidades é sempre melhor do que ignorá-las e faz parte do jogo para quem investe.
Celso Grisi acredita que os novos acontecimentos sugerem uma perspectiva positiva para a renda fixa, mas negativa para a renda variável. “No médio prazo a curva de juros aponta que a Selic deve chegar aos 9%. Isso beneficia muito os títulos atrelados à Selic e os títulos privados que vão remunerar o investidor com base na Selic, então haverá uma migração clara de investidores para esta área. Já na renda variável, a Bolsa já está 'baleada' e o maior viés negativo da S&P prejudica ainda mais a situação”, diz.
Grisi conclui ainda que o fraco desempenho da economia, que já vem há algum tempo pesando sobre o mercado acionário brasileiro, deve continuar afugentando os investidores estrangeiros.
Acompanhar o fluxo de capital estrangeiro é importante, mesmo para o investidor individual, porque o volume de investimentos estrangeiros representa uma parcela importante das negociações em Bolsa. Isso significa que a saída ou entrada de investidores de outros países influencia o movimento do mercado.
Marcio Cardoso, da Título Corretora, avalia que a S&P não falou nenhuma novidade, apenas reafirmou o sentimento dos investidores em relação ao Brasil. Por isso, ele não acredita em um impacto tão direto da notícia sobre a postura dos investidores estrangeiros em relação à Bolsa. “Houve um aviso, que já vem sendo percebido pelo governo, de que mudanças precisam ser feitas. Mas tudo depende muito do comportamento juros lá fora, se o FED (banco central americano) vai de fato reduzir politica de estímulos, se vai haver aumento das taxas de juros, etc.”.
Ele acrescenta que os fatores que definem o apetite do estrangeiro vão muito além do posicionamento da S&P e estão ligados à estabilidade da economia e às suas perspectivas.
São Paulo – Três importantes notícias divulgadas esta semana, que alteraram algumas perspectivas dentro do cenário macroeconômico, também devem impactar o pequeno investidor .
A primeira delas é a redução do IOF para estrangeiros que investem em produtos de renda fixa no Brasil. A segunda é a expectativa de aumento da Selic para um patamar próximo aos 9% até o final do ano, após a divulgação da última ata do Copom. E a terceira foi a redução da perspectiva das condições macroeconômicas brasileiras, de estável para negativa, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
Ainda que seja impossível prever todos os reflexos que essas três questões combinadas podem provocar, algumas possibilidades que se apresentam não devem ser ignoradas por quem já está envolvido com o mercado, ou por quem quer começar a investir em breve.
Conforme mostrado em reportagem recentemente publicada, a isenção do IOF pode gerar um fluxo maior de capital estrangeiro, sobretudo para os investimentos no Tesouro Direto. Como resultado, o investidor que já aplica nos títulos públicos poderá ver um aumento do valor oferecido pelo papel no mercado e pode lucrar com a sua venda antes do vencimento. Por outro lado, quem ainda não investe no Tesouro poderá pagar mais caro por um título com uma remuneração menor, devido ao possível aumento da demanda por esses papéis.
Esse é o cenário apresentado se o investidor trabalhar com a hipótese de aumento do ingresso de investimentos estrangeiros. Mas, apesar da redução da tributação, nada mudou para os estrangeiros em relação ao risco de câmbio. Por mais os juros brasileiros sejam atrativos, dependendo da variação do câmbio, um rendimento de 8% (atual patamar da Selic) convertido em dólares, pode não ser vantajoso.
Somando a questão do IOF à perspectiva de rebaixamento do rating pela S&P, um outro cenário pode se apresentar. Neste outro quadro, os estrangeiros considerariam o investimento no Brasil arriscado e portanto não existiria um aumento do fluxo de moedas, extinguindo-se a possibilidade de valorização dos títulos do Tesouro pelo maior volume de investimentos estrangeiros.
Para Celso Grisi,diretor presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado, se pesadas na balança de um lado a redução do IOF e do outro a revisão da S&P, a redução da tributação deve pesar mais para a decisão do investidor estrangeiro sobre investir ou não no Brasil. “A revisão da S&P não deve abalar os títulos públicos, afinal o Brasil tem fundamentos econômicos positivos e o governo já iniciou algumas correções sobre pontos apontados pela agência. Além disso, a redução da alíquota do IOF estimula o investimento.”
Outro ponto importante a ser observado é a expectativa de alta da Selic. Com a taxa chegando aos 9%, os títulos do Tesouro Direto atrelados à Selic, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), passam a oferecer maiores remunerações. Assim como os fundos referenciados DI, que investem em ativos que seguem a variação do CDI (taxa praticada nos empréstimos feitos entre os bancos, que fica muito próxima à Selic).
“No atual cenário de perspectiva de aumento dos juros, os títulos pós-fixados (LFT) são melhores para o investidor do que os prefixados. Mas, se o investidor tem um objetivo de investir no longo prazo, por exemplo, comprar uma NTN-B que o protege da inflação e paga uma taxa de juros pode ser uma boa opção também”, avalia Marcio Cardoso, sócio-diretor da Título Corretora.
Os títulos prefixados são aqueles que pagam ao investidor uma taxa de juro previamente definida, são as NTN-Fs e as LTNs. Os títulos pós-fixados são as LFTs, que remuneram o investidor de acordo com a variação da Selic. E ainda existem os títulos pré e pós-fixados, que são as NTN-Bs, que pagam uma taxa pré-definida, mais a variação medida pelo IPCA.
Conforme Marcio Cardoso defende, o investidor não deve correr para as LFTs ou para outros produtos apenas considerando as notícias divulgadas nesta semana. Ele ressalta que um movimento não muda sozinho todo um cenário e outras questões, como o perfil do investidor, também estão em jogo.
Segundo ele, apenas o investidor que aceita mais risco deve tomar decisões de investimento apostando na repercussão de algum acontecimento recente. “Sobre as notícias desta semana, por exemplo, não é possível prever quais serão os reflexos porque seria preciso saber também se haverá mesmo rebaixamento do rating, se o dólar vai se valorizar ou não, se a taxa de juros dos EUA pode subir, etc. 'N' variáveis influenciam o comportamento do mercado e não é nada simples mensurar isso, principalmente se a pessoa for leiga”, diz Cardoso.
O cenário macroeconômico e seus reflexos devem ser apenas alguns pontos dentro da avaliação sobre onde investir. O objetivo do investidor, o prazo e o tipo de risco que ele está disposto a aceitar também são fundamentais para a escolha da aplicação.
Renda variável
Se entre os investimentos em renda fixa não é possível ter grandes certezas sobre o impacto do noticiário da semana, na renda variável, que flutua ainda mais ao sabor do ânimo dos investidores, prever o comportamento dos investimentos pode ser ainda mais complicado. Mesmo assim, estudar as possibilidades é sempre melhor do que ignorá-las e faz parte do jogo para quem investe.
Celso Grisi acredita que os novos acontecimentos sugerem uma perspectiva positiva para a renda fixa, mas negativa para a renda variável. “No médio prazo a curva de juros aponta que a Selic deve chegar aos 9%. Isso beneficia muito os títulos atrelados à Selic e os títulos privados que vão remunerar o investidor com base na Selic, então haverá uma migração clara de investidores para esta área. Já na renda variável, a Bolsa já está 'baleada' e o maior viés negativo da S&P prejudica ainda mais a situação”, diz.
Grisi conclui ainda que o fraco desempenho da economia, que já vem há algum tempo pesando sobre o mercado acionário brasileiro, deve continuar afugentando os investidores estrangeiros.
Acompanhar o fluxo de capital estrangeiro é importante, mesmo para o investidor individual, porque o volume de investimentos estrangeiros representa uma parcela importante das negociações em Bolsa. Isso significa que a saída ou entrada de investidores de outros países influencia o movimento do mercado.
Marcio Cardoso, da Título Corretora, avalia que a S&P não falou nenhuma novidade, apenas reafirmou o sentimento dos investidores em relação ao Brasil. Por isso, ele não acredita em um impacto tão direto da notícia sobre a postura dos investidores estrangeiros em relação à Bolsa. “Houve um aviso, que já vem sendo percebido pelo governo, de que mudanças precisam ser feitas. Mas tudo depende muito do comportamento juros lá fora, se o FED (banco central americano) vai de fato reduzir politica de estímulos, se vai haver aumento das taxas de juros, etc.”.
Ele acrescenta que os fatores que definem o apetite do estrangeiro vão muito além do posicionamento da S&P e estão ligados à estabilidade da economia e às suas perspectivas.