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Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 11h28.
Entre as pessoas físicas que atuam no mercado financeiro devemos diferenciar claramente o investidor profissional e o poupador. O primeiro dispõe de recursos suficientes que o cercam de informações para buscar as melhores alternativas de investimento. O segundo tem sua origem ainda nos tempos de inflação descontrolada, quando a busca por proteção para o salário era a primeira preocupação.
Este fato determinou, à época, uma busca por operações de renda fixa, fundamentalmente lastreadas em títulos governamentais. O cenário exigia do investidor a necessidade imediata de retiradas de recursos, criando uma cultura de "liquidez diária". Mesmo após convivermos com a inflação mais baixa, a enorme taxa de juros real praticada permitia a este grupo a manutenção do perfil utilizando-se dos fundos de investimento DI.
O dilema do poupador começa com a sofisticação do mercado e a redução de juros. Se sua única preocupação ainda é proteção de salário e pequenas economias, em princípio, nada muda, pois há o abandono da garantia de "liquidez diária". Mas se o processo é realmente a formação de poupança, constantes notícias sobre o desempenho das bolsas de valores colocam em dúvida a manutenção de atitude conservadora.
Em 2006, o mercado de instrumentos de crédito teve um crescimento expressivo por meio de debêntures, de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) em busca de juros maiores. Também os fundos multimercado voltaram a apresentar significativa valorização.
A perspectiva para 2007 aponta para um aumento da oferta de processos atrelados ao crédito que será alimentado tanto pela demanda de investidores externos quanto pelo mercado nacional. Ao poupador não restará alternativa senão deixar, pelo menos em parte, o porto seguro dos fundos DI em direção a outros investimentos.
Convém notar que o acesso a aplicações baseadas em crédito ainda é um processo restrito. Apenas para exemplificar, os FIDCs são disponíveis somente para investidores qualificados, ou seja, aqueles que tenham mais de 300 000 reais aplicados no mercado financeiro. CRIs e debêntures também apresentaram, até agora, restrições semelhantes, todavia, o mercado e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) têm buscado uma maior democratização do acesso a estes instrumentos, com debêntures padronizadas, simplificadas e CRIs para distribuição em varejo. Um exemplo disso foram as debêntures do BNDESPAR oferecidas no final de 2006.
Resta, portanto, ao poupador, o caminho do segmento de rendas variáveis. Os fundos de investimento, temperados com aplicações em fundos multimercado mais agressivos ou os clubes de investimentos são opções para a diversificação.
Dessa forma, o tempo em que uma aplicação era feita e mantida por longos períodos em fundos de renda fixa atrelados ao CDI já passou. O poupador que soube se adaptar às necessidades das incertezas econômicas deverá se adequar agora à era de uma economia mais estável, onde o binômio retorno e risco crescentes voltam a imperar.
* Antonio Corrêa Bosco é diretor de operações da BER - Boa Esperança Recebíveis